Na vastidão árida do deserto de Puna de Atacama, no noroeste da Argentina, pesquisadores descobriram um ecossistema único que pode nos dar uma visão dos estágios iniciais da vida na Terra e, possivelmente, em Marte.
A Puna de Atacama, uma vasta planície desértica situada a mais de 3.660 metros acima do nível do mar, apresenta condições ambientais extremas, como alta altitude, aridez e intensa radiação solar.
Esses fatores convergentes criam um habitat árduo, no qual poucas formas de vida conseguem subsistir.
Contudo, recentemente, imagens de satélite revelaram a presença de lagoas cristalinas e planícies salinas, formando um ecossistema que surpreendeu os pesquisadores pela sua singularidade.
Doze lagoas rasas, circundadas por montanhas, compõem esse ecossistema, estendendo-se por 25 acres no deserto de Puna de Atacama.
A surpresa reside nos pequenos montes submersos nessas lagoas, cobertas por micróbios que, à primeira vista, assemelham-se às formas de vida mais antigas conhecidas na Terra.
A descoberta ocorreu por acaso, quando os pesquisadores identificaram essas estruturas incomuns nas imagens de satélite da região.
Os montes subaquáticos, medindo cerca de 4,6 metros de largura e com altura considerável, apresentam semelhanças com os estromatólitos, comunidades microbianas cujas secreções se solidificam em camadas de rocha.
Os pesquisadores desconfiam que esses estromatólitos sejam semelhantes aos que existiam na Terra há bilhões de anos, durante o período Arqueano, quando a atmosfera carecia de oxigênio.
Além de proporcionar uma visão única da vida primitiva na Terra, os pesquisadores sugerem que essas formações podem lançar luz sobre possíveis formas de vida em Marte.
As condições adversas e a composição dos montes sugerem que eles poderiam ser análogos a estruturas que poderiam ter existido em Marte no passado.
A presença de cianobactérias fotossintéticas nas camadas externas e comunidades de arqueias no núcleo desses montes sugere uma complexidade microbiana similar à que se acredita ter existido em eras antigas na Terra.
No entanto, a euforia inicial é atenuada pela realidade pragmática do atual destino desse ecossistema.
As lagoas de Atacama encontram-se em uma região arrendada para atividades de mineração de lítio, indicando que esse ambiente singular pode desaparecer em um futuro próximo.
Os pesquisadores alertam para a urgência de documentar e preservar essas descobertas antes que se percam para sempre.
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Deep within an inhospitable desert, a window to first life on Earth. CU Boulder Today, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 20 dez 2023.
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SANTOS, Fábio. Micróbios do Atacama podem estar imitando início da vida em Marte. Ciência Mundo, dez 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.