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Em um procedimento controverso, cientistas tentam enviar mensagens para civilizações alienígenas

Há 70 anos o projeto SETI tenta, sem sucesso, captar sinais de rádio de vidas inteligentes alienígenas. Agora, o projeto METI dará um passo além enviando uma mensagem de “boas-vindas” para o espaço através de um super radiotelescópio de 500 metros de diâmetro.

Em um procedimento controverso, cientistas tentam enviar mensagens para civilizações alienígenas -

Imagem: Kanenori em Pixabay

Uma pessoa perdida em um local deserto tem duas opções: (1) procurar por alguém ao seu redor; (2) facilitar sua localização acendendo uma fogueira ou escrevendo a palavra “AJUDA” em letras grandes. Os cientistas interessados em encontrar vidas inteligentes alienígenas pretendem utilizar as duas opções.

Há mais de 70 anos, os astrônomos vêm procurando por sinais visuais (ou de rádio) de outras civilizações em busca de inteligência extraterrestre, através de um projeto chamado SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence). Os integrantes desse projeto são cientistas confiantes de que a vida possa também ter prosperado em alguns dos outros 300 milhões de mundos potencialmente habitáveis da Via Láctea.

Além disso, esses cientistas acham que há uma boa chance de que algumas dessas formas de vida tenham desenvolvido inteligência e tecnologia. Contudo, apesar dos esforços, nenhum sinal de outra civilização foi detectado até agora, um mistério que os cientistas chamam de “O grande silêncio”.

Para complementar o projeto SETI, os pesquisadores estão desenvolvendo outro projeto, menos convencional, chamado METI (Messaging Extraterrestrial Intelligence) que tentará enviar mensagens para civilizações alienígenas.

Nos próximos meses, duas equipes de astrônomos do projeto METI enviarão mensagens ao espaço na tentativa de se comunicar com vidas inteligentes alienígenas que possam estar ouvindo. O procedimento será como construir uma grande fogueira na floresta e esperar que alguém (ou algo) nos encontre.

Alguns estudiosos estão questionando se é prudente fazer isso.

A história do METI

As primeiras tentativas de contato com vidas inteligentes alienígenas eram mais parecidas com o ato de enviar uma mensagem em uma garrafa.

Em 1972, a NASA lançou a sonda Pioneer 10 para explorar Júpiter carregando uma placa com um desenho de um homem e uma mulher, além de símbolos para mostrar a origem da nave.

Placa anexada à sonda Pioneer 10.
Imagem: NASA HQ Wikimedia Commons.

Em 1977, a NASA anexou os famosos Golden Records às sondas Voyager 1 e Voyager 2, discos de ouro contendo sons e imagens selecionadas, que mostram a diversidade da vida na Terra a qualquer forma de vida inteligente alienígena que os encontrem.

A esquerda, um modelo do disco de outro que está nas sondas Voyager 1 e 2. A direita, capa do disco.
Imagem: NASA JPL em Wikimedia Commons.

Especialistas afirmam, no entanto, que essas sondas, que já deixaram o Sistema Solar, têm uma chance minúscula de serem encontradas na imensidão do espaço, assim como qualquer outro objeto físico perdido.

Para enviar mensagens para o espaço, ondas eletromagnéticas são bem mais eficientes que sondas à deriva, pois funcionam como um “farol na escuridão”.

Os astrônomos transmitiram a primeira mensagem de rádio, especialmente para alienígenas, do Observatório de Arecibo em Porto Rico em 1974. Na ocasião foram transmitidas informações simples sobre a humanidade e a biologia terrestre para o aglomerado globular M13. Como M13 está a 25.000 anos-luz de distância, talvez não devêssemos aguardar por uma resposta tão cedo.

Além das tentativas intencionais de enviar mensagens a alienígenas, devemos considerar também os sinais de transmissão de rádio e TV que vazaram para o espaço por quase um século de forma não intencional. Isso significa que, independente de querermos ou não, ruídos produzidos pela Terra estão atingindo milhões de estrelas nesse momento.

Obviamente, há uma grande diferença entre as transmissões intencionais por projetores de alta potência e as transmissões não intencionais difusas de programas de rádio e TV, que após deixarem o Sistema Solar, se tornam tão fracas que mesmo os ruídos remanescentes do Big Bang conseguem ofuscá-las.

Enviando novas mensagens

Agora, quase meio século após a mensagem de Arecibo, duas equipes de astrônomos estão planejando novas tentativas de comunicação alienígena.

Uma das equipes pretende enviar mensagens para o espaço através do maior radiotelescópio do mundo, na China, em 2023. O telescópio, com 500 metros de diâmetro, emitirá uma série de pulsos de rádio em uma ampla faixa do céu, que reproduzirão 0s e 1s, da mesma forma que os bits computacionais.

 Tianyan ou “O olho do Céu”, o maior radiotelescópio do mundo, na China.
Imagem: Rodrigo con la G em Wikimedia Commons

A mensagem que será enviada está sendo chamada de “The Beacon in the Galaxy” e incluirá números primos, operadores matemáticos, dados da bioquímica da vida, formas humanas e a localização da Terra. A equipe está enviando a mensagem para um grupo de milhões de estrelas perto do centro da Via Láctea, distantes entre 10.000 a 20.000 anos-luz da Terra.

Embora essa estratégia maximize a probabilidade de se encontrar uma civilização inteligente alienígena, levará dezenas de milhares de anos até que a Terra receba uma resposta.

A outra equipe se concentrará em apenas uma única estrela, mas com potencial para uma resposta muito mais rápida. Em 4 de outubro de 2022, uma equipe da Estação Terrestre Goonhilly Satellite na Inglaterra enviará uma mensagem para a estrela TRAPPIST-1.

Merlin, a maior antena do Goonhilly Satellite Earth Station, na Inglaterra.
Imagem: Alison Cassidy em Wikimedia Commons.

Esta estrela tem sete planetas, três dos quais semelhantes à Terra que se encontram na chamada “Zona habitável”, uma região da órbita, proporcional à massa da estrela, onde planetas podem abrigar água líquida e potencialmente a vida.

Concepção artística de TRAPPIST-1.
Imagem: NASA JPL-Caltech em Wikimedia Commons

TRAPPIST-1 está a apenas 39 anos-luz de distância, logo poderíamos aguardar “apenas” 78 anos para recebermos a resposta de possíveis vidas inteligentes alienígenas.

Questões éticas

A possibilidade de estarmos forçando um possível primeiro contato alienígena levantou uma série de questões éticas.

Em primeiro lugar: quem fala pela Terra? Na ausência de uma consulta pública internacional, as decisões sobre qual mensagem enviar e para onde enviá-la podem ficar nas mãos de um pequeno grupo de cientistas?

Além disso, forçar um primeiro contato levanta uma questão ainda mais perturbadora. Se você está perdido em um local deserto, ser encontrado será uma coisa boa, MAS SOMENTE SE você não estiver correndo o risco de ser descoberto por alguém ou algo ruim antes. Alguns estudiosos têm esse mesmo receio em relação a uma mensagem enviada para o espaço profundo, pois não se sabe quem irá recebê-la.

Antes de morrer, o icônico físico Stephen Hawking falou abertamente sobre o perigo de entrar em contato com alienígenas com tecnologia superior. Ele alertou que se eles forem malignos, ao descobrirem a localização da Terra poderiam destruir a humanidade. Alguns especialistas argumentam que isso não faz sentido, pois uma civilização realmente avançada já saberia de nossa existência.

Como, até o momento, nenhum regulamento internacional rege o METI, os experimentos continuarão, apesar das preocupações.

Por enquanto, os alienígenas inteligentes só existem em trabalhos de ficção científica, como no livro “The Three-Body Problem” de Cixin Liu, que oferece perspectivas sombrias e misteriosas sobre as consequências de mensagens transmitidas para o espaço, como as do projeto METI.

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Vídeos

Extraterrestres: físico alerta para o risco da comunicação com alienígenas
Devemos tentar nos comunicar com alienígenas?
Vídeo: Canal “Olhar Digital” em Youtube.
TENTANDO CONTATO COM CIVILIZAÇÕES EM TRAPPIST-1!!!
Sérgio Sacani fala sobre os projetos SETI e METI.
VídeoCanal “Space Today” em Youtube.

Referências

IMPEY, C. Blasting out Earth’s location with the hope of reaching aliens is a controversial idea – two teams of scientists are doing it anyway. The Conversation, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 maio 2022.

Cite-nos

SANTOS, Gabriel. Dois grupos de cientistas tentarão mostrar aos aliens a localização da Terra. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, maio 2022. Disponível em: . Acesso em: .


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.