O feito inesperado foi realizado por uma equipe de astrônomos, liderados por David Specht — estudante Ph.D. da Universidade de Manchester — que descobriu recentemente um exoplaneta semelhante a Júpiter localizado a 17.000 anos-luz da Terra, ao “garimpar” dados capturados pelo Kepler em 2016 (SPECHT, 2022).
O exoplaneta, oficialmente designado K2-2016-BLG-0005Lb, é agora o mundo mais distante descoberto pelo Kepler, que localizou mais de 2.700 planetas durante sua “vida”.
Segundo Eamonn Kerins — astrônomo da Universidade de Manchester, no Reino Unido — ao analisar os dados do Kepler, a equipe conseguiu fazer aferições precisas sobre o planeta, mostrando que ele é, praticamente, um gêmeo de Júpiter, considerando sua massa e sua distância da estrela hospedeira, que tem 60% da massa do nosso Sol.
Os astrônomos aproveitaram um fenômeno conhecido como microlente gravitacional para detectar o exoplaneta. Esse fenômeno, previsto pela teoria da relatividade de Einstein, acontece quando o campo gravitacional de um planeta interage com o campo gravitacional de uma estrela hospedeira ao fundo, durante a observação de um trânsito planetário, fazendo com que a luz dessa estrela aumente ligeiramente o seu brilho.
A equipe utilizou três meses de dados de observações do Kepler em um trecho do céu onde este exoplaneta se encontra.
Segundo Kerins, observar o efeito requer um alinhamento quase perfeito entre o sistema planetário em primeiro plano, a estrela de fundo e o observador. A chance de uma estrela ser visualmente afetada dessa maneira por um de seus planetas é de dezenas a centenas de milhões para um. No entanto, como existem centenas de milhões de estrelas em nossa galáxia, o Kepler, após três meses, conseguiu identificar uma ocorrência do fenômeno.
Esta descoberta só foi realizada em 2022, porque o astrônomo Iain McDonald — da Universidade de Manchester — desenvolveu recentemente um novo algoritmo de busca para os dados do Kepler. Com essa nova ferramenta, foi possível revelar cinco candidatos a exoplaneta nos dados, sendo um deles, bem evidente.
Observações terrestres do mesmo trecho de céu confirmaram os dados do Kepler também sugerindo um novo exoplaneta. Segundo Kerins, os astrônomos utilizaram a diferença do ponto de vista entre o Kepler e os telescópios de observação terrestres para triangular a linha de visão do sistema planetário.
Além da emoção de descobrir um exoplaneta com um instrumento que não está mais em serviço, este é um feito notável porque o Kepler não foi projetado para descobrir exoplanetas usando esse fenômeno. Isso só foi possível graças a um upgrade, realizado em 2014, que estendeu a vida útil do telescópio até 30 de outubro de 2018, quando ele ficou sem combustível.
Kerins informou que futuros instrumentos como o Telescópio Espacial Nancy Grace Roman da NASA e a missão Euclid da Agência Espacial Européia, são capazes de usar o efeito de microlentes para estudar exoplanetas e poderão aprofundar essa pesquisa.
Referências
SPECHT, D. et al. Kepler K2 Campaign 9: II. First space-based discovery of an exoplanet using microlensing. arXiv preprint arXiv:2203.16959, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 set. 2022.
Notícias
‘Dead’ telescope discovers Jupiter’s twin from beyond the grave. NBC News, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 06 abr. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Telescópio “desativado” descobre gêmeo de Júpiter. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, abr. 2022. Disponível em: . Acesso em: .