Como consequência do surgimento de Ardi, os paleontólogos definiram uma nova espécie e a chamaram de Ardipithecus ramidus. Antes de Ardi, outro fóssil da espécie Australopithecus afarensis, conhecido como Lucy, que viveu há 3,2 milhões de anos era reconhecido como o nosso parente hominídeo mais antigo. Ardi não só é mais antiga do que Lucy, mas também, mais completa possuindo, ao todo 125 elementos de ossos fossilizados (LOVEJOY, 2009).
A Descoberta de Ardi
Ardi foi descoberta na Etiópia, em 1992, no sítio arqueológico de Aramis, pela equipe do paleontólogo e arqueólogo Tim White, juntamente com 17 outros fósseis de indivíduos da mesma espécie. O trabalho de escavação e extração do fóssil levou 3 anos para ser realizado (1992 a 1994). Contudo, o anúncio oficial do achado só foi feito em 2009, através da publicação de 11 artigos que detalham todos os aspectos da “nova” espécie ancestral e seu habitat (GIBBONS, 2009).
Ardi e a origem do bipedismo
Como Ardi estava junto aos restos mortais de animais silvestres, conclui-se que ela habitava algum tipo de floresta. Nesse sentido, isso contraria a teoria de que o bipedismo (locomoção através de 2 membros ou pernas) tenha se originado nos hominídeos nas savanas. Na teoria das savanas, os pesquisadores especulam que os primeiros primatas hominídeos desceram das árvores a procura de comida, pois a vegetação mais rasteira dominava o seu território (LOVEJOY, 2009b).
Apesar de o surgimento do Ardipithecus ramidus colocar em cheque essa teoria, deve-se ter cautela ao avaliar os motivos que levaram essa espécie a evoluir para o bipedismo, já que, alguns aspectos comportamentais de animais extintos são difíceis de se identificar através de fósseis.
Anatomia de Ardi
Ardi pesava aproximadamente 50 kg e podia chegar a 1,20 m de altura. Seus dentes indicam uma dieta vegetariana, baseada em frutas e castanhas. Os ossos do seu pulso sugerem que ela era capaz de movimentos flexíveis, mas os ossos da palma da mão são curtos, o que indica que ela não caminhava no solo com os dedos no chão. Apesar de ser bípede, seus pés possuíam longos dedos e polegares invertidos, como os dos chimpanzés, o que facilitava sua locomoção também em árvores. Assim, Ardi caminhava de pé quando estava no chão, mas era quadrúpede quando se locomovia em árvores. Como Ardi possui características tanto de humanos (ficar em pé) quanto de chimpanzés (polegar oposto nos pés), então ela passa agora a ser o ancestral conhecido mais antigo do ser humano, talvez o primeiro a conseguir andar ereto (WHITE, 2009).
Deve-se observar, no entanto, que a estrutura óssea da nossa outra ancestral mais recente, Lucy, parece ser mais eficiente e adaptada ao deslocamento bípede do que a de Ardi. Isso sugere um provável aperfeiçoamento na habilidade de se andar ereto, que evoluiu de uma espécie para outra, durante os 1,2 milhões de anos que separam as duas espécies.
Em 1876, Ernst Haeckel, um pesquisador e grande contribuidor para a divulgação e visualização das teorias de Darwin, propôs, através do artista G Avery, uma ilustração, onde ele sugere a existência de espécies intermediárias no processo evolutivo, entre um ancestral dos chimpanzés e os atuais humanos. Um dos elementos dessa lustração é incrivelmente semelhante ao que os pesquisadores atuais sugerem ser Ardi: um ser meio chimpanzé, meio humano (THEHISTORY, 1876).
Etimologia
A origem do nome Ardipithecus ramidus, se refere às palavras do idioma Afar (falado na Etiópia), Ardi que significa “chão” e ramidus que significa “raiz”. Além disso, a palavra grega pithecus se refere a “macaco”. Dessa forma, pode-se traduzir “Ardipithecus ramidus” como “raiz dos macacos terrestres” (LOVEJOY, 2009).
Discussão e conclusão
Ardi está sendo considerada um dos maiores achados da arqueologia moderna, pois muda profundamente o nosso entendimento de como o homem evoluiu no planeta terra. No entanto, devemos observar que existem ainda muitas lacunas em nossa história evolutiva, que compreendem espécies que viveram tanto antes, quanto depois de Ardi. Como algumas dessas espécies podem ter existido por um curto período, achar esses fósseis talvez seja uma tarefa quase impossível. Por isso, Ardi está sendo considerada uma descoberta importante, pois nos mostra mais um elo, na evolução dos humanos, ainda mais próximo de um ancestral, até agora desconhecido, que se separou dos chimpanzés, há 7 milhões de anos.
Vídeos relacionados
Ficção e documentários relacionados
Descobrindo Ardi (2009)
Documentário que relata os esforços que foram necessários para se chegar até Ardi.
Referências
GIBBONS, A., 2009. A new kind of ancestor: Ardipithecus unveiled. Science 326, 36-50.
LOVEJOY, C. Owen. Reexamining human origins in light of Ardipithecus ramidus. science, v. 326, n. 5949, p. 74-74e8, 2009.
LOVEJOY, C. Owen et al. The great divides: Ardipithecus ramidus reveals the postcrania of our last common ancestors with African apes. Science, v. 326, n. 5949, p. 73-106, 2009.
THE HISTORY of Creation. Scientific American, March 11, 1876, p. 167.
WHITE, T.D., Asfaw, B., Beyene, Y., Hailie-Selassie, Y., Lovejoy, C. O., Suwa, G., Woldegabriel, Ardipithecus ramidus and the paleobiology of early hominids. Science, 326, 75-86. G., 2009.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Ardi: o elo perdido na história da evolução do homem. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, mar. 2021. Disponível em: . Acesso em: .