Estrelas do mesmo tamanho ou maiores que o nosso Sol, normalmente, estão em sistemas binários ou múltiplos. Sistemas planetários com mais de uma estrela são muito diferentes da nossa realidade, e, por isso, despertam o interesse de pesquisadores que tentam descobrir como seria a perspectiva da vida em um planeta nesse contexto.
Sabemos que planetas podem orbitar uma estrela solitária (como ocorre no nosso Sistema Solar) ou múltiplas estarelas próximas (como em sistemas binários). Poucos pesquisadores, no entanto, consideraram a possibilidade de ambos os padrões ocorrerem em um único sistema.
Usando os telescópios Very Large Array (VLA) e o Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array (ALMA), uma equipe liderada pela Dra. Ana Karla Díaz-Rodríguez, – da Universidade de Manchester – revelou que o sistema binário estelar SVS 13, a 980 anos-luz de distância, poderá possuir múltiplos sistemas planetários, daqui a alguns milhões de anos (DIAZ-RODRIGUEZ, 2021).
Assim como outras estrelas jovens, este sistema binário está cercado por um disco de material que está se condensando lentamente e eventualmente se transformará em planetas. Contudo, um exame mais detalhado mostrou algo mais.
“Nossas análises revelaram que cada estrela possui ao seu redor um disco de gás e poeira independente, além de haver também um disco maior em torno de ambas”, explica Díaz-Rodríguez. “Este disco externo, com a forma de uma espiral irregular, está alimentando com matéria os discos menores internos, possibilitando assim que diversos sistemas planetários possam se formar no futuro.”
Os braços espirais do disco externo, que se estendem centenas de vezes além da distância do Sol à Terra, contém mais de 50 vezes a massa de Júpiter. Já os raios dos discos em torno de cada estrela são menores que os normalmente encontrados em torno de estrelas solitárias. Esses discos menores são bem menos massivos do que o disco maior e se estendem o equivalente às órbitas de Saturno e Urano, respectivamente.
As estrelas componentes de SVS 13 estão afastadas uma da outra duas vezes a distância do Sol a Netuno. Suas massas combinadas são menores que a do Sol, e por isso nunca serão muito luminosas.
Considerando o disco protoplanetário maior, que orbita ambas as estrelas, qualquer planeta formado no futuro nesta região será quase tão frio quanto um objeto viajando no espaço interestelar.
Por outro lado, os discos menores individuais de cada estrela poderiam eventualmente originar planetas em uma zona habitável menos fria. Na perspectiva de quem vivesse dentro dessa zona de cada estrela, a outra estrela pareceria mais um planeta brilhante do que um segundo Sol.
A hipótese de haver vida nos futuros planetas de SVS 13 surgiu após a equipe rastrear quase 30 moléculas diferentes nos discos, incluindo 13 precursoras da vida.
Como o estudo da formação de discos em torno de estrelas binárias ainda é uma área nova de pesquisa, ainda não sabemos se SVS 13 é um caso típico no universo. Contudo, os pesquisadores esperam que as análises deste sistema binário estelar possam servir de modelo para o estudo de sistemas planetários deste tipo no futuro.
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Referências
DIAZ-RODRIGUEZ, Ana K. et al. The Physical Properties of the SVS 13 Protobinary System: Two Circumstellar Disks and a Spiraling Circumbinary Disk in the Making. arXiv preprint arXiv:2111.11787, 2021. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 set. 2022.
Notícias
Incredibly, Three Planetary Systems Spotted Forming Around One Binary Star. IFLScience, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 ago. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Três sistemas planetários em formação são registrados em torno de uma estrela binária. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, mar. 2022. Disponível em: . Acesso em: .