No ano passado, em setembro, a NASA realizou uma missão que consistia em colidir uma nave espacial com um asteroide para desviar seu curso.
O objetivo principal era testar nossa capacidade de alterar a trajetória de um asteroide, visando a segurança da Terra.
Agora, os resultados estão disponíveis, e podemos dizer que estamos no caminho certo.
A missão, chamada de DART (Double Asteroid Redirection Test), escolheu o alvo cuidadosamente: Dimorphos, uma pequena lua que orbita um asteroide maior chamado Didymos.
Como o período orbital dos dois objetos já é bem conhecido, qualquer alteração na trajetória de Dimorphos seria detectável.
Com cerca de 160 metros de diâmetro, Dimorphos orbita Didymos aproximadamente uma vez a cada 11,9 horas.
Esperava-se que o impacto da DART alterasse esse período orbital em cerca de 7 minutos.
No entanto, como descrito em um dos cinco artigos publicados na revista científica Nature, a mudança no período orbital foi muito mais dramática do que o esperado.
Dimorphos agora orbita Didymos 33 minutos mais rápido do que antes do impacto.
Essa mudança maior do que o esperado não pode ser explicada apenas pela transferência de momento da nave espacial DART para o asteroide.
Um estudo detalhado do material ejetado pelo asteroide, realizado pelo astrônomo Jian-Yang Li do Instituto de Ciências Planetárias, descobriu que não apenas a explosão imediata contribuiu para essa alteração orbital, mas também a poeira que Dimorphos continuou a emitir por quase duas semanas após o impacto (LI, 2023).
Outro estudo liderado pela astrônoma Ariel Graykowski do Instituto SETI, nos Estados Unidos, analisou a luz refletida por Dimorphos antes, durante e após o impacto.
Pouco mais de três semanas após a colisão, o brilho de Dimorphos voltou aos níveis normais pré-impacto, sugerindo que o asteroide perdeu entre 0,3% e 0,5% de sua massa total.
De acordo com outro estudo, liderado pelo astrônomo Andrew Cheng do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, o material ejetado foi responsável pela maior parte da mudança na órbita do asteroide (CHENG, 2023).
Essa perda de material transferiu mais momento para Dimorphos do que o impacto, em si, da nave espacial DART.
Os resultados da missão DART são promissores, pois agora sabemos que a humanidade pode alterar com sucesso a trajetória de um asteroide com conhecimento limitado sobre sua composição e condições de superfície, sem a necessidade de realizar uma missão de reconhecimento cara e demorada antes.
Idealmente, uma missão de deflexão de asteroides seria conduzida décadas antes do impacto projetado.
Felizmente, o tempo é um recurso do qual temos muito agora, já que não há asteroides que possam ameaçar a Terra por pelo menos 100 anos.
Isso nos dá tempo para realizar várias missões de reconhecimento para qualquer ameaça periférica, o que aumenta as chances de uma deflexão bem-sucedida caso algo mude no futuro distante.
No entanto, é importante lembrar que o monitoramento contínuo é essencial para identificar e rastrear asteroides que possam ser potencialmente perigosos.
Com os avanços tecnológicos e a cooperação internacional, podemos garantir a segurança do nosso planeta e das gerações futuras.
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Referências
CHENG, Andrew et al. Momentum Transfer from the DART Mission Kinetic Impact on Asteroid Dimorphos. 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 02 mar 2023.
LI, Jian-Yang et al. Ejecta from the DART-produced active asteroid Dimorphos. 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 02 mar 2023.
Notícias
NASA Slammed a Spacecraft Into an Asteroid And It Didn’t Go Quite as Expected. Science Alert, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 mar 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. NASA colide nave espacial em asteroide e resultados agora surpreendem. Ciência Mundo, mar 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.