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Explosão espacial considerada “única a cada mil anos” desafia astrônomos

O evento GRB 221009A produziu mais energia que o nosso Sol produziria em 10 bilhões de anos, e continua derrubando teorias.

Explosão espacial considerada “única a cada mil anos” desafia astrônomos -

Imagem: Ciência Mundo Art

Em outubro de 2022, os cientistas registraram o evento astronômico GRB 221009A — uma explosão de raios gama de 18 teraelétron-volts de energia — considerada “única a cada mil anos”. Acredita-se que esse tenha sido o mais poderoso flash de raios gama já registrado.

Esse fenômeno tem chamado a atenção da comunidade científica que recentemente publicou três artigos no The Astrophysical Journal Letters, cada um com foco em diferentes aspectos do fenômeno (WILLIAMS, 2023; LASKAR, 2023; SHRESTHA, 2023).

As explosões de raios gama são as “erupções” cósmicas mais violentas do universo, capazes de liberar em um curto período mais energia do que o Sol liberaria em bilhões de anos.

Elas são causadas por eventos cataclísmicos, como explosões de supernova que ocorrem no final da vida de estrelas super massivas, ou colisões de sistemas binários envolvendo pelo menos uma estrela de nêutrons.

O GRB 221009A foi detectado pela primeira vez em 9 de outubro de 2022, e inicialmente foi considerado um flash menos poderoso de raios-X de uma fonte relativamente próxima.

No entanto, o acompanhamento revelou que o flash de luz viajou de muito mais longe do que se pensava: 2,4 bilhões de anos-luz! Isso faz dele um dos flashes mais poderosos já registrados.

Ecos de luz da explosão de raios gama GRB 221009A, viajando através de uma poeira
Ecos de luz da explosão de raios gama GRB 221009A, viajando através de uma poeira espessa, movendo-se em nossa direção, criando um efeito de “anel em expansão”.
Imagem: WILLIAMS, 2023.

Durante os 73 dias seguintes à descoberta inicial, os astrônomos observaram atentamente a evolução de sua curva de luz através de um gráfico ao longo do tempo.

Contudo, a equipe teve que interromper a observação após 70 dias, pois o pós-brilho do evento se moveu para trás do sol.

Um dos grandes desafios para a compreensão do GRB 221009A é entender por que sua curva de luz de pós-brilho não segue os padrões esperados.

Normalmente, quando uma explosão de raios gama ocorre, ela é seguida por um brilho de elétrons movendo-se em velocidades próximas à da luz.

Isso é conhecido como emissão de sincrotrão, choques que ocorrem quando a explosão inicial colide com o meio interestelar.

Segundo os pesquisadores, o brilho de pós-brilho do GRB 221009A sugere que a estrutura do jato é mais complicada do que se pensava ou não é tão estreitamente colimada. Se essa última hipótese estiver correta, isso terá implicações profundas para se determinar a energia do evento.

Outra possibilidade levantada pelos astrônomos é que possa haver uma fonte adicional de emissão de sincrotrão no pós-brilho do GRB 221009A, o que, nesse caso, indicaria algo fundamentalmente errado com a teoria do pós-brilho.

Uma terceira equipe de pesquisadores descobriu que o pós-brilho não contém algumas das características que se esperaria ver em uma explosão de supernova. Isso significa que a maior parte do suprimento de energia do GRB 221009A foi gasta nos jatos, deixando muito pouco para sugerir que uma estrela em explosão foi a responsável pelo evento.

O GRB 221009A representa um momento importante na história da astronomia, pois sua singularidade e intensidade desafiam o conhecimento atual e abrem caminho para novas descobertas.

Por ser um fenômeno tão raro, é pouco provável que outro evento parecido ocorra em nossas vidas. Os pesquisadores estão trabalhando duro para coletar dados e entender esse evento único, e espera-se que as análises adicionais desses dados ajudem a responder a muitas das perguntas ainda em aberto.

Além disso, o estudo de raios gama pode nos ajudar a entender melhor a origem e evolução do universo. A explosão de raios gama pode ter ocorrido a cerca de 2,4 bilhões de anos-luz da Terra, mas a luz desses eventos ainda pode nos fornecer informações valiosas sobre as origens do cosmos.

É importante destacar que esses avanços científicos não são possíveis sem o trabalho incansável de cientistas e pesquisadores dedicados, que muitas vezes passam anos coletando e analisando dados.

A descoberta do GRB 221009A é um lembrete do quanto ainda temos a aprender sobre o universo, e é empolgante pensar nas descobertas que ainda estão por vir.

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Vídeos

A maior explosão de raios gama já detectada no universo.
Vídeo: Canal “CIÊNCIA & CURIOSIDADE” em Youtube.

Referências

LASKAR, Tanmoy et al. The Radio to GeV Afterglow of GRB 221009A. arXiv preprint arXiv:2302.04388, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 17 fev 2023.

SHRESTHA, Manisha et al. Lack of Bright Supernova Emission in the Brightest Gamma-ray Burst, GRB~ 221009A. arXiv preprint arXiv:2302.03829, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 17 fev 2023.

WILLIAMS, Maia A. et al. GRB 221009A: Discovery of an Exceptionally Rare Nearby and Energetic Gamma-Ray Burst. arXiv preprint arXiv:2302.03642, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 17 fev 2023.

Notícias

We’ve Just Seen an ‘Exceptional’ Once-in-a-Millennium Space Explosion. Science Alert, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 17 fev 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Explosão espacial considerada “única a cada mil anos” desafia astrônomos. Ciência Mundo, fev 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.