Bactérias intestinais podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento da doença de Parkinson, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Helsinque e da Universidade do Leste da Finlândia (HUYNH, 2023).
A pesquisa descobriu que a presença de certas cepas bacterianas está relacionada à gravidade da doença, sugerindo um potencial método de diagnóstico precoce e tratamento.
A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
Ela é caracterizada pela perda gradual de células cerebrais que produzem dopamina, um neurotransmissor importante para o controle dos movimentos.
Isso resulta em tremores, rigidez muscular e problemas de equilíbrio, além de outros sintomas.
Embora os sintomas da doença de Parkinson possam ser gerenciados com medicamentos e terapia, atualmente não existe cura para a condição.
Por isso, os pesquisadores continuam buscando uma compreensão mais profunda das causas subjacentes da doença.
Uma das teorias mais recentes é a de que certas bactérias intestinais podem estar associadas ao desenvolvimento da doença.
Vários estudos mostraram que pessoas com Parkinson têm uma composição diferente de bactérias intestinais em comparação com pessoas saudáveis.
O novo estudo finlandês se concentrou em uma cepa específica de bactéria chamada Desulfovibrio, que é comum em ambientes úmidos e pantanosos.
Os pesquisadores descobriram que a gravidade da doença de Parkinson estava relacionada à presença dessas bactérias nas fezes dos voluntários.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas realizaram uma série de experimentos com vermes geneticamente modificados (Caenorhabditis elegans), onde ficou evidenciado que essas bactérias aumentam a incidência de agregados de uma proteína neuronal chamada alfa-sinucleína, uma característica chave na patologia da doença de Parkinson.
O estudo sugere que as bactérias podem estar excretando compostos que fazem com que as proteínas dentro das células cerebrais formem aglomerados tóxicos, conhecidos como Corpos de Lewy, que são característicos da doença.
Embora ainda não esteja claro exatamente como as bactérias intestinais podem levar à formação de Corpos de Lewy no cérebro, a descoberta oferece uma nova pista para os pesquisadores que estão tentando entender as causas da doença de Parkinson.
Por enquanto, o novo estudo sugere que a eliminação dessas bactérias do intestino pode ajudar a aliviar e retardar os sintomas da doença.
O autor principal do estudo, Per Saris, disse que “essas novas descobertas facilitam o rastreio de portadores dessas bactérias, que podem agora tomar medidas para remover essas cepas do intestino, aliviando e retardando os sintomas do Parkinson”.
No entanto, ainda há muitas perguntas sem resposta.
Por exemplo, não está claro se a presença de Desulfovibrio é uma causa direta da doença de Parkinson ou se é apenas um fator contribuinte.
Não está claro como as bactérias intestinais interagem com outros fatores conhecidos por contribuir para o desenvolvimento da doença, como a genética e a exposição a toxinas ambientais.
Apesar dessas incertezas, o estudo finlandês representa um passo significativo em direção a uma compreensão mais completa da doença de Parkinson e abre caminho para novas estratégias terapêuticas.
A eliminação de bactérias intestinais nocivas pode ser uma abordagem promissora para retardar ou prevenir a progressão da doença, além de oferecer uma nova via para o diagnóstico precoce.
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Referências
HUYNH, Vy A. et al. Desulfovibrio bacteria enhance alpha-synuclein aggregation in a Caenorhabditis elegans model of Parkinson’s disease. Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, v. 13, p. 502, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 9 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Parkinson pode ser causado por uma bactéria comum em ambientes úmidos. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.