A China está planejando uma nova iniciativa para evitar ameaças de potenciais impactos de asteroides na Terra, disse o ministro da defesa chinês, Wu Yanhua, no dia 24/04/2022, à agência de notícias russa TASS.
Os pesquisadores chineses pretendem iniciar os primeiros testes de tecnologias, antes do final do 14º Plano Quinquenal da China (2021-2025) — programa de governo, elaborado a cada cinco anos, onde são apresentados os próximos objetivos e metas econômicas do país.
A Administração Nacional do Espaço da China (CNSA) ainda não deu detalhes claros do projeto, mas afirmou que está trabalhando em um sistema de alerta antecipado onde a detecção de asteroides ameaçadores faria soar automaticamente alarmes. Além disso, em sua última declaração, o ministro da defesa chinês afirmou que eles estariam desenvolvendo um método de desvio de rotas ameaçadoras através de “pequenas colisões”.
A ameaça dos asteroides
O impacto de um asteroide é um dos piores desastres naturais que poderia acontecer na Terra, com consequências de destruição que excedem qualquer outra catástrofe. O dano desses impactos varia com base em diversos fatores, sendo o tamanho do objeto o aspecto mais preocupante.
Segundo a NASA, impactos de objetos com 140 metros ou mais de diâmetro são uma grande ameaça à vida na Terra. Um asteroide de 140 metros liberaria energia equivalente a 1.000 bombas atômicas. Já um asteroide com 300 metros de largura — como o asteroide Apophis — poderia destruir um continente inteiro. Um asteroide com mais de um quilômetro de largura — como o 138971 (2001 CB21), que passou pela Terra no início de março — poderia desencadear um cataclismo mundial.
Devemos notar, no entanto, que mesmo pequenos asteroides têm potencial para causar grandes danos. Além disso, há muitos deles passando por nós a todo instante. Os asteroides são um dos objetos mais numerosos do Sistema Solar, com mais de 1.113.000 devidamente identificados.
Como desviar os asteroides?
Apesar dos filmes de ficção sugerirem que asteroides poderiam ser destruídos através de bombas atômicas, a maioria dos cientistas pensa que isso seria uma má ideia. No mundo real, o único projeto colocado em prática até agora foi o Double Asteroid Redirection Test (DART), uma iniciativa da NASA e da Universidade John Hopkins.
A missão DART pretende atingir uma pequena lua do asteroide binário 65803 Didymosbusca com uma sonda em Setembro de 2022. O objetivo é estudar o asteroide principal e depois tentar alterar a trajetória de sua lua, atingindo-a com a própria sonda a uma velocidade suficiente para mudar sua direção em um por cento. A NASA comparou o experimento a uma “guerra de travesseiros na microgravidade”.
Apesar da missão DART estar em foco no momento, sendo o único grande projeto a ter passado do estágio teórico, outras ideias também foram sugeridas.
Uma proposta feita por pesquisadores do Centro Nacional de Ciências Espaciais da China em 2021 afirmou que o uso de 23 foguetes Long March 5, os maiores foguetes da China, poderia ser eficaz em alterar a trajetória de um asteroide em uma distância 1,4 vezes o raio da Terra.
Segundo Alan Fitzsimmons — do Centro de Pesquisa em Astrofísica da Queen’s University Belfast — A proposta chinesa é transformar o estágio superior do foguete de lançamento em um “impactador cinético teleguiado”, para desviar asteroides. Segundo Fitzsimmons, a ideia é aumentar ao máximo a massa que atingirá o asteroide para garantir um efeito físico melhor.
Outra ideia proposta pela empresa europeia Airbus seria sequestrar e redirecionar satélites de TV, usando um módulo especial de deflexão cinética para direcionar e impulsionar o satélite em direção a um asteroide — uma sugestão mais emergencial do que as duas anteriores, que precisariam de mais tempo para implementação.
Outra proposta tradicional feita por cientistas da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, sugeriu o uso de penetradores cinéticos de hipervelocidade para “pulverizar” o asteroide, cortando-o em pedaços menores para evitar um grande impacto. As missões compreenderiam o enviou de penetradores (alguns cheios de explosivos) para o núcleo do asteroide, fraturando-o em pequenos pedaços de menos de 15 metros de diâmetro, que, se não forem desviados para longe, se dissolverão em sua (re)entrada na atmosfera.
Apesar de todos esses métodos ainda serem teóricos, a missão DART será um ótimo experimento que lançará luz sobre as estratégias que funcionam (e as que não funcionam também).
As ambições espaciais da China
O anúncio do projeto de defesa de asteroides da China está alinhado com as ambições de Pequim em relação ao espaço.
A China, que pretende se tornar uma potência espacial até 2030, já lançou com sucesso sondas para explorar Marte e se tornou o primeiro país a pousar uma espaçonave no lado oculto da Lua. Atualmente, os chineses também estão montando sua própria estação espacial em órbita.
A maior motivação da China para seus empreendimentos espaciais está na possibilidade de se extrair energia e materiais através da mineração espacial.
Segundo o ex-analista espacial da CIA Tim Chrisman, “o espaço contém quantidades ilimitadas de energia e matérias-primas, desde o combustível hélio-3 na Lua para reatores de fusão limpa, até metais pesados e gases voláteis nos asteroides, que podem ser colhidos para uso na Terra ou no próprio espaço”.
Em termos de avanços militares, a China também se esforça para se tornar uma força dominante espacial, uma área onde os EUA podem ficar para trás, alertou Chrisman.
Vídeos
Vídeo: Canal “Olhar Digital” em Youtube.
Notícias
China developing means of saving Earth from asteroids – report. Jerusalem Post, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 25 abr. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. China apresenta mais uma alternativa para salvar a Terra de asteroides. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, abr. 2022. Disponível em: . Acesso em: .
Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.
