Em um estudo recente, pesquisadores da Austrália revelaram que as fêmeas dos pássaros Malurus cyaneus, ensinam canções distintas aos seus filhotes antes mesmo de nascerem (KLEINDORFER, 2023).
Esse trabalho começou há mais de uma década, quando os pesquisadores que estudam o canto de aves colocaram gravadores nos ninhos dessas aves canoras (aves com capacidade de cantar harmoniosamente) e notaram que as fêmeas estavam cantando para seus ovos ainda não chocados.
Surpreendentemente, quando os ovos eclodiam, todos os pássaros que foram chocados no mesmo ninho cantavam uma melodia semelhante para implorar por comida aos pais.
A melodia de trinados e assobios era notavelmente parecida com uma parte da canção das mães, a mesma que elas cantavam para seus embriões.
Como os cientistas chegaram a essa conclusão?
Os cientistas observaram que as fêmeas cantavam uma parte específica de suas canções, denominada “elemento B”, para seus ovos até 96% do tempo.
Os filhotes, ao nascerem, repetiam essa parte ao implorar por comida.
A precisão aumentava se a mãe tivesse cantado a canção em um ritmo mais lento durante a fase embrionária, indicando que os embriões estavam atentos às melodias.
Para confirmar que os filhotes estavam aprendendo a canção desde a fase embrionária, os pesquisadores trocaram ovos entre ninhos, e os filhotes que eclodiram depois cantaram a canção do novo ninho, não a do ninho verdadeiro.
Este comportamento intrigante foi observado em oito espécies diferentes do mesmo gênero, sugerindo que essa prática é comum entre os Malurus da Austrália e pode ter evoluído há milhões de anos em um ancestral comum.
A pesquisa também contradiz a visão tradicional de que apenas aves machos desenvolvem cantos complexos, historicamente associados ao cortejo.
Descobertas recentes indicam que mais de 70% das aves canoras fêmeas em todo o mundo também cantam, desmistificando a ideia de que o canto das fêmeas é excepcional ou sem propósito.
Qual a explicação desse comportamento materno?
O propósito desse comportamento das mamães Malurus e de seus filhotes permanece um mistério para os cientistas, mas duas teorias emergem como possíveis explicações.
Primeiramente, a vocalização no ninho pode ajudar a evitar que os Malurus cyaneus sejam enganados por cucos, que são pássaros parasitas que colocam seus ovos em ninhos alheios.
A segunda teoria sugere que as fêmeas estão envolvidas na “educação”, transmitindo traços culturais específicos para suas proles.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que, embora a exposição de ovos ao canto das mães tenha sido relacionada à aprendizagem e desenvolvimento sensorial dos filhotes, a forma como as canções são aprendidas na fase embrionária permanece um mistério.
A descoberta desafia as noções prévias sobre o papel das fêmeas na comunicação vocal das aves e destaca a complexidade das interações entre mães e filhotes mesmo antes do nascimento.
A compreensão aprofundada desse fenômeno pode abrir novos caminhos na pesquisa sobre comportamento animal e evolução das vocalizações em aves.
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Referências
KLEINDORFER, Sonia et al. Nestling begging calls resemble maternal vocal signatures when mothers call slowly to embryos. The American Naturalist, v. 203, n. 2, p. 000-000, 2024. Disponível em: <link>. Acesso em: 8 jan 2024.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Fêmeas de aves na Austrália ensinam seus filhotes a cantar antes de nascer. Ciência Mundo, jan 2024. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.