A descoberta mostra que essas partículas podem viajar pelo corpo e até se alojar em órgãos, mas ainda não é conclusiva sobre seus impactos na saúde humana. Por isso, os pesquisadores estão agora “correndo” para saber se os microplásticos causam danos às células humanas, assim como as partículas de poluição do ar.
Os ecologistas já alertavam há anos sobre as enormes quantidades de resíduos plásticos despejadas no meio ambiente. Agora, os microplásticos, fragmentos extremamente pequenos desses resíduos descartados, contaminam todo o planeta, desde o cume do Monte Everest até os oceanos mais profundos.
O atual estudo foi realizado por um grupo de pesquisadores, coordenados pela professora Dra. Heather Leslie – da Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda – e publicado na revista Environment International (HEATHER, 2022).
Os cientistas analisaram amostras de sangue de 22 doadores anônimos saudáveis e encontraram partículas de plástico em 17 delas. Metade das amostras continha plástico PET, que é comumente usado em garrafas de bebidas, enquanto um terço continha poliestireno, principal componente do isopor usado para refrigerar alimentos e outros produtos. Ainda um quarto das amostras continha polietileno, plástico comum do qual são feitas as sacolas. Algumas das amostras de sangue continham dois ou três desses elementos.
“Nosso estudo é a primeira indicação de que temos partículas de polímeros em nosso sangue ”, disse o ecotoxicologista e coautor Dick Vethaak – da Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda. “Agora, temos que ampliar este estudo com outras investigações que considerem amostras maiores e um número maior de polímeros avaliados”.
Segundo os autores, é muito importante que nos preocupemos com esses polímeros, pois os cidadãos modernos já têm essas partículas há anos vagando pelo corpo, e nós não sabemos quase nada sobre seus efeitos. Isso pode ser ainda mais preocupante, se considerarmos as crianças, pois, estudos anteriores mostram que o volume de microplásticos é 10 vezes maior nas fezes dos bebês em comparação aos adultos. “Isso mostra que os bebês, alimentados com mamadeiras plásticas, estão engolindo milhões de partículas de microplástico por dia”, afirma Vethaak.
A equipe de pesquisadores utilizou tecnologias modernas de microscópio para detectar e analisar partículas tão pequenas quanto 0,0007 mm. Além disso, como o plástico está em tudo no nosso dia-a-dia, eles tomaram vários cuidados para evitar a contaminação das amostras, como, por exemplo, usar agulhas de seringa de aço e tubos de vidro.
Segundo Vethaak, a quantidade e o tipo de plástico variaram consideravelmente entre as amostras de sangue. Ele acredita que essas diferenças sejam referentes a exposições de curto prazo antes das amostras de sangue serem coletadas, como tomar um café em um copo plástico ou usar máscara facial.
Para Vethaak, o mais importante agora é entender o que estes micropláticos estão fazendo no nosso corpo. Essas partículas ficam retidas em algum lugar? Elas são capturadas por algum órgão específico? Esses níveis que encontramos em pessoas saudáveis são suficientemente altos para desencadear doenças? “Tudo isso precisa ser investigado, quanto antes”, alerta o professor.
Esta pesquisa foi financiada pela Organização Nacional Holandesa para Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, e pela Common Seas, uma empresa social que trabalha para reduzir a poluição plástica.
Segundo Jo Royle – fundadora da Common Seas – “temos o direito de saber o que todo esse plástico está fazendo com nossos corpos”. A Common Seas, juntamente com mais de 80 ONGs, cientistas e parlamentares, estão solicitando ao governo do Reino Unido £ 15 milhões para pesquisas sobre os impactos do plástico na saúde humana. A União Europeia já está financiando pesquisas sobre o impacto do microplástico em fetos, bebês e no sistema imunológico.
Um outro estudo recente descobriu que os microplásticos podem se prender às membranas externas dos glóbulos vermelhos, limitando sua capacidade de transportar oxigênio (FLEURY, 2021). Essas partículas também foram encontradas na placenta de mulheres grávidas e, em ratazanas grávidas.
Vethaak alerta que pesquisas mais detalhadas sobre como o micro e o nanoplástico afetam as estruturas e os processos do corpo humano são urgentes e necessárias. Poderiam essas substâncias transformar as células e induzir a carcinogênese? Não podemos relaxar, pois este é um problema sério, que cresce a cada dia.
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Referências
HEATHER, A. et al. Discovery and quantification of plastic particle pollution in human blood. Environment International, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 set. 2022.
FLEURY, Jean-Baptiste; BAULIN, Vladimir A. Microplastics destabilize lipid membranes by mechanical stretching. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 118, n. 31, 2021. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 set. 2022.
Notícias
Microplastics found in human blood for first time. The Guardian, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 ago. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Microplásticos são encontrados na corrente sanguínea. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, mar. 2022. Disponível em: . Acesso em: .