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Implante de coluna, pela primeira vez, permite que paraplégicos voltem a andar

Os pesquisadores instalaram uma matriz de eletrodos em um segmento ainda saudável da coluna de voluntários paraplégicos para reconduzir sinais vindos do cérebro.

Implante de coluna, pela primeira vez, permite que paraplégicos voltem a andar -

Imagem: ROWALD, 2022.

Michel Roccati sofreu um acidente de moto em 2017 que o deixou paralisado da cintura para baixo. Recentemente, em 2020, ele voltou a andar graças a um implante de coluna, que reconduz pulsos elétricos do cérebro para os músculos.

O procedimento faz parte de um estudo de longa duração sobre a utilização de pulsos elétricos para melhorar a qualidade de vida de pessoas com lesões sérias na coluna.

O trabalho, que teve a participação de uma grande equipe de pesquisadores, foi publicado na revista Nature por Andreas Rowald – PhD do Instituto de Tecnologia de Lausanne na Suíça (ROWALD, 2022).

Os três voluntários que participaram do estudo, ainda em andamento, ficaram fascinados com os resultados. Todos conseguiram dar alguns passos, logo após a instalação e ajuste do implante. Roccati afirma que, dar o primeiro passo, após o acidente, foi uma das experiências mais emocionantes de sua vida.

Primeiros movimentos dos voluntários, que tiveram que se apoiar por horas nos braços.
Imagem: ROWALD, 2022.

Segundo a neurocirurgiã Jocelyne Bloch – do Hospital Universitário de Lausanne, na Suíça – os eletrodos utilizados no atual experimento clínico são bem maiores do que os utilizados em ensaios anteriores. Com essa nova tecnologia, foi possível acessar mais músculos, possibilitando um maior controle dos movimentos pelo paciente.

Segundo Rowald esses primeiros passos, apesar de extraordinários para os pesquisadores, exigiram um pouco de sacrifício dos voluntários que tiveram que se apoiar nos braços por um tempo para aprender a lidar com seus “novos” movimentos.

Apesar disso, a equipe considerou a reabilitação dos voluntários rápida, pois todos conseguiram caminhar, com o auxílio de um andador, em apenas quatro meses. Eles agora podem andar na neve, nadar e até subir escadas.

Roccati consegue ficar de pé por até duas horas, e andar quase um quilômetro sem parar. Ele afirma que, graças ao implante, pode novamente olhar as pessoas nos olhos, tomar banho de pé e executar outras tarefas simples, mas desafiadoras para paraplégicos.

Os participantes já conseguem andar na neve, nadar e até subir escadas.
Imagem: ROWALD, 2022.

Um fato curioso é que dois dos voluntários conseguem agora ativar alguns músculos sem o auxílio do sistema de pulsos elétricos. Mas essas contrações ainda são bem leves e precisam ser investigadas mais a fundo em trabalhos futuros.

Os três voluntários ficaram paraplégicos em acidentes que ocorreram um ano antes do estudo. Bloch quer agora testar esta tecnologia em pessoas que sofreram acidentes mais recentes, pois acredita que quanto mais cedo for realizado o procedimento, melhores serão os resultados.

Rowald, que tem doutorado em engenharia elétrica, explica que o sistema ainda precisa de algumas melhorias, principalmente no mecanismo de estimulação. No momento, este dispositivo consiste em um computador, relativamente grande, carregado pelo paciente para ativar os padrões de pulso. A equipe investiga a possibilidade de miniaturizar o mecanismo através de um sistema híbrido, com um nano computador instalado junto ao implante, mas controlado por um smartphone.

Desde a publicação do estudo, a Dra. Bloch recebe cerca de 5 mensagens por dia de pacientes buscando informações sobre a disponibilidade desse tratamento. Contudo, ela alerta que ainda há um longo caminho, até que o implante esteja disponível para a população.

Os pesquisadores acrescentam também que o implante é adequado apenas para lesões que ocorreram acima da medula espinhal torácica inferior – região entre a base do pescoço e o abdômen – pois são necessários alguns centímetros de medular espinhal saudável.

Segundo Rowald, a equipe pretende realizar, ainda este ano, um ensaio em larga escala com até 100 pacientes dos Estados Unidos e Europa.

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Vídeos

Implante devolve movimento a três paciente paraplégicos
Um resumo deste trabalho realizado na Suíça com três voluntários paraplégicos.
Vídeo: Canal “Band Jornalismo” em Youtube.

Referências

ROWALD, A., Komi, S., Demesmaeker, R. et al. Activity-dependent spinal cord neuromodulation rapidly restores trunk and leg motor functions after complete paralysis. Nat Med. 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 09 fev. 2022.

Notícias

Spinal Implant Enables Paralyzed Man With Severed Spine to Walk Again. Science Alert, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 9 fev. 2022.

Cite-nos

SANTOS, Gabriel. Implante de coluna, pela primeira vez, permite que paraplégicos voltem a andar. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, fev. 2022. Disponível em: . Acesso em: .


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.