Pular para o conteúdo

O cérebro pode criar falsas memórias mais rápido do que imaginávamos

Um experimento comprovou que a formação de falsas memórias é um processo rápido e está relacionada às expectativas e experiências anteriores do indivíduo.

O cérebro pode criar falsas memórias mais rápido do que imaginávamos - Concepção artística cérebro e letras.

Imagem: Ciência Mundo Art

Falsas memórias são memórias que parecem ser lembranças reais, mas na verdade nunca aconteceram. Elas podem ser criadas através de sugestão, confusão ou imaginação.

As falsas memórias podem ser extremamente vívidas e detalhadas, tornando-se difíceis de serem distinguidas de lembranças verdadeiras. Elas podem ter um impacto significativo na vida das pessoas, influenciando suas crenças, comportamentos e tomadas de decisão.

Recentemente, pesquisas têm mostrado que a memória pode ser mais falível do que imaginávamos, com a capacidade de nosso cérebro de gerar falsas memórias em questão de segundos.

Em um desses estudos, conduzido pela Universidade de Amsterdam, os pesquisadores realizaram uma série de experimentos com mais de 500 participantes para investigar como as falsas memórias são formadas (OTTEN, 2023)

Os participantes foram apresentados a letras do alfabeto ocidental em diferentes orientações, algumas delas espelhadas. 

Em seguida, foram apresentados a uma imagem de interferência com letras aleatórias projetadas para confundir a memória original. 

No experimento, os participantes foram apresentados a seis ou oito letras do alfabeto em uma tela.
Em seguida, eles viram uma exibição com uma caixa marcando a localização da letra alvo.
Depois, houve uma condição de interferência contendo letras aleatórias, projetada para embaralhar a memória original.
Ao final, eles foram solicitados a lembrar qual letra estava na região alvo no primeiro slide e se era uma letra normal ou uma pseudoletra (uma letra que não existe).
Imagem: OTTEN, 2023.

Após isso, todos os participantes foram solicitados a recordar uma letra-alvo da primeira imagem.

Surpreendentemente, os resultados mostraram que em apenas meio segundo, quase 20% das pessoas haviam formado uma memória ilusória da letra-alvo, e esse número aumentou para 30% após 3 segundos

Isso indica que as falsas memórias podem ser geradas rapidamente pelo cérebro humano, alterando nossa percepção da realidade.

O estudo também revelou que o cérebro humano altera as memórias com base no que espera ver. 

Os participantes, por estarem familiarizados com o alfabeto ocidental, esperavam ver as letras em sua orientação correta. 

Quando as letras foram apresentadas de forma espelhada, o cérebro era mais propenso a lembrá-las como letras reais, mesmo após apenas milissegundos.

Os resultados mostraram que as pessoas são mais propensas a ter memórias falsas de pseudoletras do que de letras reais, e a taxa de erros aumentava com o tempo e a interferência da memória.
Imagem: OTTEN, 2023.

Os pesquisadores destacam que a formação de falsas memórias está relacionada às expectativas e experiências anteriores do indivíduo. 

A memória é moldada desde o momento da formação da primeira lembrança, e o cérebro humano é suscetível a erros de percepção com base em suas expectativas.

É importante notar que essas falsas memórias não são apenas suposições erradas, mas são relatadas pelos participantes com alta confiança

Ou seja, as pessoas acreditam genuinamente que suas memórias são precisas, mesmo quando são ilusórias.

Além disso, o estudo revelou que as falsas memórias são mais propensas a substituir uma letra espelhada por uma letra real, em vez do contrário. 

Isso sugere que a formação de falsas memórias é influenciada pelo conhecimento prévio sobre como as coisas geralmente parecem, destacando a importância da compreensão do contexto na formação de memórias.

Pesquisas anteriores também mostraram que falsas memórias podem ser geradas a longo prazo, baseando-se na teoria do traço difuso

Essa teoria postula que a memória é composta por duas partes: uma parte verbatim, que é o que realmente aconteceu na vida real, e uma parte de “gist“, onde a pessoa interpreta o significado do evento com base em análise semântica e experiências anteriores.

Os resultados desse estudo têm várias implicações importantes na compreensão e interpretação da memória humana, e deveriam ser considerados em vários contextos de confiabilidade da memória, como, por exemplo, em depoimentos de testemunhos forenses.

A pesquisa sobre falsas memórias ajuda a destacar como nosso cérebro é suscetível a erros de percepção e como nossa memória pode ser influenciada por expectativas, experiências anteriores e contexto.

É importante ressaltar que a formação de falsas memórias não é necessariamente um sinal de fraqueza ou falha do cérebro, mas sim uma característica intrínseca do funcionamento da memória humana. 

Nosso cérebro está constantemente tentando fazer sentido do mundo ao nosso redor, e muitas vezes preenche lacunas de memória com informações plausíveis, mesmo que não sejam verdadeiras.

Comente…


Vídeos

A PSICOLOGIA DAS MEMÓRIAS FALSAS
A PSICOLOGIA DAS MEMÓRIAS FALSAS.
Vídeo: Canal “Minutos Psíquicos” em Youtube.

Referências

OTTEN, Marte; SETH, Anil K.; PINTO, Yair. Seeing Ɔ, remembering C: Illusions in short-term memory. Plos one, v. 18, n. 4, p. e0283257, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 18 abr 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. O cérebro pode criar falsas memórias mais rápido do que imaginávamos. Ciência Mundo, abr 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.