Uma recente descoberta em rochas muito antigas está fornecendo pistas valiosas sobre um ecossistema selvagem de vida primitiva que prosperou nos oceanos do mundo há mais de um bilhão de anos (BROCKS, 2023).
Os pesquisadores encontraram biomarcadores em rochas de 1,64 bilhão de anos que revelaram a existência de uma variedade de organismos desconhecidos até o momento, que dominaram a vida na Terra num período em que o mundo tinha baixos níveis de oxigênio, muito antes do surgimento de plantas, animais e fungos.
Imagem: Elaborada no MidJourney por TA 2023.
Esses organismos, que os paleobiogeoquímicos Jochen Brocks e Benjamin Nettersheim da Universidade Nacional da Austrália chamaram coletivamente de biota protosterol, são únicos e não se assemelham a nada que tenha existido.
Eles podem ter sido os primeiros predadores do mundo, se alimentando de micróbios abundantes nos oceanos da época.
Além disso, esses organismos parecem ser os ancestrais de toda a vida eucariótica na Terra, o que inclui plantas, animais, fungos e até mesmo nós, seres humanos.
A descoberta é ainda mais surpreendente, pois revela que esses biomarcadores são os restos moleculares mais antigos de nossa própria linhagem, existindo mesmo antes do último ancestral comum eucariótico, que viveu há cerca de 1,2 bilhão de anos.
Imagem: Universidade Nacional da Austrália.
Essas criaturas antigas eram abundantes nos ecossistemas marinhos ao redor do mundo e desempenharam um papel fundamental na moldagem dos ecossistemas ao longo da história da Terra.
A pesquisa foi conduzida por meio da análise de rochas de várias regiões do planeta, com as amostras mais antigas provenientes da Formação Barney Creek, na Austrália, com idade de 1,64 bilhão de anos.
Os cientistas buscaram especificamente por esteroides, que são os biomarcadores dos eucariotos primitivos.
A predição da presença desses esteroides foi feita pela primeira vez pelo bioquímico Konrad Bloch, reconhecido com o Nobel, em 1994, que descobriu que a maioria dos eucariotos possui a capacidade de sintetizar esteroides, como o colesterol.
Imagem: Elaborada no MidJourney por TA 2023.
Na pesquisa recente, a descoberta desses biomarcadores foi possível por meio de uma combinação de técnicas que permitiram converter esteroides modernos em seus equivalentes fossilizados.
Essa abordagem foi essencial, pois essas moléculas fósseis não seguem as imagens moleculares típicas, o que fez com que os cientistas ignorassem essas moléculas por décadas.
Embora os fósseis dessas criaturas ainda não tenham sido encontrados, os pesquisadores acreditam que os organismos da biota protosterol eram maiores e mais complexos do que as bactérias, e que eles se alimentavam delas, ocupando um nível mais alto na cadeia alimentar.
Imagem: Elaborada no MidJourney por TA 2023.
É interessante notar que os rastros deixados por essas criaturas começam a desaparecer dos registros fósseis há cerca de 800 milhões de anos.
A partir desse ponto, as algas e os fungos começam a aparecer, e os primeiros animais são considerados terem surgido há aproximadamente 700 ou 600 milhões de anos.
Esse declínio na biota protosterol e o surgimento de outros organismos é conhecido como Transformação Toniana e representa uma das alterações mais profundas já ocorridas na ecologia da Terra, permitindo o surgimento dos eucariotos modernos.
A descoberta desses esteroides semelhantes aos produzidos pelo nosso próprio corpo, em organismos completamente diferentes, nos permite traçar nossa história até um tempo muito mais remoto do que nunca imaginávamos.
Vídeos
Vídeo: Canal “ATECH-INFO” em Youtube.
Referências
BROCKS, Jochen J. et al. Lost world of complex life and the late rise of the eukaryotic crown. Nature, p. 1-7, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 11 jun 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Organismos de 1,64 bilhões de anos podem ter sido os primeiros predadores da Terra. Ciência Mundo, jun 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.
Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.
