Uma descoberta surpreendente feita pela sonda Mars Express da Agência Espacial Europeia (ESA) revelou grandes depósitos de gelo de água enterrados a mais de 3 quilômetros abaixo do equador de Marte.
Essa reserva de água gelada é tão extensa que, se derretida, seria capaz de cobrir todo o planeta vermelho com um oceano raso.
A Mars Express, que está em operação científica ao redor de Marte há duas décadas, fez a descoberta usando seu radar subsuperficial, chamado MARSIS.
Os depósitos detectados têm entre 1 e 3 metros de profundidade e se encontram sob a forma de gelo poeirento, enterrado sob o equador marciano.
Este achado representa a maior quantidade de gelo de água já identificada nesta região.
Thomas Watters, do Instituto Smithsonian nos Estados Unidos, líder da pesquisa, destacou que os sinais de radar correspondem aos esperados para gelo em camadas, semelhantes aos sinais observados nos polos de Marte.
Os depósitos estendem-se por 3,7 km e são cobertos por uma camada de cinzas endurecidas e poeira seca.
Embora essa localização seja mais acessível para futuras missões tripuladas, a profundidade em que se encontram torna o acesso a essa água de gelo desafiador.
A origem desses depósitos remonta a formações geológicas chamadas Medusae Fossae Formation (MFF), que se suspeita terem se formado nos últimos 3 bilhões de anos a partir de fluxos de lava e cobertas por cinzas vulcânicas.
A densidade e transparência dos depósitos indicam fortemente que não são apenas poeira, mas gelo de água contaminado por poeira.
Essa descoberta levanta perguntas sobre a formação desses depósitos de gelo, a história climática de Marte e como o gelo acabou enterrado no equador.
A presença de água subsuperficial em latitudes mais baixas e equatoriais sugere que o clima marciano foi significativamente diferente no passado distante.
A existência desses depósitos pode ser resultado das variações no eixo de inclinação de Marte ao longo do tempo.
Atualmente inclinados em 25 graus em relação ao plano orbital, os polos marcianos podem ter tido inclinações tão baixas quanto 10 graus ou tão altas quanto 60 graus no passado.
Durante períodos de alta obliquidade, o gelo de água poderia se formar na superfície do equador e ser posteriormente enterrado por cinzas e poeira.
Essa descoberta corrobora com achados anteriores de gelo subsuperficial em Marte, mas a escala desses depósitos próximos ao equador é sem precedentes.
A análise desse enigma geológico pode fornecer insights valiosos sobre a história climática do planeta vermelho, suas mudanças ao longo do tempo e as possíveis implicações para futuras explorações espaciais.
Vídeos
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Sonda europeia detecta enorme reserva de água em Marte. Ciência Mundo, jan 2024. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.