Estima-se que a Via Láctea seja povoada por algo entre 10 milhões a 1 bilhão de buracos negros. No entanto, identificar esses objetos pode não ser uma tarefa fácil, pois, em condições normais, buracos negros não emitem luz.
Buracos negros supermassivos, como o Sagittarius A* que habita o centro da Via Láctea, podem ser identificados através de interações com outros objetos próximos, que produzem efeitos como disco de acreção, jatos poderosos de matéria e aceleração orbital de estrelas próximas.
Por outro lado, buracos negros de massa estelar são objetos bem menores, concebidos no final da vida de estrelas supermassivas e mais difíceis de se rastrear. Todos os buracos negros desse tipo identificados até agora interagem com estrelas, normalmente em sistemas binários (ou múltiplos). Buracos negros de massa estelar solitários são praticamente invisíveis, pois, não interagem com outros objetos.
Apesar dessas dificuldades, no dia 2 de junho de 2011, duas equipes de pesquisadores – a Optical Gravitational Lensing Experiment (OGLE) e a Microlensing Observations in Astrophysics (MOA) – registraram, ao mesmo tempo, a passagem de um buraco negro a 5.200 anos-luz, na frente de uma estrela que estava sendo estudada (SAHU, 2022).
Imagem: Autor do trabalho SAHU, 2022.
O evento só pode ser registrado graças ao alinhamento perfeito entre a Terra, a estrela e um buraco negro inesperado que surgiu no meio do caminho. Os astrônomos, a princípio, se espantaram, pois o brilho da estrela começou a aumentar e a distorcer como se uma lente de aumento estivesse passando à sua frente. Após checar os dados dos instrumentos em busca de possível erros, os pesquisadores concluíram que algo massivo estava transitando na frente da estrela.
Este fenômeno é conhecido como microlente gravitacional e ocorre quando um objeto passa entre a Terra e uma estrela, fazendo com que a luz dessa estrela sofra um desvio. Essa é uma estratégia bastante explorada pelos astrônomos para identificar objetos pequenos e escuros, que de outra forma, seriam difíceis de se detectar.
Imagem: NASA em Wikimedia Commons.
Ao analisar os dados da variação luminosa da estrela os pesquisadores descobriram que o buraco negro tem cerca de 7,1 vezes a massa do nosso Sol, o que indica um horizonte de eventos em torno de 42 km. Além disso, ele está viajando pela Via Láctea a 45 km/s.
Os astrônomos trabalham com a hipótese de que este buraco negro tenha sido ejetado quando sua estrela original explodiu em uma supernova. Segundo os pesquisadores, casos similares já foram observados, como a anã branca LP 40-365 e o pulsar PSR J0002+6216.
As duas equipes de pesquisadores esperam que os dados produzidos neste trabalho possam ajudar no desenvolvimento de técnicas para detecção de outros buracos negros de massa estelar. Esta detecção foi importantíssima, mas precisamos de uma amostra relativamente grande de outros objetos como este, para compreendermos o comportamento dos buracos negros que habitam a Via Lactea.
Vídeos
Vídeo: Canal “Space Today” em Youtube.
Referências
SAHU, Kailash C. et al. An Isolated Stellar-Mass Black Hole Detected Through Astrometric Microlensing. arXiv preprint arXiv:2201.13296, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 16 fev. 2022.
Notícias
Astronomers just discovered a new black hole that’s unlike anything seen before. BGR News, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 18 fev. 2022.
Astronomers Report The First-Ever Wandering Black Hole in Our Galaxy. Science Alert, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 17 fev. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Identificado primeiro buraco negro solitário vagando na Via Láctea. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, fev. 2022. Disponível em: . Acesso em: .
Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.
