Um novo estudo publicado na revista científica “Journal of Archaeological Science” apresenta evidências diretas do uso de drogas alucinógenas pelos habitantes da Europa na Idade do Bronze (GUERRA-DOCE, 2023).
Os pesquisadores analisaram cabelos encontrados em um sítio funerário de 3.600 anos na ilha Menorca da Espanha, e descobriram traços de substâncias como atropina, escopolamina e efedrina, que podem induzir alucinações e alterar a percepção sensorial.
Embora as descobertas de restos de plantas psicoativas e ferramentas de preparação e representações artísticas tenham sugerido que as culturas européias buscavam estados alterados de consciência, essa é a primeira vez que foram encontrados evidências de substâncias em amostras de tecido corporal.
Os pesquisadores acreditam que as plantas psicoativas mais prováveis de onde as drogas vieram são a mandrágora, henbane, Datura stramonium e pinheiro comum, que eram abundantes na região onde o sítio funerário está localizado e foram encontradas em outros sítios semelhantes.
Segundo os pesquisadores, as drogas podem ter sido administradas como parte de rituais e provavelmente foram fornecidas por um xamã, um indivíduo antigo que combinava práticas médicas e religiosas e teria extenso conhecimento na preparação e entrega dos materiais vegetais.
“Considerando a potencial toxicidade dos alcaloides encontrados nos cabelos, seu manuseio, uso e aplicação representavam conhecimentos altamente especializados”, escrevem os pesquisadores.
“Esse conhecimento era tipicamente possuído por xamãs, que eram capazes de controlar os efeitos colaterais das plantas por meio de um estado de êxtase que tornava possível o diagnóstico ou a adivinhação”.
Os cabelos foram encontrados na caverna de Es Càrritx em Menorca, onde mais de 200 pessoas foram enterradas.
Embora amostras de cabelos tenham sido coletadas apenas de algumas dessas pessoas, a tintura vermelha em seus cabelos fazia parte do ritual funerário e foram colocados em recipientes especiais na parte de trás da câmara da caverna.
Os recipientes são feitos de madeira e chifre e apresentam círculos concêntricos que podem ter sido pintados para representar olhos.
Os pesquisadores acreditam que a preservação dos cabelos pode ter sido uma tentativa de manter tradições locais após uma mudança cultural que parece ter ocorrido na época.
Os resultados confirmam o uso de diferentes plantas alcaloides pelas comunidades locais da ilha do mediterrâneo no início do primeiro milênio a.C.
Este estudo só foi possível graças ao uso de técnicas avançadas de análise para identificar substâncias em amostras antigas de tecido corporal.
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Referências
GUERRA-DOCE, E. et al. Direct evidence of the use of multiple drugs in Bronze Age Menorca (Western Mediterranean) from human hair analysis. Scientific Reports, v. 13, n. 1, p. 4782, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 10 abr 2023.
Notícias
Ancient Hair Reveals Traces of Hallucinogenic Drugs Taken 3,600 Years Ago. Science News, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 10 abr 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Cabelo antigo revela traços de drogas alucinógenas usadas há 3.600 anos. Ciência Mundo, abr 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.