O trabalho foi realizado pela equipe da professora Beth Shapiro – da Universidade da Califórnia – e só foi possível graças a uma amostra de DNA retirada de um crânio “preservado”, mantido no Museu de História Natural de Copenhague, na Dinamarca.
Shapiro explica que passou anos lutando para encontrar um exemplar com o DNA preservado. Sua maior aposta era o exemplar de Oxford, mas a amostra que lhe foi enviada, após várias solicitações, não tinha o código genético bem conservado.
Foi quando a professora recebeu autorização para extrair amostras de um crânio bem preservado guardado na Dinamarca, que, segundo ela, é um “exemplar fantástico”.
Como o pássaro dodô foi extinto?
O pássaro dodô era uma ave de aproximadamente um metro de altura, que não voava. Ele era um pouco maior do que um peru e pesava cerca de 23 kg. Tinha uma plumagem azul-acinzentada, cabeça grande, pequenas asas e fortes pernas amarelas.
Após ser descoberto, na ilha Maurício, foi exterminado em apenas 100 anos. Como a espécie viveu isolada na ilha por centenas de anos, sem predadores naturais, a ave era destemida e sua incapacidade de voar a tornava uma presa fácil.
Ela se tornou um símbolo da destruição pela presença da civilização, pois era caçada não só por humanos, mas também por gatos, cães e porcos que eram trazidos com os marinheiros que exploravam o Oceano Índico. O último registro de seu avistamento foi em 1662, quando marinheiros holandeses passaram pela ilha.
A palavra dodô significa “tolo”, em um dialeto português da época, e foi adotada após os colonialistas zombarem de sua aparente falta de medo de caçadores humanos.
O professor Mike Benton – da unidade de Paleontologia de Vertebrados da Universidade de Bristol – acredita que a ave talvez sobrevivesse no mundo de hoje, por conta dos diversos programas de proteção dos animais. Alguns críticos acham que isso é um paradoxo.
O trabalho genético
A professora Shapiro confirmou sua façanha científica quando foi pressionada por sua audiência em um seminário por videoconferência (webinário) na “The Royal Society” onde ela disse: “sim, nós conseguimos sequenciar o genoma do pássaro dodô por completo, mas ainda estamos trabalhando para formalizar a publicação científica”. O grupo de pesquisadores pretende publicar o trabalho através do Museu de História Natural da Copenhague, pois isso seria uma forma de agradecer a instituição pela colaboração.
Shapiro alerta, no entanto, que não será fácil transformar esses dados em um animal vivo, respirando e real. Segundo a professora, mamíferos, como a ovelha Dolly, são relativamente mais “simples” de se clonar. Já os pássaros possuem algumas complexidades no processo reprodutivo que ainda não dominamos por completo em laboratório.
Ela explica que é preciso haver outra abordagem para a reprodução artificial de clones de aves e este é um obstáculo tecnológico realmente fundamental na desextinção de várias espécies de aves como o pássaro dodô. A professora afirma haver vários grupos trabalhando em diferentes abordagens para fazer isso, pois este é um obstáculo adicional para as aves que não temos com os mamíferos.
Por estar geneticamente relacionado ao pombo Nicobar, é provável que os cientistas editem o DNA do pombo para incluir o DNA do dodô para trazer de volta a espécie. Alguns cientistas criticam essa estratégia alegando que, nesse caso, teríamos um ser híbrido e não o dodô de fato.
Segundo a professora Shapiro, ao sequenciar o genoma de uma espécie extinta, os cientistas normalmente enfrentam o desafio de ter que trabalhar com um DNA degradado que não fornece toda a informação genética necessária para reconstruir um genoma completo do animal extinto. Felizmente, com o exemplar de dodô da Dinamarca, a história foi diferente, já que foi possível obter todo o genoma da ave.
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Notícias
The return of the dodo? Scientists sequence the entire genome of the flightless bird for the first time – raising hopes it could be brought back from extinction. Daily Mail, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 20 mar. 2022.
Dodo DNA discovery could lead to revival of extinct bird. NYPost, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 19 mar. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Pássaro Dodô pode voltar a existir, graças a um exemplar “preservado”. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, mar. 2022. Disponível em: . Acesso em: .