Apesar de nunca termos encontrado a mítica “fonte da juventude”, pesquisadores de áreas como biologia molecular e genética buscam, já há algum tempo, métodos para retardar a senescência através do rejuvenescimento celular. Em um desses trabalhos recentes, pesquisadores conseguiram reprogramar uma célula da pele humana, transformando-a em uma célula-tronco, biologicamente mais jovem, que mantém algumas características da célula original.
O estudo foi coordenado pelo biólogo Diljeet Gill — do Instituto Babraham, no Reino Unido, — e baseado no trabalho do Prêmio Nobe Shinya Yamanaka, que conseguiu transformar células normais, com funções específicas, em células-tronco, que podem se tornar “qualquer coisa” (GILL, 2022).
Segundo Gill , a nossa compreensão do envelhecimento ao nível molecular evoluiu muito na última década, possibilitando a criação de técnicas que permitem aos pesquisadores medir as mudanças biológicas relacionadas à idade das células humanas. Algumas dessas técnicas foram utilizadas no atual experimento para determinar a extensão da reprogramação alcançada pelo novo método proposto.
O novo método, apelidado de “reprogramação transitória de fase de maturação”, funciona em apenas 13 dias (o método do professor Yamanaka funcionava em 50 dias) e consegue manter a identidade e as funções originais da célula, antes que o estado da célula-tronco seja alcançado.
A equipe de pesquisadores aferiu uma série de indicadores biológicos, incluindo o relógio epigenético (marcadores químicos que indicam a idade) e o transcriptoma (leituras de genes produzidas pelas células) para confirmar que as células da pele realmente foram revertidas na idade biológica por três décadas.
Observou-se que as células rejuvenescidas voltaram a produzir colágeno — uma proteína útil para estruturar tecidos e curar feridas — a uma taxa superior às células jovens de controle usadas no estudo. Para os pesquisadores, isso mostra que o novo método de reprogramação é capaz de rejuvenescer células velhas sem que elas percam suas funções. Além disso, observou-se também uma reversão em alguns indicadores de envelhecimento em genes associados a doenças, algo que merece ser investigado em trabalhos futuros.
Os cientistas ainda não entendem completamente o funcionamento do mecanismo por trás da reprogramação transitória da fase de maturação, mas acreditam que certos elementos-chave do genoma, que ajudam a controlar a identidade celular, podem ter escapado da reprogramação.
Gill e sua equipe ficaram empolgados com os resultados iniciais. Segundo eles, o envelhecimento traz uma série de problemas de saúde, como doenças cardíacas e Alzheimer, e o atual trabalho pode ajudar a encontrar maneiras de enfrentar a progressão desses distúrbios.
O próximo passo agora é tentar aplicar as técnicas usadas neste estudo a outros tipos de células do corpo e garantir que os processos sejam seguros, antes de serem testados fora do laboratório em ensaios clínicos.
Segundo o biólogo molecular Wolf Reik – do Instituto Babraham – no ritmo que estamos andando, em breve conseguiremos identificar genes do rejuvenescimento, mesmo sem a reprogramação, e direcioná-los especificamente para reduzir os efeitos do envelhecimento. A nova abordagem proposta pelos pesquisadores pode impulsionar descobertas valiosas no futuro, que podem abrir um incrível horizonte terapêutico.
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Referências
GILL, Diljeet et al. Multi-omic rejuvenation of human cells by maturation phase transient reprogramming. eLife, v. 11, p. e71624, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 set. 2022.
Notícias
Scientists Rewind The Clock of Human Skin Cells to Make Them Act 30 Years Younger. Science Alert, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 ago. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Pesquisadores reprogramam células da pele humana para rejuvenescerem 30 anos. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, abr. 2022. Disponível em: . Acesso em: .