Os resultados do estudo, coordenado pelo Dr. Abdullah Al Noman – da Universidade de Minnesota – foram apresentados na conferência de primavera de 2022 da American Chemical Society em San Diego na terça-feira, dia 22/03/2022.
Segundo Noman, desde que as pílulas anticoncepcionais femininas foram aprovadas, na década de 60, pesquisadores vêm tentando, sem sucesso, desenvolver um contraceptivo equivalente masculino.
Atualmente, as opções de controle de natalidade para homens são limitadas a preservativos (um contraceptivo de uso único propenso a falhas) ou vasectomia (um procedimento cirúrgico que pode ser difícil e às vezes caro de se reverter), enquanto as mulheres têm várias opções disponíveis, incluindo contraceptivos orais, DIUs e preservativos femininos.
Noman explica que a maioria das pílulas anticoncepcionais para mulheres atua nos hormônios sexuais femininos. Contudo, a mesma estratégia, ou seja, inibir o hormônio sexual masculino testosterona, se mostrou não saudável para os homens. Em vários ensaios clínicos, este método produziu efeitos colaterais desagradáveis, como ganho de peso, depressão e aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Isso dificulta a popularização de contraceptivos masculinos que usam esta abordagem, pois os homens não estão dispostos a tomar uma pílula anticoncepcional com efeitos colaterais significativos. Esse desconforto com a testosterona, levou vários pesquisadores a buscar alternativas, que não utilizem esse hormônio.
Uma dessas alternativas está sendo apresentada neste trabalho. Segundo o coautor Gunda Georg – da Universidade de Minnesota – o contraceptivo masculino proposto não atua na testosterona, e, por isso, possui alta eficácia e ausência de efeitos colaterais. Georg está considerando apenas os ótimos resultados obtidos com camundongos em um experimento recente.
Princípio ativo do novo contraceptivo
Para desenvolver o novo contraceptivo masculino, os pesquisadores “atacaram” uma proteína chamada receptor alfa do ácido retinóico (RAR-α). Esta proteína faz parte de uma família de três receptores nucleares que se ligam ao ácido retinóico, uma forma de vitamina A que desempenha papéis importantes na formação do esperma e no desenvolvimento embrionário.
A hipótese dos pesquisadores é a de que, removendo o receptor RAR-α dos mamíferos machos, eles se tornam estéreis. Após muito tempo de investigação a equipe descobriu que o composto YCT529 inibia, efetivamente, o RAR-α.
Os pesquisadores então realizaram um experimento onde o YCT529 foi oralmente administrado a camundongos por quatro semanas consecutivas. Como resultado, o novo composto reduziu drasticamente a contagem de espermatozóides nos camundongos e foi 99% eficaz na prevenção da gravidez, sem efeitos colaterais observáveis.
Além disso, os camundongos puderam gerar filhotes novamente quatro a seis semanas depois de pararem de receber o composto.
Com esses resultados, os cientistas esperam começar os testes do YCT529 em humanos na segunda metade de 2022.
Segundo Georg, “tão importante quanto inibir o RAR-α, foi observar que os camundongos estavam saudáveis após o ensaio”. “Porém temos que ter cautela com essa análise preliminar, pois estamos lidando com animais e não com humanos, embora os resultados sejam promissores”, complementa o pesquisador.
Noman afirma que, mesmo com os bons resultados obtidos com o YCT529 a equipe continua investigando outros compostos em busca de outras alternativas para neutralizar o RAR-α.
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Referências
Até 25/03/2022, os pesquisadores ainda não publicaram um relatório científico sobre o novo avanço.
Notícias
Male birth control pill 99% effective on mice, human trials to start soon. Global News, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 25 mar. 2022.
Male Contraceptive Pill Found 99% Effective in Mice, With No Observable Side Effects. Science Alert, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 25 mar. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Pilula anticoncepcional masculina atinge 99% de eficácia em ratos. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, mar. 2022. Disponível em: . Acesso em: .