A utilização de materiais biodegradáveis vem ganhando cada vez mais destaque em diversas áreas da indústria, principalmente na moda.
Recentemente, cientistas da Universidade de Newcastle e da Universidade Northumbria, no Reino Unido, descobriram que os filamentos finos parecidos com raízes produzidos por muitos fungos podem ser utilizados como um material biodegradável, vestível e que é capaz de se reparar (ELSACKER, 2023).
A equipe de pesquisa focou no fungo Ganoderma lucidum, produzindo uma espécie de pele “artificial”, similar ao couro, a partir de filamentos ramificados conhecidos como hifas, que juntos tecem em uma estrutura chamada micélio.
Segundo os pesquisadores, essa pele artificial poderia substituir o couro animal em produtos veganos, com um impacto ambiental muito menor do que os materiais tradicionais.
Essa invenção é interessante porque a produção de couro animal é um processo que gera uma grande quantidade de resíduos tóxicos e contribui para o desmatamento, emissão de gases de efeito estufa e consumo excessivo de água.
Além disso, o couro industrializado é um material que não é biodegradável, contribuindo para a poluição do meio ambiente.
O couro que se regenera
Os materiais de micélio já são usados em uma variedade de áreas, desde a construção até a produção de tecidos.
No entanto, o processo utilizado para produzir esses materiais tende a matar os esporos fúngicos que ajudam o organismo a se regenerar.
Os pesquisadores descobriram um novo método de produção que não mata os esporos, permitindo que a pele de micélio se regenere, sendo capaz, inclusive, de substituir buracos feitos neles.
Embora o material de micélio, criado em laboratório, ainda seja um pouco frágil para se produzir roupas de couro — como jaquetas, por exemplo — os pesquisadores estão confiantes de que inovações futuras podem torná-lo mais forte.
Os testes realizados pelos pesquisadores mostraram que o material de micélio pode sobreviver em ambientes secos e oligotróficos, ou seja, em ambientes com baixa disponibilidade de nutrientes.
Além disso, a capacidade do material de se autorregenerar, sem a necessidade de intervenção humana, é uma característica que o torna ainda mais promissor.
O futuro dos materiais de micélio “vivos”
Ainda há muito trabalho a ser feito antes que o material de micélio possa ser usado na produção em larga escala.
O processo de crescimento e regeneração ainda é lento e requer alguns dias para ser concluído.
No entanto, as perspectivas futuras são animadoras, uma vez que materiais com células vivas em sua composição, como os ELMs (Engineered Living Materials), oferecem um potencial significativo devido às suas propriedades funcionais, como auto-montagem, sensoriamento e auto-reparo.
A equipe de pesquisa também fez algumas experiências com o fungo Pleurotus ostreatus, que não tem esporos fúngicos em sua composição.
O resultado mostrou que ele não é capaz de se regenerar como o Ganoderma lucidum, mas ainda é possível produzir um material biodegradável a partir dele.
Isso sugere que há uma variedade de fungos que podem ser usados na produção de materiais biodegradáveis, e que ainda há muito espaço para pesquisas e inovações nessa área.
Embora ainda haja muito a ser feito para tornar essa técnica viável em larga escala, os resultados já obtidos são promissores e mostram que a solução para os problemas ambientais pode estar em soluções inovadoras e sustentáveis.
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Referências
ELSACKER, Elise; ZHANG, Meng; DADE‐ROBERTSON, Martyn. Fungal Engineered Living Materials: The Viability of Pure Mycelium Materials with Self‐Healing Functionalities. Advanced Functional Materials, p. 2301875, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 7 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Roupas do futuro podem ser feitas de um material vivo e auto-reparável. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.