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Telescópio “desativado” descobre gêmeo de Júpiter

O telescópio espacial Kepler, mesmo fora de operação desde 2018, auxiliou na descoberta de um sósia de Júpiter.

Telescópio “desativado” descobre gêmeo de Júpiter -

Imagem: Charly W. Karl em Flickr.

O feito inesperado foi realizado por uma equipe de astrônomos, liderados por David Specht — estudante Ph.D. da Universidade de Manchester — que descobriu recentemente um exoplaneta semelhante a Júpiter localizado a 17.000 anos-luz da Terra, ao “garimpar” dados capturados pelo Kepler em 2016 (SPECHT, 2022).

O exoplaneta, oficialmente designado K2-2016-BLG-0005Lb, é agora o mundo mais distante descoberto pelo Kepler, que localizou mais de 2.700 planetas durante sua “vida”.

Segundo Eamonn Kerins — astrônomo da Universidade de Manchester, no Reino Unido — ao analisar os dados do Kepler, a equipe conseguiu fazer aferições precisas sobre o planeta, mostrando que ele é, praticamente, um gêmeo de Júpiter, considerando sua massa e sua distância da estrela hospedeira, que tem 60% da massa do nosso Sol.

Os astrônomos aproveitaram um fenômeno conhecido como microlente gravitacional para detectar o exoplaneta. Esse fenômeno, previsto pela teoria da relatividade de Einstein, acontece quando o campo gravitacional de um planeta interage com o campo gravitacional de uma estrela hospedeira ao fundo, durante a observação de um trânsito planetário, fazendo com que a luz dessa estrela aumente ligeiramente o seu brilho.

Efeito microlente gravitacional sugerindo um exoplaneta fora do alinhamento com a estrela  (esquerda) e durante o alinhamento (direita).
Efeito microlente gravitacional capturado pelo Kepler. À direita, a luz da estrela SEM o trânsito planetário. Ã esquerda, a luz da estrela COM o planeta passando a sua frente.
Imagem: SPECHT, 2022.

A equipe utilizou três meses de dados de observações do Kepler em um trecho do céu onde este exoplaneta se encontra.

Segundo Kerins, observar o efeito requer um alinhamento quase perfeito entre o sistema planetário em primeiro plano, a estrela de fundo e o observador. A chance de uma estrela ser visualmente afetada dessa maneira por um de seus planetas é de dezenas a centenas de milhões para um. No entanto, como existem centenas de milhões de estrelas em nossa galáxia, o Kepler, após três meses, conseguiu identificar uma ocorrência do fenômeno.

Esta descoberta só foi realizada em 2022, porque o astrônomo Iain McDonald — da Universidade de Manchester — desenvolveu recentemente um novo algoritmo de busca para os dados do Kepler. Com essa nova ferramenta, foi possível revelar cinco candidatos a exoplaneta nos dados, sendo um deles, bem evidente.

Observações terrestres do mesmo trecho de céu confirmaram os dados do Kepler também sugerindo um novo exoplaneta. Segundo Kerins, os astrônomos utilizaram a diferença do ponto de vista entre o Kepler e os telescópios de observação terrestres para triangular a linha de visão do sistema planetário.

Além da emoção de descobrir um exoplaneta com um instrumento que não está mais em serviço, este é um feito notável porque o Kepler não foi projetado para descobrir exoplanetas usando esse fenômeno. Isso só foi possível graças a um upgrade, realizado em 2014, que estendeu a vida útil do telescópio até 30 de outubro de 2018, quando ele ficou sem combustível.

Kerins informou que futuros instrumentos como o Telescópio Espacial Nancy Grace Roman da NASA e a missão Euclid da Agência Espacial Européia, são capazes de usar o efeito de microlentes para estudar exoplanetas e poderão aprofundar essa pesquisa.

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Referências

SPECHT, D. et al. Kepler K2 Campaign 9: II. First space-based discovery of an exoplanet using microlensing. arXiv preprint arXiv:2203.16959, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 set. 2022.

Notícias

‘Dead’ telescope discovers Jupiter’s twin from beyond the grave. NBC News, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 06 abr. 2022.

Cite-nos

SANTOS, Gabriel. Telescópio “desativado” descobre gêmeo de Júpiter. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, abr. 2022. Disponível em: . Acesso em: .


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.