Um novo estudo, conduzido por uma equipe internacional de 29 cientistas, revelou que a atividade humana está enfraquecendo a resiliência da Terra, levando-a muito além do que é considerado o “limite operacional seguro” para a maioria das espécies, incluindo a nossa própria (RICHARDSON, 2023).
Os pesquisadores advertem que seis dos nove alertas de limite planetário considerados no trabalho estão atualmente no “vermelho”, indicando que ultrapassamos os níveis considerados seguros.
Esses nove limites planetários, que incluem mudanças climáticas, desmatamento, perda de biodiversidade, produtos químicos sintéticos, escassez de água doce, uso de nitrogênio, acidificação oceânica, poluição atmosférica por partículas e depleção da camada de ozônio, são fundamentais para manter as condições de vida na Terra que prevaleceram nos últimos 10.000 anos, período de desenvolvimento da humanidade e da civilização moderna.
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O estudo, liderado por Katherine Richardson, professora do Instituto Globe da Universidade de Copenhague, é a segunda grande atualização desse conceito, apresentado pela primeira vez em 2009, quando apenas o aquecimento global, as taxas de extinção e o nitrogênio haviam ultrapassado seus limites.
Infelizmente, segundo Johan Rockstrom, co-autor do estudo e diretor do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático, estamos ainda “seguindo na direção errada”.
Com exceção da camada de ozônio, que está lentamente se recuperando após a proibição de substâncias destruidoras, não há indicações de que os outros limites estejam se ajustando.
Os dados revelam que estamos perdendo resiliência e colocando em risco a estabilidade do sistema Terra.
Para a biodiversidade, por exemplo, a taxa atual de extinção é pelo menos 100 vezes mais rápida do que a taxa média nos últimos 10 milhões de anos, ultrapassando em 10 vezes o limite considerado seguro.
Em relação às mudanças climáticas, o limiar está diretamente ligado à concentração de CO₂ na atmosfera, que hoje é de 417 partes por milhão (ppm), muito acima do limite seguro de 350 ppm.
Como resultado, estamos seguindo um caminho que nos levará a um aumento de temperatura de até 2,7°C, algo que não ocorre há quatro milhões de anos e que pode ser insustentável para os seres humanos.
O estudo revelou também que milhares de compostos químicos criados pelo homem, como microplásticos, pesticidas e resíduos nucleares, também excedem os limites seguros na biosfera.
Além disso, estamos esgotando rapidamente a água “verde” (originária de solos e plantas) e “azul” (de rios e lagos), prejudicando ainda mais a resiliência do planeta.
Um achado importante é que esses limites planetários estão interligados e podem se amplificar mutuamente.
Por exemplo, o aumento da concentração de CO₂ na atmosfera está relacionado à perda de florestas, e ambos contribuem para o aumento da temperatura global.
Assim, é essencial que, ao reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa, também paremos a destruição de florestas, para evitar um aquecimento incontrolável.
Felizmente, o estudo conclui que todos esses limites podem ser restabelecidos em um espaço seguro, desde que estabeleçamos limites rigorosos para a quantidade de poluição que lançamos no ambiente e para a exploração de recursos naturais, vivos e não vivos.
O conceito dos limites planetários, inicialmente debatido, tornou-se uma pedra angular da ciência do sistema Terra, influenciando políticas e até mesmo o mundo dos negócios.
No entanto, este estudo nos lembra que a Terra está à beira de um colapso e que é imperativo agir de forma decisiva e imediata para preservar nosso único lar e garantir um futuro sustentável para todas as formas de vida.
Referências
RICHARDSON, Katherine et al. Earth beyond six of nine Planetary Boundaries. Science Advances, v. 9, n. 37, p. eadh2458, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 16 set 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Terra ultrapassa os limites planetários seguros, alerta estudo. Ciência Mundo, set 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.
Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.
