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Os polvos já existiam bem antes dos dinossauros, segundo achado fóssil

Uma espécie fossilizada descoberta em Montana (E.U.A), é agora o ancestral conhecido mais antigo dos polvos modernos.

Os polvos já existiam bem antes dos dinossauros, segundo achado fóssil -

Imagem: Glucoscala em Pixabay.

O achado histórico é uma evidência de que os vampiropodes, grupo de cefalópodes que incluiu o polvo e as lulas-vampiro, já existiam nos oceanos há 330 milhões de anos, 82 milhões de anos antes das estimativas.

A nova espécie ancestral, foi nomeada cientificamente como Syllipsimopodi bideni, em homenagem ao presidente Joe Biden, que, em seu governo, tem priorizado o financiamento da pesquisa científica e de soluções para lidar com as mudanças climáticas (WHALEN, 2022).

Concepção artística de como seria o  Syllipsimopodi bideni.
Concepção artística de como seria o Syllipsimopodi bideni.
Imagem: WHALEN, 2022.

Como a nova espécie foi descoberta?

O fóssil foi originalmente encontrado em 1988 em Montana, nos E.U.A. e doado para o Museu Real de Ontário, no Canadá, onde ficou por décadas guardado como um exemplar comum, até ser desengavetado pelo paleontólogo Christopher Whalen para um catálogo de rotina.

 Fóssil do Syllipsimopodi bideni, guardado no Museu Real de Ontário, desde 1988.
Fóssil do Syllipsimopodi bideni, guardado no Museu Real de Ontário, desde 1988.
Imagem: WHALEN, 2022.

Ao colocar a rocha sob um microscópio, Whalen observou um ser aquático de 12 cm e 10 membros, assim como as lulas modernas, mas diferente dos polvos modernos que possuem 8 membros. Ele pôde observar ainda evidências de uma bolsa de tinta, provavelmente usada para esguichar um manto líquido escuro e evitar predadores, como fazem os polvos modernos. Considerando sua anatomia, essa espécie provavelmente vivia em uma baía oceânica tropical e rasa.

Ao investigar os braços mais de perto, no entanto, Whalen se deparou com duas fileiras de ventosas, algo incomum nos cefalópodes desta época. Intrigado com essa anatomia anormal, Whalen tratou a espécie inicialmente como um dos cefalópodes mais modernos encontrados no calcário de Montana.

Para auxiliar nesta investigação, Whalen solicitou a ajuda de Neil Landman – curador emérito do Museu Real – que confirmou que o exemplar tinha 330 milhões de anos. Após várias análises, os dois pesquisadores concluíram que este cefalópode com ventosas nos braços era um ancestral comum dos vampiropodes, um ser inimaginável nessa época. Esta descoberta puxa para trás a data da primeira evidência de existência desse grupo em 82 milhões de anos.

Análise do Syllipsimopodi bideni.. a. Desenho esquemático do corpo. b. Imagem com contraste aumentado com cores falsas. c. Reconstrução artística (K. Whalen).  Barra preta = 1cm
Análise do Syllipsimopodi bideni.. a. Desenho esquemático do corpo. b. Imagem com contraste aumentado com cores falsas. c. Reconstrução artística (K. Whalen). Barra preta = 1cm
Imagem: WHALEN, 2022.

Isso significa que os vampiropodes surgiram nos oceanos, não há 240 milhões anos, como se pensava, mas há, pelo menos, 330 milhões anos. Logo, os polvos surgiram antes da era dos dinossauros, que apareceram na Terra a “apenas” 243 milhões de anos (considerando o Nyasasaurus parringtoni, a espécie mais antiga de dinossauro conhecida até agora).

Whalen explica que, apesar do grupo dos vampiropodes incluir lulas-vampiro e polvos, lulas-vampiro não são lulas, mas sim polvos com oito braços e dois filamentos fibrosos, que alguns pesquisadores acreditam serem braços vestigiais. Assim, este “novo” fóssil é também uma evidência de que todos os cefalópodes já tiveram 10 braços, antes de serem reduzidos a filamentos ou de serem eliminados na evolução.

Segundo o zoólogo Mike Vecchione, que não se envolveu nesse trabalho, os vampiropodes podem ser ainda mais antigos, pois é muito difícil definir uma data precisa para o surgimento desse grupo. Ele explica que encontrar fósseis de animais aquáticos com tecido mole é muito raro, pois eles são verdadeiros “sacos de água“, difíceis de serem gravados em sedimentos para fossilização.

Discussão sobre o novo achado

Nem todos da comunidade científica concordaram com a descoberta. O paleontólogo Christian Klug – da Universidade de Zurique, na Suíça – afirma que o fóssil provavelmente é de uma espécie antiga de cefalópodes conhecida como Gordoniconus beargulchensis. Em 2019, o Dr. Klug publicou um artigo sobre a anatomia do G. beargulchensis, também com Dr. Landman. Ele afirma que o exemplar examinado por Whalen tem o mesmo tamanho, a mesma idade, foi encontrado no mesmo local, mas foi preservado de um jeito diferente.

Já o paleontólogo Thomas Clements – da Universidade de Birmingham, na Inglaterra – afirma que aguardará uma futura análise química que possa confirmar a presença das ventosas e assim comemorar a nova descoberta. Para ele, esses pequenos órgãos são difíceis de discernir a partir apenas das imagens incluídas no estudo.

O Dr. Whalen brinca dizendo que as minúsculas ventosas encontradas por ele “incomodam” a comunidade científica, pois ninguém quer acreditar que um fóssil, que estava no museu desde os anos 80, era algo de tamanha importância.

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Referências

WHALEN, Christopher D.; LANDMAN, Neil H. Fossil coleoid cephalopod from the Mississippian Bear Gulch Lagerstätte sheds light on early vampyropod evolution. Nature Communications, v. 13, n. 1, p. 1-11, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 14 mar. 2022.

Notícias

Octopuses were around before dinosaurs, fossil find suggests. The Guardian, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 11 mar. 2022.

Fossil of Vampire Squid’s Oldest Ancestor Is Named for Biden. The New York Times, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 12 mar. 2022.

Cite-nos

SANTOS, Gabriel. Os polvos já existiam bem antes dos dinossauros, segundo achado fóssil. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, mar. 2022. Disponível em: . Acesso em: .


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.