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Macacos se lembram de amigos e familiares que não veem há décadas

Estudo revela que chimpanzés e bonobos mantêm memórias sociais por décadas de separação, desafiando conceitos sobre a exclusividade da memória humana.

Macacos se lembram de amigos e familiares que não veem há décadas -

Imagem: Laura Lewis

Na busca por compreender a complexidade da mente animal, pesquisadores têm desvendado aspectos fascinantes da cognição de nossos parentes mais próximos, os macacos

Um estudo recente, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, revelou uma habilidade notável compartilhada por chimpanzés e bonobos: a capacidade de reconhecer membros da família e antigos amigos mesmo após décadas de separação (LEWIS, 2023).

Os pesquisadores, liderados por Laura Simone Lewis da Universidade de Berkeley, conduziram testes com 26 chimpanzés e bonobos em cativeiro, provenientes de zoológicos ao redor do mundo. 

O objetivo era investigar se esses primatas eram capazes de reconhecer fotografias de ex-companheiros de grupo em comparação com imagens de macacos desconhecidos.

O experimento, apesar de sua simplicidade, revelou resultados surpreendentes. 

Ao mostrar fotos lado a lado de conhecidos e desconhecidos, os macacos não apenas demonstraram reconhecimento, mas também exibiram uma atenção significativamente maior em relação às imagens de seus antigos colegas de grupo. 

Essa observação oferece uma perspectiva intrigante sobre a profundidade das memórias sociais desses primatas.

Lewis explicou que a pesquisa não apenas confirma a habilidade dos macacos de recordar rostos familiares, mas também destaca a intensidade desse reconhecimento. 

Além disso, há indícios de que a atenção dos macacos se intensifica ao verem fotos de indivíduos com os quais tiveram interações mais positivas, indicando nuances emocionais em sua memória social.

Uma descoberta notável durante o estudo foi o caso de Louise, uma bonobo de 46 anos no Santuário de Kumamoto, no Japão. 

Louise exibiu uma atenção robusta ao ver fotografias de sua irmã Loretta e sobrinho Erin, com quem não tinha contato há mais de 26 anos. 

Os resultados da pesquisa sugerem que a memória social de Louise representa o registro mais duradouro já documentado em animais não humanos.

Christopher Krupenye, autor sênior do estudo e professor assistente na Universidade Johns Hopkins, disse que a inspiração para o experimento veio das observações de primatologistas que desconfiaram da animação dos macacos ao verem rostos familiares após longos períodos de separação. 

O estudo, portanto, buscava validar cientificamente essa capacidade notável.

Os métodos adotados pelos pesquisadores incluíram apresentar fotos aos macacos enquanto recebiam suco, monitorando seus movimentos oculares por meio de uma câmera de rastreamento ocular infravermelho. 

Os resultados foram reveladores, indicando não apenas o reconhecimento, mas também a preferência dos macacos por focar em rostos familiares, apoiando a ideia de uma “rica reconhecimento mútuo” entre eles.

A pesquisa levanta questões mais amplas sobre a extensão dessas memórias sociais. 

Ao comparar as descobertas com a evolução humana, Lewis destacou que os resultados apoiam a teoria de que a memória social de longo prazo em humanos e primatas modernos evoluiu a partir de um ancestral comum, datando de 5 a 7 milhões de anos atrás, que provavelmente também possuía essa memória.

Com evidências agora robustas de que essas espécies ameaçadas possuem memórias comparáveis às de humanos, golfinhos, elefantes e corvos, os pesquisadores estão motivados a explorar questões mais profundas. 

Um questionamento intrigante é se os macacos sentem falta de indivíduos com os quais não estão mais, especialmente amigos e familiares.

A descoberta abre portas para uma compreensão mais profunda da complexidade cognitiva desses primatas e desafia a visão tradicional de que a capacidade de lembrar e reconhecer outros é uma característica exclusivamente humana. 

O estudo não apenas revela similaridades surpreendentes entre nós e nossos parentes mais próximos, mas também destaca a importância de preservar essas espécies incríveis, cujas mentes revelam segredos fascinantes sobre a natureza da memória e do reconhecimento social.

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Referências

LEWIS, Laura S. et al. Bonobos and chimpanzees remember familiar conspecifics for decades. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 120, n. 52, p. e2304903120, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 27 dez 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Macacos se lembram de amigos e familiares que não veem há décadas. Ciência Mundo, dez 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.