O Telescópio Espacial James Webb fez uma descoberta extraordinária ao detectar moléculas complexas em uma galáxia que existiu há menos de 1,5 bilhão de anos após o Big Bang.
Essa detecção foi realizada na galáxia SPT0418-47 e só foi possível graças a uma lente gravitacional que ampliou sua luz que viajou por mais de 12 bilhões de anos.
Os astrônomos conseguiram identificar sinais espectrais de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), que compõem os grãos de poeira presentes nas nuvens interestelares (SPILKER, 2023).
Essas moléculas absorvem a luz e a reemitem em comprimentos de onda infravermelho.
A presença dessa poeira indica uma alta taxa de formação estelar na galáxia estudada, o que é esperado para uma galáxia do início do Universo.
No entanto, a distribuição da poeira não é uniforme, indicando que a formação estelar ocorre em diferentes regiões da galáxia.
Essa observação detalhada de uma galáxia tão distante é surpreendente e só foi possível graças à tecnologia avançada do James Webb, capaz de analisar o espectro infravermelho.
Os HAPs podem parecer compostos complexos, mas são relativamente comuns.
Na Terra, eles são encontrados na fuligem, fumaça, névoa e petróleo bruto.
Esses compostos orgânicos são formados durante a compressão e aquecimento da matéria orgânica, como ocorre com o carvão.
Contudo, a origem dos HAPs não se limita a processos biológicos. Na verdade, a maioria dos HAPs no Universo é de origem não biológica.
Estima-se que cerca de 15% do carbono das estrelas em galáxias, incluindo a nossa, esteja presente nesses compostos. Por isso, a presença de HAPs é considerada um indicador confiável da formação estelar.
Embora já tenhamos detectado HAPs em galáxias próximas, encontrá-los em galáxias tão distantes é um grande desafio, pois os telescópios infravermelhos anteriores tinham limitações de sensibilidade e cobertura.
No entanto, o James Webb supera essas limitações e possibilita a detecção precisa de moléculas complexas em galáxias remotas.
Vale lembrar, no entanto, que para realizar essa observação detalhada, o James Webb precisou da ajudinha de um fenômeno chamado lente gravitacional.
Esse fenômeno é caracterizado pela curvatura do espaço-tempo ao redor de objetos massivos, que cria um efeito de ampliação e distorção da luz que passa por ele.
Assim, os astrônomos podem usar as lentes gravitacionais como uma espécie de “lupa cósmica”, aumentando o poder dos telescópios.
Entre o James Webb e a galáxia SPT0418-47, há outra galáxia que atua como uma lente gravitacional.
Essa lente amplia a luz emitida pela galáxia distante, permitindo que o JWST faça observações detalhadas.
Foi nesse contexto que os pesquisadores conseguiram identificar o espectro dos HAPs em um comprimento de onda infravermelho médio de 3,3 micrômetros.
Essa descoberta constitui a detecção mais distante até o momento de moléculas aromáticas complexas.
Embora ainda haja muitas questões em aberto, como a razão para a distribuição irregular dos HAPs na galáxia estudada, essa descoberta abre caminho para estudos futuros sobre a evolução das galáxias no Universo primordial.
O JWST continua a surpreender os cientistas com suas capacidades avançadas e promete revelar mais segredos do Universo distante.
A detecção de moléculas complexas em galáxias remotas é um marco importante para a compreensão da formação estelar e da evolução das galáxias desde os primórdios do Universo.
Referências
SPILKER, Justin S. et al. Spatial variations in aromatic hydrocarbon emission in a dust-rich galaxy. Nature, p. 1-4, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 8 jun 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. James Webb detecta moléculas complexas em uma galáxia logo após o Big Bang. Ciência Mundo, jun 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.