A Peste Negra (ou Peste Bubônica) foi uma epidemia que ocorreu na Europa no século XIV, causada pela bactéria Yersinia pestis, sendo até hoje considerada uma das mais devastadoras da história, pois resultou na morte de milhões de pessoas em todo o continente.
A doença era transmitida por pulgas de ratos infectados, o que obrigava os médicos a usar trajes especiais que consistiam em uma capa preta longa de tecido grosso, com uma máscara que tinha um bico comprido e oco, preenchido com substâncias para filtrar o ar.
Recentemente, pesquisadores do Instituto Francis Crick, no Reino Unido, encontraram o DNA de uma cepa da bactéria responsável pela Peste Negra nos dentes de três indivíduos enterrados, milhares de anos antes da pandemia mortal se espalhar pela Europa (SWALI, 2023).
Essa descoberta lança luz sobre a antiguidade da infecção e revela importantes informações sobre a disseminação da doença na antiguidade.
Os três indivíduos — dois jovens adolescentes e uma mulher de meia-idade — foram enterrados em locais diferentes, mas viveram aproximadamente na mesma época.
A datação por radiocarbono revelou que esses esqueletos têm aproximadamente 4.000 anos.
Os jovens foram encontrados em uma vala comum em Charterhouse Warren, em Somerset, enquanto a mulher foi enterrada em um monumento de círculo de pedras em Levens, em Cumbria.
Embora não se saiba ao certo se a peste foi a causa de suas mortes, a presença do DNA da bactéria Yersinia pestis sugere a possibilidade de infecção.
É importante ressaltar que a cepa de Yersinia pestis identificada nos restos mortais desses indivíduos é um pouco diferente da cepa responsável pela Peste Negra, que assolou a Europa e o Oriente Médio no século XIV, causando a morte de milhões de pessoas.
No entanto, esses são os casos mais antigos de infecção por Y. pestis identificados na Grã-Bretanha até o momento.
Isso indica que a bactéria já se espalhava facilmente antes de desenvolver as mutações que a tornaram mais letal durante a Peste Negra.
Os genomas da Y. pestis analisados revelaram uma tendência de perda de genes ao longo do tempo, o que também foi observado em epidemias posteriores causadas pelo mesmo patógeno.
Essas descobertas podem ajudar a identificar quais genes são importantes para a disseminação de doenças infecciosas e a compreender melhor a história e o impacto dessas doenças na humanidade.
A disseminação da peste ao longo da história tem sido objeto de estudo para os geneticistas.
Vestígios de Y. pestis foram encontrados na Eurásia, datando de cerca de 5.000 anos, durante o final do Neolítico e a Idade do Bronze.
Esses vestígios indicam que a doença assumia principalmente as formas bubônica ou septicêmica, transmitidas por picadas de pulgas.
No entanto, as cepas mais antigas da bactéria não possuíam as adaptações necessárias para a transmissão por pulgas, sugerindo que as formas mais antigas da peste não eram tão letais.
A descoberta de Y. pestis nos indivíduos enterrados na Grã-Bretanha confirma que a bactéria se espalhou das regiões continentais da Europa para as Ilhas Britânicas mais cedo do que se pensava.
Esse espalhamento geográfico precoce indica que a peste pneumônica, transmitida de pessoa para pessoa, também se disseminou amplamente nessa época, o que pode ter tido um impacto significativo na população humana.
Compreender como os patógenos se espalharam e evoluíram ao longo da história pode fornecer informações valiosas para o combate a doenças infecciosas no presente e no futuro.
Os estudos arqueogenéticos continuarão a investigar como nossos genomas responderam a essas doenças no passado e a corrida evolutiva entre patógenos e hospedeiros, contribuindo para uma melhor compreensão do impacto das doenças na saúde humana.
Vídeos
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Referências
SWALI, Pooja et al. Yersinia pestis genomes reveal plague in Britain 4,000 years ago. bioRxiv, p. 2022.01. 26.477195, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 31 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Peste Negra já espreitava a Grã-Bretanha milênios antes de se espalhar pela Europa. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.
Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.
