A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo e uma de suas espécies é a perereca-comedora-de-frutos (Xenohyla truncata), um anfíbio endêmico da restinga do Rio de Janeiro.
Como sugere o nome, essa perereca tem uma dieta onívora, se alimentando tanto de insetos como de partes das plantas, incluindo frutos.
Recentemente, pesquisadores descobriram que essa pequena perereca pode ter uma função ainda mais importante no ecossistema: a de polinizadora.
A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores liderado por Henrique Nogueira, especialista em anfíbios da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (DE-OLIVEIRA-NOGUEIRA, 2023).
Enquanto monitorava um grupo de pererecas em seu habitat natural em Búzios, no Rio de Janeiro, ele flagrou os animais entrando em flores maiores para sugar o seu néctar.
O que chamou a atenção foi que, ao sair das flores, as pererecas estavam com grãos de pólen aderidos ao dorso.
Isso levou os pesquisadores a concluir que essas pererecas podem ser potenciais polinizadoras, algo inédito no mundo dos anfíbios.
De fato, a polinização por anfíbios é rara e pouco estudada.
A maioria dos anfíbios tem uma dieta carnívora, se alimentando de insetos e outros invertebrados.
As exceções são poucas e incluem alguns sapos que se alimentam de néctar e pólen, como o sapo-pingo-de-ouro, encontrado na Mata Atlântica e considerado uma espécie ameaçada.
Mas até agora, nenhum anfíbio havia sido observado polinizando flores.
O fato de a perereca-comedora-de-frutos ser uma potencial polinizadora é especialmente relevante porque essa espécie é exclusiva da restinga do Rio de Janeiro e está ameaçada de extinção.
Além disso, ela tem preferência por frutas, o que a torna uma importante dispersora de sementes.
Como os pesquisadores destacam em seu artigo científico publicado na revista Food Webs, a polinização seria uma ajuda extra para a natureza, já que o objetivo da perereca provavelmente é a ingestão de néctar durante a estação reprodutiva, que pode beneficiar indivíduos sob alta demanda energética.
Mas como a perereca-comedora-de-frutos realiza a polinização?
Os pesquisadores ainda não sabem ao certo, mas acreditam que ela possa estar transportando o pólen acidentalmente, ao se alimentar de néctar.
Como a perereca não tem uma língua protrátil como os beija-flores, ela não consegue coletar o néctar diretamente da flor, mas sim se inserir na corola, em busca do líquido açucarado.
Ao fazer isso, ela entra em contato com os órgãos reprodutivos de uma flor e transporta o seu pólen para outras flores.
Outra possibilidade é que a perereca possa estar lambendo os grãos de pólen que ficam em seu corpo durante a sua alimentação.
Ao se mover entre as flores, ela pode estar depositando o pólen em outros órgãos reprodutivos e assim realizar a polinização.
De qualquer forma, essa descoberta destaca a importância de estudos sobre a biodiversidade e os ecossistemas, e como espécies aparentemente simples e comuns podem ter funções ecológicas fundamentais para a manutenção da vida na Terra.
A perereca-comedora-de-frutos, por exemplo, pode estar há muito tempo desempenhando um papel vital como dispersora de sementes, mas só agora os pesquisadores se atentaram para isso.
Vídeos
Vídeo: Canal “Olho No Agro” em Youtube.
Referências
DE-OLIVEIRA-NOGUEIRA, Carlos Henrique et al. Between fruits, flowers and nectar: The extraordinary diet of the frog Xenohyla truncata. Food Webs, v. 35, p. e00281, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Perereca brasileira pode ser o primeiro anfíbio polinizador encontrado pela ciência. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.
Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.
