Urano é considerado o planeta mais estranho do Sistema Solar, pois é o único que possui uma rotação inclinada. Além disso, dispõe de mais de uma dúzia de anéis, cerca de 27 luas em sua órbita e uma atmosfera super ativa contendo hidrogênio, hélio e compostos pesados ocultos em suas nuvens.
De uma forma geral, ainda sabemos pouco sobre esse mundo azul leitoso, que, eventualmente, nos surpreende com observações intrigantes aqui da Terra. Por décadas, os telescópios vêm registrando estranhas assinaturas térmicas em seus anéis, erupções de nuvens em sua superfície, auroras brilhantes, ventos colossais, além de luas adicionais.
Contudo, essa nossa falta de conhecimento sobre Urano está para mudar, após a recente publicação do relatório decenal de recomendações de prioridades da NASA. Neste relatório, os cientistas são convidados a sugerir as próximas metas da agência para os próximos 10 anos, e eles foram unânimes: “devemos voltar a Urano”.
O relatório decenal
A cada década, a comunidade científica apresenta um conjunto de recomendações, chamado Pesquisa Decenal de Ciência Planetária e Astrobiologia, sobre o que priorizar durante os próximos 10 anos de exploração e pesquisas planetárias. O documento resultante, conhecido como Levantamento Decenal Planetário, é usado como um guia pela NASA e pela National Science Foundation (E.U.A) para decidir em quais projetos investir.
O último relatório decenal, publicado em 2011, recomendou que fossem priorizadas missões de retorno de amostras de Marte, tarefa que está sendo realizada pelo rover Perseverance da NASA na superfície do planeta vermelho. O relatório de 2011 também recomendou uma missão à lua gelada de Júpiter, Europa, por considerá-la um dos lugares mais promissores do sistema solar para se encontrar vida. Isso levou à construção da espaçonave Europa Clipper, que está programada para ser lançada em 2024.
O novo relatório decenal de 2022 também enfatiza a importância de se procurar por vida além da Terra em nosso Sistema Solar, principalmente por organismos que possam sobreviver em superfícies rochosas como a de Marte, ou em oceanos de luas alienígenas como em Enceladus. No entanto, Urano, um mundo que dificilmente abrigará a vida como a conhecemos, foi selecionado como a missão de maior prioridade pelos cientistas no relatório.
Segundo Jonathan Lunine — da Universidade Cornell, que presidiu um painel sobre o relatório — “Urano ainda tem pontos enigmáticos que devem ser investigados quanto antes. Acho que teremos muitas surpresas lá relacionadas a formação dos planetas, e, quem sabe, possamos descobrir novos mundos oceânicos em suas luas Titânia e Oberon“.
Um dos grandes atrativos de se explorar Urano (e Netuno) é o fato deles representarem o tipo mais comum de planeta na galáxia. Os cientistas, que sugeriram a investigação de Urano no relatório, acreditam que uma missão exploratória poderia desvendar vários mistérios do planeta, como seu estranho campo magnético, suas temperaturas surpreendentemente geladas e dar uma luz de como e porque o planeta tombou.
A missão a Urano
A missão de US$ 4,2 bilhões, chamada Uranus Orbiter and Probe, compreende um satélite que orbitaria Urano por alguns anos e, eventualmente, lançaria uma pequena sonda para analisar a atmosfera do planeta, semelhante à missão Cassini, que explorou Saturno entre 2004 e 2017.
Segundo Heidi Hammel — da Associação de Universidades para Pesquisa em Astronomia — “Os retornos desta missão serão tão ricos que envolverão quase todas as áreas da ciência planetária”.
Se o projeto for aprovado, tudo indica que o Uranus Orbiter and Probe será lançado a bordo de um foguete SpaceX Falcon Heavy, entre 2031 e 2038, para aproveitar um alinhamento favorável dos planetas. Uma vez no espaço, a viagem mais rápida possível levaria cerca de 13 anos, o que significa que a espaçonave não entraria na órbita de Urano antes 2040.
Isso pode ser uma frustração para os atuais pesquisadores que, provavelmente, estarão aposentados quando a sonda começar a enviar seus primeiros dados. No entanto, Hammel afirma que essa missão não será para eles, mas para a próxima geração de cientistas exploradores.
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Referências
Planetary Science and Astrobiology Decadal Survey 2023-2032. The National Academies, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 22 abr. 2022.
Notícias
NASA has been ignoring Uranus. That may soon change.National Geographic. National Geographic, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 22 abr. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Urano há muito tempo vem sendo ignorado, mas isso deve mudar em breve. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, abr. 2022. Disponível em: . Acesso em: .