Os marsupiais, como os cangurus e os coalas, sempre foram considerados “mamíferos inferiores”, uma vez que dão à luz filhotes em estágios iniciais de desenvolvimento, que posteriormente completam seu crescimento dentro de uma bolsa chamada marsúpio.
No entanto, um novo estudo desafia essa noção, revelando que os marsupiais são, na verdade, mais evoluídos que os mamíferos placentários.
Por muitos anos, acreditou-se que os marsupiais representavam um estágio intermediário entre os mamíferos monotremados (que põem ovos, como o ornitorrinco) e os mamíferos placentários, que incluem os seres humanos.
No entanto, pesquisadores do Museu de História Natural do Reino Unido descobriram que os marsupiais passaram por mudanças evolutivas mais significativas do que os mamíferos placentários desde que compartilharam um ancestral comum (WHITE, 2023).
Usando avançadas técnicas de microtomografia computadorizada, os cientistas analisaram o desenvolvimento craniano de 22 espécies vivas, representativas de marsupiais e mamíferos placentários.
Os resultados revelaram que o desenvolvimento craniano dos marsupiais é mais lento e deslocado em comparação com os mamíferos placentários e nosso ancestral teriano compartilhado de 160 milhões de anos.
Isso sugere que a idade extremamente precoce dos nascimentos marsupiais representa um tipo de desenvolvimento mais especializado, com maiores mudanças nas características em comparação com nosso ancestral comum e mamíferos placentários, que mantém seus filhotes em desenvolvimento dentro do útero por mais tempo.
Essa conclusão polêmica desafia a visão tradicional que considerava os marsupiais como “menos evoluídos” em comparação com outros mamíferos.
Essa ideia de primitividade baseava-se principalmente no fato de que os marsupiais dão à luz filhotes muito jovens, que continuam seu desenvolvimento dentro do marsúpio.
Em contraste, os mamíferos placentários têm gestações mais longas e dão à luz filhotes mais desenvolvidos.
No entanto, a evolução não segue uma linha reta em direção à complexidade crescente, como se acreditava anteriormente.
A complexidade pode ser adquirida e perdida ao longo do tempo, e a diversidade não está necessariamente relacionada a mudanças evolutivas mais significativas.
Embora haja uma maior variação entre os mamíferos placentários em comparação com os marsupiais, isso não indica que os marsupiais sejam menos evoluídos.
Uma das implicações interessantes dessa pesquisa é que a estratégia reprodutiva dos marsupiais pode estar relacionada à sua capacidade de se adaptar a ambientes instáveis.
A habilidade de desenvolver os filhotes externamente e abandoná-los precocemente pode ter sido vantajosa para a sobrevivência em condições em que os recursos são escassos.
Essa flexibilidade reprodutiva pode ter permitido que os marsupiais colonizassem a Austrália a partir da América do Norte quando esses continentes estavam conectados.
No entanto, é importante ressaltar que esse estudo é baseado em uma amostra limitada de espécies e que mais pesquisas são necessárias para confirmar essas descobertas.
Além disso, embora a comparação com os ancestrais permita estabelecer relações e cronologias evolutivas, não indica uma medida absoluta de “avanço” ou “primitividade” em termos de complexidade.
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Referências
WHITE, Heather E. et al. Pedomorphosis in the ancestry of marsupial mammals. Current Biology, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 30 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Marsupiais podem ser “mais evoluídos” do que outros mamíferos, sugere estudo. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.