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Pássaro dodô: Onde viveu? Quando foi extinto?

No passado desprezado e o hoje admirado. Conheça o pássaro dodô, um símbolo da devastação humana que nos desperta empatia até hoje.

Pássaro dodô: Onde viveu? Quando foi extinto? -

Imagem: Roelant Savery (1620) em Wikimedia Comons.

O que é o pássaro dodô?

O pássaro dodô é uma espécie de ave que ficou famosa por ter sido extinta menos de um século após sua descoberta.

Isso aconteceu porque o dodô não tinha predadores naturais na ilha que habitava, o que o tornou uma ave destemida na presença de estranhos e fácil de ser capturada.

O dodô é frequentemente citado como um dos exemplos mais conhecidos de extinção induzida pelo homem e também como símbolo do progresso não sustentável.

Uma réplica do dodô no Museu de História Natural de Oxford.
Uma réplica do dodô no Museu de História Natural de Oxford.
Imagem: Neil Turner em Wikimedia Commons.

Onde viveu e quando foi descoberto o pássaro dodô?

O pássaro dodô foi descoberto por marinheiros holandeses em 1598 nas ilhas Maurício, que ficam a leste de Madagascar, no Oceano Índico.

Árabes e portugueses já haviam visitado as ilhas entre 1507 e 1513, mas nenhum desses povos registrou a presença do pássaro dodô no local, embora o nome inicialmente dado ao lugar pelos portugueses, “ilha de Cerne (cisne)”, possa ser uma referência aos dodôs (FULLER, 2004).

Os primeiros relatos oficiais da existência do pássaro dodô foram produzidos durante uma expedição holandesa à Indonésia, comandada pelo almirante Jacob van Neck em 1598.

Sua existência foi pela primeira vez publicada em um relatório de navegação de 1601, onde aparece também a primeira ilustração conhecida de um pássaro dodô (HUME, 2004).

Primeira ilustração de um pássaro dodô (seta vermelha) em um jornal de navegação holandês.
Primeira ilustração de um pássaro dodô (seta vermelha) em um jornal de navegação holandês.
Imagem: John Theodore (1601) em Wikimedia Commons.

Qual a origem da palavra “dodô”?

O escritor Sir Thomas Herbert foi o primeiro a utilizar a palavra “dodô” em 1634, atribuindo sua origem aos portugueses que teriam visitado as ilhas Maurício em 1507, e chamado a ave que eles encontraram lá de dodô, fazendo uma referência à “doido” ou “tolo” (HUME, 2012).

Esse é um assunto que ainda está em debate, já que os portugueses nunca mencionaram os dodôs nos relatórios de navegação dessa época.

O pássaro dodô era um pássaro?

Não. Apesar de no Brasil o dodô ser popularmente chamado de “pássaro dodô”, ele, na verdade, pertence a uma ordem de aves chamada columbiformes, a qual pertencem também os pombos e as rolinhas.

Pássaros, como os pardais e os bem-te-vis pertencem à ordem dos passeriformes.

A confusão ocorre porque na língua inglesa o dodô é chamado de “bird“, uma palavra que é usada tanto para aves quanto para pássaros nesse idioma.

Logo, o dodô era, na realidade, uma espécie de “pombo gigante” e seu parente vivo mais próximo é o pombo-de-nicobar.

Pombo-de-nicobar, o parente vivo mais próximo do pássaro dodô.
Imagem: cuatrok77 em Wikimedia Commons.

Como era o pássaro dodô?

Os restos fósseis encontrados do pássaro dodô sugerem que ele tinha cerca de 1 metro de altura e pesava entre 10 a 15 kg na fase adulta (LIVEZEY, 1993).

As únicas referências que temos da aparência externa do pássaro dodô em vida são desenhos, pinturas e relatos descritos por pessoas que viveram com esses animais no século XVII.

Cotidiano de dois pássaros dodôs registrados em 1626 por Roelant Savery.
Cotidiano de dois pássaros dodôs registrados em 1626 por Roelant Savery.
Imagem: Roelant Savery em Wikimedia Commons

Normalmente, as ilustrações e pinturas sugerem uma ave de plumagem cinza-acastanhada, pés amarelos, um pequeno tufo de penas na cauda, cabeça careca cinza e bico nas cores preto, amarelo e verde (FULLER, 2004).

Um relatório de François Cauche de 1651 mostra que o pássaro dodô habitava principalmente as florestas nas áreas mais secas das ilhas Maurício e sua ninhada era de apenas um único ovo (STRICKLAND, 1848).

Os Biólogos acreditam que o dodô perdeu sua capacidade de voar devido a abundância de fontes de alimentos disponíveis e a ausência de predadores na Ilha. Sua estrutura física era bem adaptada ao seu ecossistema (FULLER, 2004).

Como apenas algumas ilustrações foram feitas na presença de dodôs realmente vivos, pouco se sabe sobre o comportamento desses animais.

Quando o pássaro dodô foi extinto?

A última visão de um pássaro dodô nas ilhas Maurício foi registrada em 1662, menos de um século após a descoberta da espécie (TURVEY, 2008).

Quando os holandeses saíram das ilhas Maurício em 1710, o pássaro dodô e outras espécies locais já estavam extintas (HUME, 2012).

Embora a população de pássaros dodôs estivesse diminuindo rapidamente ao longo do século XVII, sua extinção só foi reconhecida no século XIX, pois os religiosos não acreditavam que o desaparecimento de uma espécie fosse possível (TURVEY, 2008).

Por que o pássaro dodô foi extinto?

A ciência aponta várias possíveis causas para a extinção do pássaro dodô, todas relacionadas direta ou indiretamente com a devastação humana das ilhas Maurício.

A causa mais popular seria o abate das aves para o consumo de sua carne. Por ter evoluído na ausência de predadores significativos, o dodô não tinha medo dos humanos e também era incapaz de voar, dois fatores que fizeram da ave uma presa fácil para os marinheiros holandeses (CHEKE, 2008).

Holandeses caçando pássaros dodôs registrado em uma obra de Walter Paget em 1914.
Holandeses caçando pássaros dodôs registrado em uma obra de Walter Paget em 1914.
Imagem: Walter Paget Wikimedia Commons.

Contudo, a caça dos dodôs para consumo dos marinheiros não parece ter sido a principal causa de sua extinção. Viajantes que passaram pelas ilhas na época alegaram que a carne do pássaro dodô era dura, gordurosa e desagradável, por isso, preferiam comer papagaios e pombos (CHEKE, 2008).

Alguns arqueólogos e paleontólogos acreditam que a introdução de outros animais na ilha, como cães, gatos, porcos e macacos, teve um impacto mais severo na população de dodôs do que a caça humana. Esses animais, exóticos para o local, podem ter saqueado os ninhos que os dodôs faziam no chão, e competido por recursos alimentares limitados (CHEKE, 2008).

Outros pesquisadores afirmam que a destruição da floresta nativa pode ter causado algum desequilíbrio no ecossistema das ilhas na época (CHEKE, 1987).

Por que o pássaro dodô já foi considerado um mito?

Apesar de o pássaro dodô ser hoje “famoso” por ser uma espécie levada à extinção pela atividade humana, sua existência no mundo sequer era reconhecida até pouco tempo.

Ao contrário de outras espécies extintas das ilhas Maurício, o declínio e o desaparecimento do dodô não foi devidamente documentado pelos exploradores da época.

O fato das ilhas terem servido de base para diversos povos durante o século XVII, e do convívio da espécie com humanos ter ocorrido em um curto período, criou uma espécie de “amnésia cultural” na história.

Por muito tempo, cientistas contemporâneos duvidaram da existência da ave, que foi inclusive considerada um mito até o século XIX.

Graças ao trabalho insistente de uma legião de pesquisadores que tiveram que transpor vários obstáculos sócio culturais, o mundo agora conhece esse ícone da extinção causada pelo homem, que estava oculto no passado.

O pássaro dodô pode viver novamente?

Sim, graças aos recentes avanços da biologia e da genética, há esperança de que o pássaro dodô e outros animais extintos possam voltar a viver.

Em um desses trabalhos recentes, a professora Beth Shapiro – da Universidade da Califórnia – afirmou ter conseguido sequenciar completamente o genoma do pássaro dodô.

No trabalho, a professora Shapiro extraiu o material genético de um crânio intacto do pássaro dodô, que se encontra no Museu de História Natural de Copenhague.

A professora afirmou, no entanto, que ainda há alguns obstáculos tecnológicos que precisam ser vencidos, principalmente porque a clonagem de aves é um processo bem mais complexo do que a de mamíferos como a famosa ovelha Dolly.

Crânio de pássaro dodô, mantido no Museu de História Natural de Copenhague, na Dinamarca, e utilizado pela professora Shapiro para sequenciar o DNA da ave.
Crânio de pássaro dodô, mantido no Museu de História Natural de Copenhague, na Dinamarca, e utilizado pela professora Shapiro para sequenciar o DNA da ave.
Imagem: FunkMonk em Wikimedia Comoons.

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Vídeos

TUDO sobre o DODÔ: a enigmática ave EXTINTA
O que aconteceu omos dodôs?
(Em português)
VídeoCanal “Zoomundo” em Youtube.

Referências

TURVEY, Samuel T.; CHEKE, Anthony S. Dead as a dodo: the fortuitous rise to fame of an extinction icon. Historical Biology, v. 20, n. 2, p. 149-163, 2008. Disponível em: <link>. Acesso em: 3 set. 2022.

STRICKLAND, Hugh Edwin; MELLVILLE, Alexander Gordon. The Dodo and Its Kindred: Or, The History, Affinities, and Osteology of the Dodo, Solitaire, and Other Extinct Birds of the Islands Mauritius, Rodriguez, and Bourbon. Reeve, Benham, and Reeve, 1848. Disponível em: <link>. Acesso em: 3 set. 2022.

CHEKE, Anthony. The legacy of the dodo—conservation in Mauritius. Oryx, v. 21, n. 1, p. 29-36, 1987. Disponível em: <link>. Acesso em: 3 set. 2022.

CHEKE, A. S.; HUME, J. P. Lost land of the Dodo: the ecological history of the Mascarene Islands. T and AD Poyser, London, 2008. Acesso em: 3 set. 2022.

HUME, Julian P.; WALTERS, Michael. Extinct birds. A&C Black, 2012. Acesso em: 3 set. 2022.

FULLER, Errol. The Dodo: Extinction in Paradise. Bunker Hill Publishing, Inc., 2004. Acesso em: 4 set. 2022.

HUME, J.; MARTILL, J. D.; DEWDNE, C. Palaeobiology: Dutch diaries and the demise of the dodo. Nature, v. 429, p. 621, 2004.. Acesso em: 4 set. 2022.

LIVEZEY, Bradley C. An ecomorphological review of the dodo (Raphus cucullatus) and solitaire (Pezophaps solitaria), flightless Columbiformes of the Mascarene Islands. Journal of Zoology, v. 230, n. 2, p. 247-292, 1993.. Acesso em: 4 set. 2022.

Cite-nos

SANTOS, Gabriel. Pássaro dodô, a ave extinta pela humanidade. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, set.2022. Disponível em: . Acesso em: .


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.