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Primeiro cinturão de radiação descoberto fora do sistema solar

Astrônomos identificaram pela primeira vez um cinturão de radiação ao redor de um objeto localizado fora do nosso sistema solar. 

Primeiro cinturão de radiação descoberto fora do sistema solar - Concepção artística de cinturão de radiação fora do sistema solar.

Imagem: Ciência Mundo Art

Um cinturão de radiação é uma região ao redor de um corpo celeste onde partículas energéticas, como elétrons, são capturadas e mantidas pelo campo magnético do objeto.

Essas partículas em movimento emitem radiação, criando uma espécie de bolha ao redor do corpo celeste.

Os cinturões de radiação fornecem informações sobre o campo magnético, a estrutura interna e as interações do objeto com o ambiente espacial ao seu redor.

Em nosso sistema solar, todos os planetas com campos magnéticos possuem cinturões de radiação. 

A Terra, por exemplo, possui os conhecidos cinturões de Van Allen, que se originam do decaimento de elétrons capturados de raios cósmicos que atingem a atmosfera.  

As duas faixas gigantes de radiação, conhecidas como Cinturões de Van Allen, ao redor da Terra foram descobertas em 1958.
Em 2012, observações das Sondas de Van Allen mostraram que às vezes um terceiro cinturão pode aparecer.
Nesta imagem, a radiação é mostrada em amarelo, com o verde representando os espaços entre os cinturões.
Imagem: NASSA em Flickr.

Júpiter, por sua vez, possui cinturões de radiação alimentados principalmente pelas partículas provenientes de sua lua vulcânica, Io

No entanto, a descoberta recente vai além dos limites do nosso sistema solar. 

Astrônomos liderados por Melodie Kao, da Universidade da Califórnia, Santa Cruz, observaram um objeto com aproximadamente o tamanho de Júpiter chamado LSR J1835+3259 (KAO, 2023)

Utilizando uma rede composta por 39 antenas de rádio espalhadas do Havaí à Alemanha, a equipe foi capaz de criar um telescópio virtual do tamanho da Terra, permitindo um estudo detalhado do ambiente em torno desse distante objeto.

O que chamou a atenção dos pesquisadores foi a identificação de um cinturão de radiação que se assemelha aos cinturões de Júpiter, porém com uma intensidade 10 milhões de vezes maior

O objeto em questão possui massa cerca de 80 vezes maior do que Júpiter, o que o coloca em uma categoria intermediária entre uma estrela de pequeno porte e uma anã marrom, que é um corpo estelar insuficientemente massivo para sustentar a fusão nuclear de hidrogênio.

Uma das questões que permanece em aberto é a origem dos elétrons energeticamente carregados dos seus cinturões desse objeto.  

Ao contrário dos objetos em nosso sistema solar, o LSR J1835+3259 não orbita uma estrela e não parece emitir explosões solares que poderiam ser responsáveis pela alimentação desse cinturão de radiação. 

Uma hipótese levantada pelos cientistas é a possibilidade de existência de uma lua vulcânica em torno do objeto, porém essa é apenas uma especulação que requer investigações adicionais.

Embora a descoberta seja fascinante por si só, sua importância vai além. 

O conhecimento de que LSR J1835+3259 possui um cinturão de radiação auxiliará os pesquisadores na interpretação de dados provenientes de exoplanetas no futuro. 

Embora esse cinturão de radiação não possa ser observado diretamente, compreender a existência e características desse fenômeno é fundamental para a compreensão da história dos exoplanetas.

À medida que continuamos a investigar o vasto cosmos, descobertas como essa nos aproximam cada vez mais de desvendar os segredos do universo.

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Referências

KAO, Melodie M. et al. Resolved imaging of an extrasolar radiation belt around an ultracool dwarf. arXiv preprint arXiv:2302.12841, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 16 maio 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Primeiro cinturão de radiação descoberto fora do sistema solar. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.