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Inteligência artificial pode encontrar sua localização em fotos e preocupa especialistas em privacidade

IA desenvolvida por estudantes consegue geolocalizar fotos com precisão, levantando preocupações sobre privacidade e implicações éticas.

Inteligência artificial pode encontrar sua localização em fotos e preocupa especialistas em privacidade -

Imagem: Arte "Geolocalização por IA" por Ciência Mundo

A inteligência artificial (IA) demonstrou mais uma vez sua capacidade, revelando agora uma habilidade excepcional na geolocalização de fotografias. 

Um projeto desenvolvido por três graduandos da Universidade de Stanford, denominado Predicting Image Geolocations (PIGEON), visava inicialmente identificar apenas locais no Google Street View (HAAS, 2023)

Contudo, ao ser exposto a fotos pessoais inéditas, o programa revelou habilidades precisas na determinação dos locais das imagens.

Essa nova aplicação da IA, embora promissora em alguns aspectos, carrega consigo implicações consideráveis. 

Apesar de oferecer a possibilidade de identificar a localização de fotos antigas de familiares ou facilitar levantamentos rápidos de regiões por biólogos de campo, a tecnologia também se apresenta como uma faca de dois gumes. 

Sua capacidade de revelar informações não intencionais sobre indivíduos abre caminho para preocupações relacionadas à privacidade, conforme destaca Jay Stanley, analista sênior de políticas da União Americana pelas Liberdades Civis.

O Projeto PIGEON, originado em uma disciplina de ciência da computação em Stanford, utilizou uma abordagem inovadora ao treinar uma versão do sistema CLIP – uma rede neural desenvolvida pela OpenAI – com imagens do Google Street View. 

O conjunto de dados modesto, composto por aproximadamente 500.000 imagens, proporcionou resultados notáveis, permitindo ao PIGEON acertar o país de origem da imagem em 95% das vezes, localizando, inclusive, o ponto exato com uma margem de até 40 quilômetros do local real.

A capacidade da IA em geolocalização evidencia-se não apenas em ambientes urbanos, mas também em paisagens mais remotas, como parques nacionais e áreas menos acessíveis. 

O programa superou a habilidade de jogadores humanos experientes em testes realizados em jogos online de geolocalização, evidenciando uma capacidade de observação de detalhes que vai além da percepção humana.

A aplicação prática dessa tecnologia, segundo os desenvolvedores, abrange desde a identificação de infraestruturas em necessidade de reparo até o monitoramento da biodiversidade e seu uso como ferramenta educacional. 

Contudo, a preocupação com o uso inadequado dessa capacidade persiste, especialmente no que diz respeito à privacidade individual e à potencial exploração para fins de vigilância governamental ou rastreamento corporativo.

A American Civil Liberties Union (ACLU) destaca que, mesmo com algumas imprecisões observadas durante os testes do PIGEON, a capacidade demonstrada pela IA em geolocalização oferece um vislumbre do potencial poder dessa tecnologia. 

Empresas como a Google já incorporam recursos de “estimativa de localização”, embora atualmente usem um catálogo limitado de marcos, justamente para evitar questões sobre o possível uso dessa tecnologia para rastrear os movimentos dos usuários.

A principal preocupação é que a IA poderia ser empregada para rastrear os movimentos das pessoas sem seu conhecimento ou consentimento. 

Essa capacidade tem implicações significativas para a privacidade, principalmente quando consideramos a proliferação de câmeras de vigilância e o vasto volume de imagens disponíveis online. 

A remoção da marcação de localização de fotos postadas online, uma prática anteriormente possível, agora pode não oferecer mais garantias contra a geolocalização por meio de IA.

Os desenvolvedores do PIGEON reconhecem os riscos associados à tecnologia e optaram por não disponibilizar seu modelo completo publicamente, indicando uma conscientização crescente sobre as implicações éticas e de privacidade. 

Todavia, é crucial que a sociedade como um todo esteja atenta às implicações dessa capacidade em evolução, à medida que a IA continua a se integrar cada vez mais em nossas vidas cotidianas. 

A busca por um equilíbrio entre avanço tecnológico e proteção da privacidade torna-se imperativa diante das potenciais ramificações dessa conquista da IA na geolocalização de imagens.

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Referências

HAAS, Lukas; ALBERTI, Silas; SKRETA, Michal. Pigeon: Predicting image geolocations. arXiv preprint arXiv:2307.05845, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 19 dez 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Inteligência artificial pode encontrar sua localização em fotos e preocupa especialistas em privacidade. Ciência Mundo, dez 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.