Um novo estudo revelou que planetas com uma distribuição de terra e água semelhante à do nosso planeta, podem ser extremamente raros no universo (SPOHN, 2023).
Segundo a pesquisa, apenas 1% dos planetas rochosos na zona habitável de estrelas — região onde a água líquida pode existir na superfície — têm aproximadamente 30% de sua superfície coberta por terras continentais expostas.
Em contraste, cerca de 80% dos planetas potencialmente habitáveis são dominados por terra, e 20% são completamente cobertos por oceanos.
Essa conclusão foi obtida por meio de modelos que estudaram a relação entre a água presente no manto dos planetas e o processo de reciclagem de terra continental através das placas tectônicas.
Os pesquisadores descobriram que a proporção de 1:3 de terra e água na Terra é delicadamente equilibrada e que em outros planetas essa proporção pode facilmente se inclinar para a predominância de terra ou de água.
Esse ponto de equilíbrio ocorre quando o interior de um planeta esfria a temperaturas próximas às do manto da Terra, que chega a 1.410 graus Celsius próximo a crosta e até 3.700 graus Celsius em maiores profundidades.
A capacidade das zonas de subducção nas fronteiras entre as placas tectônicas de circular água sobre a terra a essa temperatura do manto é o fator que determina se um planeta será dominado por terra ou por oceano.
A Terra alcançou essas condições há cerca de 2,5 bilhões de anos, no fim do período Arqueano, e encontrou o delicado equilíbrio em que vivemos hoje.
No entanto, ao longo de bilhões de anos, mesmo esse equilíbrio é instável, embora não o percebamos porque as mudanças ocorrem em taxas pequenas.
Outros planetas podem ter alcançado esse ponto de desequilíbrio muito mais cedo.
Os modelos também indicaram que planetas dominados por oceanos, com menos de 10% de terra, provavelmente seriam quentes, com atmosferas úmidas e climas tropicais.
Enquanto isso, planetas dominados por terra, com menos de 30% de sua superfície coberta por oceanos, seriam mais frios, secos e rigorosos do que seus equivalentes oceânicos.
Desertos frios cobririam as massas de terra e vastas geleiras e lençóis de gelo seriam comuns.
Esses resultados divergem ligeiramente de estudos anteriores, mas concordam com a conclusão de que planetas dominados por terra seriam muito mais comuns do que planetas similares à Terra ou ricos em água.
Essas descobertas têm implicações significativas na busca por planetas habitáveis fora do nosso sistema solar.
Ao invés de procurar por “pálidos pontos azuis”, semelhantes à Terra como sugeriu Carl Sagan, os astrônomos deveriam buscar por “pálidos pontos amarelados” — planetas com uma distribuição de terra e água semelhante ao delicado equilíbrio encontrado na Terra.
Esses planetas poderiam ter condições propícias para o surgimento e a manutenção da vida, como conhecemos.
Para os especialistas, esses resultados reforçam a compreensão de que a Terra é um planeta único em sua distribuição de terra e água, e que essa combinação pode ser rara no universo.
Além disso, também levanta questionamentos sobre a possibilidade de diferentes formas de vida em outros planetas que possam ter uma predominância de terra ou de água diferente da encontrada na Terra.
Essas descobertas têm implicações importantes na busca por planetas habitáveis fora do nosso sistema solar, destacando a necessidade de explorar diferentes combinações de terra e água em busca de mundos propícios para a vida.
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Referências
SPOHN, Tilman; HOENING, Dennis. Land/Ocean Surface Diversity on Earth-like (Exo) planets: Implications for Habitability. In: European Planetary Science Congress. 2022. p. EPSC2022-506. Disponível em: <link>. Acesso em: 16 abr 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. “Pálidos pontos azuis” como a Terra são apenas 1% dos mundos potencialmente habitáveis. Ciência Mundo, abr 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.