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Peixes “falam” há 155 milhões de anos, mas só agora descobrimos isso

Assim como os sons que enchem o ar das florestas, as águas do nosso planeta são repletas de coaxados, gorjeios e gemidos.

Peixes “falam” há 155 milhões de anos, mas só agora descobrimos isso -

Imagem: Benson Kua em Flickr.

Os recifes, por exemplo, são lugares surpreendentemente barulhentos, muito por conta da algazarra dos peixes, que por muito tempo, achamos que dependiam exclusivamente de artifícios como cores e linguagem corporal para se comunicar.

No entanto, em um trabalho recente coordenado pelo ecologista Aaron Rice – da Universidade de Cornell – foi demonstrado que os peixes são tão comunicativos e ruidosos quanto os pássaros, exibindo, inclusive, comportamentos similares como coros ao amanhecer e ao anoitecer.

“Sabemos há muito tempo que alguns peixes fazem sons, mas esses barulhos sempre foram considerados insignificantes e casuais pela ciência”, afirma Rice. “Esta capacidade dos peixes sempre foi ignorada, pois é muito difícil identificar padrões sonoros produzidos por esses animais. Além disso, a ciência da comunicação acústica submarina costuma se concentrar apenas em baleias e golfinhos”.

Para demonstrar esta teoria, Rice e seus amigos realizaram uma revisão bibliográfica, em busca de descrições anatômicas, gravações sonoras e relatos vocais, que apontassem características fisiológicas que permitam aos peixes – especificamente, ao grupo nadadeira raiada (ou Actinopterygii) – produzir ruídos sem cordas vocais. O Actinopterygii é o grupo dominante dos vertebrados, com mais de 34.000 espécies atualmente catalogadas.

Rice explica que esses peixes desenvolveram várias especializações para se comunicar, como, por exemplo, ranger os dentes e fazer barulho de movimento na água. A adaptação mais comum são os músculos da bexiga natatória, que fazem contrações rápidas para produzir ruídos controlados.

A revisão bibliográfica de Rice mostra que, das 175 famílias de peixes, dois terços provavelmente se comunicam através de sons, uma previsão muito maior do que as atuais estimativas que sugerem um quinto.

Ao analisar a fisiologia dos ancestrais do grupo Actinopterygii Rice afirma que há evidências de que esses mecanismos de comunicação vocal possam ter evoluído ao menos 33 vezes nos últimos 155 milhões de anos. Isso é algo realmente curioso, pois as evidências da literatura atual sugerem que animais terrestres com espinha dorsal também começaram a vocalizar há 155 milhões de anos.

Os dados da análise sugerem ainda que alguns peixes são mais falantes do que outros, sendo o peixe-sapo e o peixe-gato as espécies mais comunicativas. No entanto, Rice e sua equipe alertam que esta análise mostra apenas a presença da vocalização em peixes, mas não a ausência, pois este aspecto não pôde ser contemplado no trabalho devido à escassez de fontes confiáveis na literatura.

“Quanto ao que os peixes estão tentando dizer, eles provavelmente estão tagarelando sobre comida, avisos de perigo, acontecimentos sociais (incluindo discussões territoriais) e, claro, sexo”, segundo Rice. A equipe de pesquisadores explica que esta é uma questão que não foi devidamente tratada, pois, não era o foco desta pesquisa.

“Após tanto tempo estudando peixes que respiram, voam, comem coisas estranhas e agora, falam, chego a conclusão de que esses animais subestimados são capazes de tudo, e nada mais me surpreende”, afirma Rice, sorridente.

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Referências

RICE, Aaron N. et al. Evolutionary Patterns in Sound Production across Fishes. Ichthyology & Herpetology, v. 110, n. 1, p. 1-12, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 set. 2022.

Notícias

Fish Have ‘Talked’ For 155 Million Years, And Now You Can Hear Their ‘Voices’. Science Alert, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 01 mar. 2022.

Cite-nos

SANTOS, Gabriel. Peixes “falam” há 155 milhões de anos, mas só agora descobrimos isso. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, mar. 2022. Disponível em: . Acesso em: .


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.