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Gravuras de 8.000 anos podem ser os primeiros planos de construção da história

Há 8.000 anos, enormes estruturas no deserto foram inicialmente projetadas na pedra antes de serem construídas.

Gravuras de 8.000 anos podem ser os primeiros planos de construção da história - pipa do desento.

Imagem:  Pipa do deserto - Rémy Crassard.

Arqueólogos recentemente descobriram gravuras em pedras na Península Arábica que podem ser os mais antigos planos de construção da história humana (CRASSARD, 2023)

Essas pequenas gravuras, datadas de 7.000 a 8.000 anos atrás, são, na verdade, projetos para a construção de estruturas enormes, conhecidos como pipas do deserto, uma espécie de armadilha gigante utilizada pelos antigos caçadores para capturar animais como gazelas.

Imagem aérea de algumas pipas do deserto da Arábia Saudita.
Imagem: BARGE, 2022.

As pipas do deserto são grandes áreas de terra cercadas por muros baixos de pedra, com covas espalhadas em seu interior. 

Os caçadores conduziam os animais através de uma passagem estreita até o interior da pipa, onde eles ficavam encurralados e mais fáceis de serem capturados. 

Essas estruturas foram identificadas há cerca de 100 anos, quando a fotografia aérea começou a ser utilizada.

No entanto, foi somente com o surgimento de imagens de satélite de alta resolução, como as do Google Earth, que os pesquisadores puderam analisar as pipas do deserto em sua totalidade.

Eles descobriram desenhos gravados em rochas na Jordânia e na Arábia Saudita que representavam as pipas, revelando que os humanos daquela época tinham uma sofisticada compreensão do espaço e da geometria para realizar grandes projetos.

Os pesquisadores utilizaram cálculos matemáticos para comparar os pequenos planos de construção gravados nas rochas com as enormes formas e dimensões das pipas construídas. 

Plano de construção de uma pipa do deserto gravado em uma pedra.
Imagem: CRASSARD, 2023.

Eles concluíram que esses desenhos eram projetos incrivelmente precisos e realistas, que representavam as pipas em pequena escala, antes de serem construídas.

Os pesquisadores acreditam que as pessoas estudavam e discutiam os desenhos antes de construir as estruturas, coordenando o número e a posição dos caçadores e prevendo o comportamento dos animais durante a caça.

Isso revela um importante desenvolvimento no pensamento abstrato e na representação simbólica dos humanos antigos. 

Pipa do deserto encontrada na Jordânia.
Imagem: CRASSARD, 2023.

A capacidade de criar diagramas em escala indica um avanço na compreensão do espaço físico e na capacidade de planejamento.

No entanto, datar as pipas do deserto é um desafio, pois elas são compostas principalmente por rochas e covas, que não fornecem material orgânico para a datação por radiocarbono

Os pesquisadores estimam que essas pipas tenham cerca de 8.000 anos, com base em comparações com pipas vizinhas associadas a sedimentos e restos orgânicos.

Essa descoberta abre novas perspectivas para o estudo das antigas sociedades humanas e sua precoce relação com a geometria e com o espaço. 

Através desses desenhos gravados nas rochas, os pesquisadores podem compreender melhor como os antigos caçadores planejavam suas atividades e como eles interpretavam o mundo ao seu redor.

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Referências

CRASSARD, Rémy et al. The oldest plans to scale of humanmade mega-structures. PloS one, v. 18, n. 5, p. e0277927, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 19 maio 2023.

BARGE, Olivier et al. New Arabian desert kites and potential proto-kites extend the global distribution of hunting mega-traps. Journal of Archaeological Science: Reports, v. 42, p. 103403, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 19 maio 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Gravuras de 8.000 anos podem ser os primeiros planos de construção da história. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.