As cigarras periódicas são insetos fascinantes e enigmáticos que literalmente “nascem da terra”.
Com ciclos de vida extraordinários e uma sincronização coletiva impressionante em seu nascimento, esses insetos têm sido objeto de estudo por décadas, mas muitos mistérios permanecem sem resposta.
Essas cigarras periódicas passam a maior parte de suas vidas no subsolo como ninfas, alimentando-se da seiva das raízes das árvores.
Dependendo da espécie, podem levar de treze a dezessete anos para se desenvolverem completamente antes de emergirem como adultos alados.
O que intriga os especialistas é como esses insetos conseguem sincronizar seu “nascimento” em massa.
Em uma única região, todos os indivíduos de uma ninhada emergem praticamente ao mesmo tempo, em um espetáculo que envolve milhões de cigarras periódicas cantando em uníssono.
Embora a temperatura do solo e os nutrientes obtidos das árvores possam influenciar o desenvolvimento das ninfas, esses “cronômetros naturais” as guiariam por apenas um ano, o que não explica como elas conseguem “contar até 17 anos” para nascerem ao mesmo tempo.
Em 2020, no sudoeste da Virgínia, mais de um milhão de cigarras periódicas surgiram do subsolo após 17 anos de incubação, criando uma verdadeira cacofonia.
Após alguns meses, os insetos se acasalaram e morreram, ficando tudo em silêncio novamente, mas deixando milhões de novas larvas se desenvolvendo no solo, que provavelmente emergirão em 2037.
O zoólogo Teiji Sota, da Universidade de Quioto, no Japão, estuda as cigarras periódicas há alguns anos e recentemente escreveu um artigo discutindo as possíveis explicações para o fenômeno (SOTA, 2023).
Uma das principais teorias para explicar essa sincronização é que o ciclo de vida prolongado das cigarras periódicas ajuda a reduzir a predação.
Ao passar a maior parte de suas vidas como ninfas no subsolo, elas evitam predadores, como pássaros e roedores, se adaptem, evolutivamente, ao seu ciclo de vida.
Além disso, quando emergem em grande número, encontrar um parceiro para acasalamento se torna mais fácil e seguro.
No entanto, essa teoria não explica por que outros tipos de cigarras periódicas que também estão sujeitas a predadores não adotaram esse estilo de vida.
Outra teoria defende que a temperatura pode desempenhar um papel fundamental nesse fenômeno.
Em ambientes mais frios, o desenvolvimento mais lento e prolongado pode resultar em uma densidade populacional adulta mais baixa, favorecendo a sincronização da emergência.
Outro aspecto intrigante é a capacidade das cigarras periódicas de ajustar seu ciclo de vida. Estudos mostram que, dependendo da espécie, elas podem emergir com 9, 13, 17 ou 21 anos de idade.
Como elas sabem quando adiantar ou atrasar esse ciclo permanece um mistério.
Pode estar relacionado a marcos de desenvolvimento alcançados ou a algum tipo de relógio biológico interno.
Embora muitas questões ainda não tenham respostas definitivas, os avanços na genômica e na pesquisa científica estão trazendo novas perspectivas.
Segundo Sota, alguns pesquisadores estão explorando os genes e os processos biológicos envolvidos no desenvolvimento das cigarras periódicas, na esperança de desvendar seus segredos.
Apesar de todas as incógnitas, ele acredita que nos próximos anos, com o avanço das pesquisas, o mistério das cigarras periódicas será desvendado.
Mas, por enquanto, esses insetos notáveis continuam a desafiar nosso conhecimento e a despertar a curiosidade dos cientistas, revelando a complexidade e a maravilha do mundo natural.
Referências
SOTA, Teiji. Life‐cycle control of 13‐and 17‐year periodical cicadas: A hypothesis and its implication in the evolutionary process. Ecological Research, v. 37, n. 6, p. 686-700, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 21 jun 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. O mistério das cigarras periódicas que nascem juntas a cada 17 anos. Ciência Mundo, jun 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.