A lealdade dos funcionários é uma qualidade valorizada pelos gestores nas empresas.
Funcionários dedicados, comprometidos e leais são frequentemente considerados como ativos valiosos para as organizações.
No entanto, um novo estudo revela que essa lealdade pode se tornar uma vulnerabilidade, resultando na exploração desses funcionários por meio da atribuição de trabalho não remunerado ou tarefas extras.
Realizado por pesquisadores da Duke University’s Fuqua School of Business, nos Estados Unidos, o estudo envolveu cerca de 1.400 gestores recrutados pela internet (STANLEY, 2023).
Os gestores foram apresentados a diferentes cenários envolvendo um funcionário fictício chamado John, que trabalha em uma empresa que busca reduzir custos.
Os gestores avaliaram sua disposição em atribuir a John horas extras de trabalho e tarefas adicionais sem remuneração.
Os resultados do estudo revelaram que os gestores tendem a atribuir mais trabalho a funcionários que são percebidos como leais, independentemente de como o cenário foi apresentado.
Recomendações de cartas destacando a lealdade de John aumentaram a disposição dos gestores em atribuir a ele trabalho não remunerado.
Outras características positivas, como honestidade ou justiça, não tiveram o mesmo efeito.
Isso sugere que é especificamente a lealdade que faz com que os gestores se sintam mais confortáveis em atribuir trabalho extra a esses funcionários.
Além disso, o estudo também mostrou que quando John aceitava o trabalho extra, reforçava a percepção dos gestores sobre sua lealdade.
Quando os gestores percebiam que John era alguém aberto a horas extras e tarefas adicionais, eles o avaliavam como mais leal em comparação com outros “Johns” que costumam recusar trabalho extra opcional.
Segundo os pesquisadores, isso cria um ciclo vicioso em que os funcionários leais são mais propensos a serem explorados e, quando aceitam essa exploração, sua reputação de lealdade é reforçada, tornando-os mais suscetíveis a serem explorados novamente no futuro.
O estudo ressalta, no entanto, que nem todos os gestores são mal-intencionados.
Alguns podem ser inconscientes das consequências de suas decisões, sofrendo de uma espécie de “cegueira ética“, que não os permite perceber a injustiça de suas ações.
No entanto, essa exploração pode causar impactos negativos no funcionário, levando-o a uma carga de trabalho excessiva e comprometendo sua saúde e bem-estar no trabalho.
Outro aspecto relevante observado pelos pesquisadores é a dinâmica de poder entre os gestores e os funcionários.
Os gestores normalmente têm controle sobre recursos vitais, como salário e benefícios de saúde, o que pode criar um ambiente em que os funcionários se sintam incapazes de recusar solicitações de trabalho extra sem remuneração com segurança.
No entanto, os gestores podem considerar esse “medo” como algo “normal”, justificando naturalmente os trabalhos extra dos funcionários mais leais como parte de sua lealdade à empresa.
Para os pesquisadores, é importante aumentar a conscientização dos gestores sobre esse fenômeno e promover uma cultura ética no ambiente de trabalho.
É fundamental que os gestores compreendam que atribuir trabalho extra não remunerado a funcionários leais é uma prática injusta e exploratória, mesmo que seja considerada como uma forma de “recompensar” a lealdade dos funcionários.
Para evitar a exploração da lealdade dos funcionários, é necessário estabelecer políticas claras sobre a atribuição de trabalho e horas extras, garantindo que os funcionários sejam justamente compensados pelo trabalho adicional realizado.
Além disso, é importante promover uma cultura que encoraje os funcionários a expressar suas preocupações e a recusar tarefas excessivas sem medo de retaliação.
Os pesquisadores afirmam que os funcionários também têm um papel fundamental na prevenção da exploração de sua lealdade.
É importante que eles estejam cientes de seus direitos e saibam que podem recusar trabalho extra não remunerado quando for injusto ou excessivo.
É fundamental que os funcionários não aceitem a exploração de sua lealdade como algo normal ou aceitável.
Para os especialistas em recursos humanos, ética empresarial e liderança, é relevante promover a discussão sobre a exploração da lealdade dos funcionários nas empresas.
É necessário conscientizar os gestores sobre os impactos negativos dessa prática e incentivar a implementação de políticas e práticas que promovam uma cultura ética e justa no ambiente de trabalho.
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Referências
STANLEY, Matthew L.; NECK, Christopher B.; NECK, Christopher P. Loyal workers are selectively and ironically targeted for exploitation. Journal of Experimental Social Psychology, v. 106, p. 104442, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 11 abr 2023.
Notícias
Loyal Workers Are More Likely to Be Exploited, And This Is Why. Science Alert, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 11 abr 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Funcionários leais estão mais propensos a serem explorados, aponta estudo. Ciência Mundo, abr 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.