Cientistas encontraram uma molécula de carbono inédita no espaço interestelar (BERNÉ, 2023).
Trata-se do metênio, também conhecido como cátion metila (CH3+), que desempenha um papel crucial na química orgânica interestelar.
A descoberta foi possível graças ao Telescópio Espacial James Webb, que identificou o CH3+ no disco de poeira e gás em torno de uma estrela recém-nascida na Nebulosa de Orion.
Embora o CH3+ não seja um ingrediente essencial para a vida, os cientistas acreditam que ele desempenha um papel na formação de moléculas de carbono mais complexas.
Isso é relevante para a compreensão de como a vida como conhecemos — baseada em carbono — pode surgir em outros lugares da galáxia.
O CH3+ é uma molécula interessante, pois reage com várias outras moléculas, exceto o hidrogênio, o elemento mais abundante no Universo.
Isso significa que o CH3+ pode ser um passo intermediário na formação de moléculas complexas em ambientes interestelares, contribuindo para a química orgânica baseada em carbono.
Até agora, o CH3+ não tinha sido observado fora do Sistema Solar, o que levantava dúvidas sobre sua presença e papel no espaço interestelar.
Diferentemente das observações feitas no espectro de rádio, que não detectavam o CH3+, o James Webb utilizou sua sensibilidade ao infravermelho para penetrar na poeira interestelar e identificar essa molécula.
Ao analisar a nebulosa de Orion com o espectrômetro de infravermelho do James Webb, os cientistas encontraram linhas brilhantes no espectro que foram explicadas pela presença do CH3+.
A detecção ocorreu no disco de poeira e gás ao redor de uma estrela anã vermelha chamada d203-506, um estágio comum na formação estelar.
No entanto, havia um desafio para entender como moléculas orgânicas complexas sobrevivem em discos protoplanetários, uma vez que eles são intensamente irradiados por luz ultravioleta proveniente de estrelas massivas próximas.
Essa radiação tem efeitos destrutivos sobre as moléculas orgânicas.
Mas a equipe de cientistas encontrou uma solução interessante ao descobrir que foi justamente a luz ultravioleta que promoveu a formação do CH3+, e que ela é temporária, pois as estrelas massivas que a emitem têm vida curta.
Essa descoberta mostra que, ao contrário do que se pensava, a radiação ultravioleta pode contribuir significativamente na formação química dos discos protoplanetários e desempenhar um papel crítico nas etapas iniciais da origem da vida, contribuindo para a produção do CH3+ e outras moléculas complexas.
Embora ainda haja muitas perguntas sobre as propriedades e o papel do CH3+ na química interestelar, futuras pesquisas se concentrarão em responder essas questões.
Por hora, a descoberta do CH3+ no espaço interestelar representa um marco importante na compreensão de como a química orgânica se desenvolve em ambientes cósmicos, podendo fornecer insights valiosos sobre a origem da vida em outros lugares da galáxia.
Referências
BERNÉ, O. et al. Formation of the Methyl Cation by Photochemistry in a Protoplanetary Disk. Nature, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 j7un 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. James Webb descobre importante molécula de carbono na nebulosa de Orion. Ciência Mundo, jun 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.