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Primatas primitivos viveram em um pântano no ártico, sugere estudo

Alguns animais, incluindo primatas primitivos, se moveram para o norte fugindo de uma era de aquecimento do planeta.

Primatas primitivos viveram em um pântano no ártico, sugere estudo -

Imagem: Ciência Mundo Art

O Ártico é conhecido por ser uma região extremamente hostil para a maioria das espécies de animais, especialmente primatas.

No entanto, recentes descobertas fósseis indicam que nem sempre foi assim (MILLER, 2023).

Desde os anos 1970, diversos fósseis de dentes e mandíbulas foram encontrados no norte do Canadá, pertencentes a duas espécies de primatas primitivos — ou parentes próximos dos primatas — que viveram no Ártico, há 52 milhões de anos.

Esses restos são os primeiros fósseis de primatas já descobertos no Ártico.

Um desses animais tinha o tamanho de uma marmota e pode ter escalado árvores em um pântano que existia acima do Círculo Polar Ártico.

As condições do Ártico eram significativamente mais quentes naquele período, mas as criaturas ainda tiveram que se adaptar a condições extremas, como longos meses de inverno sem luz solar.

Esses desafios tornam a presença de criaturas semelhantes a primatas no Ártico “incrivelmente surpreendente”, afirma o coautor deste estudo Chris Beard, paleontólogo da Universidade de Kansas em Lawrence. “Nenhum outro primata ou parente próximo de primatas foi encontrado tão ao norte até agora”, acrescenta Beard.

Entre temperaturas congelantes, crescimento limitado de plantas e meses de escuridão perpétua, viver no Ártico moderno não é fácil.

Isso é especialmente verdadeiro para primatas, que evoluíram a partir de pequenos animais que viviam em árvores e se alimentavam principalmente de frutas.

Até hoje, a maioria dos primatas tende a viver em florestas tropicais e subtropicais, principalmente encontradas na região do equador.

Mas essas florestas nem sempre estiveram posicionadas em sua localização atual.

No início do Eoceno, que começou há 56 milhões de anos, o planeta passou por um período de aquecimento intenso que permitiu que florestas e seus habitantes, amantes do calor, se expandissem para o norte.

Os cientistas conhecem o clima ártico primitivo em parte por causa de décadas de trabalho paleontológico na Ilha Ellesmere, no norte do Canadá.

As escavações na ilha revelaram que a área foi dominada por pântanos semelhantes aos encontrados no sudeste dos Estados Unidos hoje.

Esse ambiente ártico antigo, quente e úmido era o lar de uma ampla variedade de animais que amavam o calor, incluindo grandes antas e parentes de crocodilos.

Para o novo estudo, Beard e seus colegas examinaram dezenas de dentes e mandíbulas fósseis encontrados na região, que pertenciam a duas espécies: Ignacius mckennai e Ignacius dawsonae.

Essas duas espécies pertencem a um gênero extinto de pequenos mamíferos que se espalhou pela América do Norte durante o Eoceno.

As variantes árticas provavelmente se deslocaram para o norte à medida que o planeta aqueceu, aproveitando o novo habitat que se abriu perto dos polos.

Os cientistas há muito tempo debatem se essas espécies podem ser consideradas verdadeiros primatas primitivos ou se eram parentes próximos.

Independentemente disso, ainda é “realmente estranho e inesperado” encontrar primatas ou seus parentes na área, diz Mary Silcox, uma paleontóloga de vertebrados da Universidade de Toronto Scarborough.

A Ilha de Ellesmere já estava ao norte do Círculo Ártico há 52 milhões de anos e, embora as condições possam ter sido mais quentes e úmidas naquele período, o pântano era mergulhado em escuridão contínua durante os meses de inverno.

Os Ignacius teriam que se adaptar a essas condições. Uma pista, descoberta pelos cientistas é que, ao contrário de seus parentes do sul, o Ignacius Ártico tinha mandíbulas e dentes incomumente fortes adequados a comer alimentos duros.

Isso pode ter ajudado esses primatas primitivos a se alimentarem de nozes e sementes durante o inverno, quando as frutas não estavam tão disponíveis.

Os pesquisadores acreditam que esta pesquisa pode lançar luz sobre como os animais podem se adaptar para viver em condições extremas.

“A Ilha de Ellesmere é, sem dúvida, um ótimo exemplo de como seria um Ártico ameno e sem gelo”, diz Jaelyn Eberle, paleontóloga de vertebrados da Universidade do Colorado Boulder.

Segundo Beard, o estudo da adaptação de plantas e animais a esse período notável da história ártica, pode nos oferecer pistas de como seriam os possíveis futuros habitantes do Ártico.

A pesquisa pode ajudar a entender como a vida na Terra pode continuar a se adaptar às mudanças climáticas em andamento, particularmente em regiões onde a temperatura está subindo mais rapidamente, como o Ártico.

O aquecimento global é uma ameaça para a biodiversidade e é cada vez mais difícil para as espécies se adaptarem às mudanças extremas no clima, e a história da vida na Terra nos ensina que a adaptação é uma parte vital da sobrevivência.

O estudo também tem implicações para o entendimento da evolução dos primatas, o que inclui os humanos.

A descoberta de fósseis de primatas no Ártico pode ajudar a preencher lacunas na história da evolução dos primatas e fornecer novas informações sobre como esses animais se espalharam pelo planeta.

Além disso, o estudo oferece um lembrete de que o mundo já passou por mudanças climáticas significativas no passado e que o clima pode mudar drasticamente em um curto espaço de tempo.

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Referências

MILLER, Kristen; TIETJEN, Kristen; BEARD, K. Christopher. Basal Primatomorpha colonized Ellesmere Island (Arctic Canada) during the hyperthermal conditions of the early Eocene climatic optimum. PLoS One, v. 18, n. 1, p. e0280114, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 26 fev 2023.

Notícias

Fossils suggest early primates lived in a once-swampy Arctic. Science News, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 26 fev 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Primatas primitivos viveram em um pântano no ártico, sugere estudo. Ciência Mundo, fev 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.