O tempo é uma dimensão que representa a sucessão ordenada e contínua de eventos no Universo.
Para nós, humanos, essa medida relativa é como uma “flecha” que avança unidirecionalmente, nos permitindo conceber o passado, viver o presente, antecipar o futuro e entender nossa realidade.
No entanto, um estudo recente realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, desafia a premissa de “sentido único” do tempo, ao investigar a possibilidade de reversão temporal em materiais (BÖHMER, 2024).
Eles estudaram a idade de materiais como plástico e vidro através de um conceito conhecido como “tempo material“, que analisa as mudanças na estrutura molecular à medida que um material envelhece, mas que não tem preferência de sentido, podendo ir para o passado ou futuro.
Embora esse conceito exista desde os anos 1970, sua interpretação nunca foi testada, pois depende de um experimento extremamente lento e demorado, impraticável para observações diretas ao longo de um ensaio em laboratório.
Para superar esse obstáculo, os cientistas utilizaram uma técnica chamada dispersão de luz dinâmica multispeckle, que envolve o uso de luz laser dispersa para criar flutuações na forma de “padrões de interferência”.
Especificamente, eles estudaram uma amostra envelhecida do formador de vidro 1-fenil-1-propanol após saltos de temperatura próximos à transição vítrea do vidro.
Os resultados revelaram flutuações estacionárias e reversíveis quando consideradas como função do “tempo material”.
Isso sugere que, em determinadas condições experimentais, o vidro exibe características de reversão temporal, tornando-se impossível distinguir se o seu tempo está passando para frente ou para trás.
Este achado desafia as teorias que associam irreversibilidade ao envelhecimento de materiais.
Contudo, é importante destacar que, embora as evidências apontem para a possível reversibilidade temporal em um nível molecular material, isso não implica a possibilidade de uma reversão temporal física do envelhecimento do material em si.
O sistema como um todo ainda está destinado a se estabelecer em um estado determinado pela entropia, indicando que, apesar das flutuações moleculares reversíveis, o envelhecimento global não pode ser revertido.
Em termos práticos, embora o tempo pareça ser reversível no nível molecular do vidro, isso não significa que possamos reverter o envelhecimento de objetos físicos feitos desse material.
No entanto, segundo o autor principal deste trabalho, o físico Till Böhmer, essa descoberta levanta questões interessantes sobre a universalidade do tempo em outros processos de envelhecimento.
Até que ponto a reversão temporal é uma característica intrínseca de materiais além do vidro? Será que o tempo reversível é uma propriedade exclusiva ou uma exceção?
Os pesquisadores pretendem responder a essas perguntas em trabalhos futuros.
A famosa frase “o tempo dirá” nunca foi tão relevante, pois aguardamos ansiosamente novas descobertas e explorações nesse fascinante domínio científico.
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Referências
BÖHMER, Till et al. Time reversibility during the ageing of materials. Nature Physics, p. 1-9, 2024. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 fev 2024.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Físicos descobrem evidências de que o tempo é reversível no vidro. Ciência Mundo, fev 2024. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.