Pular para o conteúdo

65 túmulos de reis da época do Rei Arthur descobertos na Grã-Bretanha

Os túmulos dos primeiros reis e rainhas britânicos da era do mítico Rei Arthur provavelmente foram ignorados até hoje por não serem tão glamourosos quanto se esperava.

65 túmulos de reis da época do Rei Arthur descobertos na Grã-Bretanha -

Imagem: GregMontani em Pixabay.

A Grã-Bretanha possui uma lacuna histórica, entre os séculos V e VII d.C, conhecida apenas nas lendas do mítico Rei Arthur. Este período, marcado pelo fim do domínio romano e início dos reinos anglo-saxões, protagonizou várias batalhas de resistência entre os britânicos nativos do oeste (celtas parcialmente romanizados) e os invasores germânicos do leste.

Um dos grandes mistérios desse período para os historiadores é o fato de não se saber onde estão os túmulos das famílias reais britânicas, que governaram essa região.

Contudo, em um trabalho recente, o famoso arqueólogo Ken Dark – da Universidade de Reading no Reino Unido – afirma que os túmulos dos reis britânicos dessa época nunca foram encontrados, porque eles eram enterrados em sepulturas simples, indistinguíveis das covas de “pessoas comuns” (DARK, 2022).

Dark chegou a essa conclusão após examinar 65 túmulos humildes, encontrados em cerca de 20 locais de sepultamento no oeste de Inglaterra e País de Gales, e descobrir que eles eram de reis britânicos pós-romanos e suas famílias.

Grã-Bretanha pós-romana

O general romano Júlio César chegou a invadir o sul da Grã-Bretanha entre 55 e 54 a.C., mas não conseguiu estabelecer um domínio permanente.

Somente mais tarde, sob a coordenação do imperador Cláudio, os romanos conseguiram o controle da região, que durou de 43 d.C. a 410 d.C., quando as últimas tropas romanas foram convocadas para a Gália (França moderna) em meio a rebeliões internas no Império Romano e invasões de tribos germânicas.

Após o domínio romano, entre os séculos V e VII, os britânicos continuaram a governar o oeste da Inglaterra, País de Gales e partes da Escócia, como uma “colcha de retalhos”, ou seja, pequenos reinos que se respeitavam para tentar continuar as tradições romanas cristãs. No mesmo período, tribos germânicas pagãs, como os anglos, saxões e jutos, invadiram e se estabeleceram no leste do país.

As lendas do Rei Arthur, que supostamente era britânico e cristão, se passam nesse período. Embora a maioria dos historiadores entenda que Arthur não existiu, Dark, mostra em estudos anteriores, que uma pessoa real (ou um herói fictício) com esse nome ficou famoso no século VI. Ele argumenta que uma forte evidência é o aumento repentino do uso do nome “Arthur” nas famílias reais britânicas e irlandesas desse período, sugerindo que uma figura heroica com esse nome existiu.

Devido a grande quantidade de batalhas nesse período, muitas vidas foram perdidas de ambos os lados, e, consequentemente, muitos cemitérios foram estabelecidos na região. Embora os governantes anglo-saxões da época recebessem enterros elaborados com presentes valiosos, os britânicos cristãos viam isso como uma prática pagã.

Segundo Dark, este é o motivo pelo qual não podemos encontrar as sepulturas dos reis dessa época. Os britânicos cristãos enterravam sua realeza em túmulos simples, sem bens funerários, nem inscrições em pedra, da mesma forma que os cristãos comuns.

Dark iniciou este trabalho com o objetivo de solucionar um mistério arqueológico muito antigo. Se tantos reis e rainhas viveram neste período, onde foram parar seus túmulos? Ele afirma que até a data da publicação do seu trabalho, apenas o túmulo de um rei britânico dessa época havia sido descoberto no noroeste do País de Gales, uma lápide com a inscrição em latim “Catamanus Rex” que significa “Rei Cadfan“.

Enquanto isso, os túmulos de pelo menos nove governantes anglo-saxões do período foram encontrados, incluindo o famoso navio-cemitério de Sutton Hoo, na costa leste da Inglaterra.

Detalhes das sepulturas

Para desvendar este mistério, Dark realizou uma vasta revisão bibliográfica em trabalhos arqueológicos que contemplam os cemitérios desse período no oeste da Grã-Bretanha e Irlanda.

Suas conclusões sugerem que os nobres britânicos dessa época eram sepultados em cemitérios cristãos comuns, mesmo sendo pessoas de alto status na sociedade. Seus túmulos eram tão humildes, que não possuíam sequer lápides com inscrições informando quem foi enterrado lá. O máximo que se observou foram algumas estruturas maiores, de tamanho variado, contendo até quatro sepulturas.

De uma forma geral, os enterros são quase todos iguais, com uma pequena minoria dando a entender, vagamente, o status social do finado, mas sem definir seu nome.

Em um local em Tintagel, foram encontrados o que se acredita serem cinco túmulos reais britânicos em um cemitério cristão primitivo. Este local é uma península fortificada na costa da Cornualha, normalmente associado à realeza britânica pós-romana e às lendas do Rei Arthur. Os túmulos descobertos lá têm a forma de um monte de terra, semelhante às sepulturas de nobres irlandeses, conhecidas como “ferta“. Segundo Dark, isso significa que os britânicos que viviam lá tinham origem irlandesa celta, e pelos poucos escritos identificados, falavam línguas semelhantes.

Contudo, a tradição de colocar os túmulos no centro de um recinto (ou cova) retangular parece ser um estilo de sepultamento desenvolvido pelos cristãos na Grã-Bretanha romana. Uma evidência disso é o fato dessas sepulturas retangulares, um estilo romano de túmulo, aparecerem na Grã-Bretanha e não na Irlanda.

Alguns arqueólogos, críticos do trabalho de Dark, afirmam que essas 65 sepulturas abrigavam possivelmente pessoas de alto status social, mas não exatamente a realeza. Eles acreditam que os enterros das famílias reais dessa época ainda serão descobertos em estruturas na forma de montes de terra ou de covas com inscrições em uma lápide. Contudo, para Dark, a melhor hipótese que temos até agora, após tanto tempo procurando, é a de que esses nobres foram sepultados em túmulos simples, da mesma forma que pessoas comuns.

Comente…


Referências

DARK, Ken. CRISIS IN THE THIRD CENTURY CE?-(M.) Auer,(C.) Hinker (edd.) Roman Settlements and the ‘Crisis’ of the 3rd Century AD.(Ager Aguntinus 4.) Pp. viii+ 216, colour figs, b/w & colour ills, b/w & colour maps. Wiesbaden: Harrassowitz, 2021. Cased,€ 68. ISBN: 978-3-447-11593-3. The Classical Review, v. 72, n. 1, p. 252-255, 2022.

Notícias

Graves of dozens of kings from the time of King Arthur uncovered in Britain. Live Science, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 ago. 2022.

Cite-nos

SANTOS, Gabriel. 65 túmulos de reis da época do Rei Arthur descobertos na Grã-Bretanha. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, mar. 2022. Disponível em: . Acesso em: .


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.