A busca incessante pela compreensão do cosmos muitas vezes nos leva a descobertas surpreendentes que desafiam as bases do nosso entendimento científico.
Recentemente, uma pesquisa abrangente envolvendo mais de 25 milhões de galáxias revelou uma contradição intrigante na maneira como os astrônomos medem a aglomeração do Universo.
Essa descoberta, centrada no valor conhecido como S8, poderia abalar os alicerces do modelo padrão da cosmologia, que descreve a formação e evolução do Universo desde o Big Bang (MIYATAKE, 2023).
O S8 é um parâmetro fundamental que mede o quanto a matéria se aglomera em todo o Universo.
Segundo as previsões do modelo padrão da cosmologia — obtidas através do estudo do fundo cósmico de micro-ondas (CMB) com o satélite Planck — esperava-se um valor de S8 de 0,83.
No entanto, medições recentes usando o Telescópio Subaru do Japão, que analisou a distorção da luz pela presença de matéria em galáxias distantes, indicam um valor menor, cerca de 0,77.
Esse desacordo desafia as expectativas e aponta para uma possível discrepância crucial entre a aglomeração medida nos estágios iniciais do Universo, conforme capturado pelo CMB, e a aglomeração observada nas eras mais recentes, aproximadamente 9 bilhões de anos após o Big Bang.
Os resultados não podem ser ignorados. Se a medição for precisa, ela não apenas se une à tensão de Hubble — outro enigma cósmico que desafia as previsões do modelo padrão — mas também coloca em risco toda a estrutura conceitual que temos da evolução do Universo.
A cosmologia padrão postula que, após o Big Bang, o cosmos era uma sopa de plasma que se expandiu rapidamente devido à energia escura.
A matéria comum se agrupou em torno de aglomerados de matéria escura invisível para formar as primeiras galáxias, conectadas por uma vasta teia cósmica.
No entanto, o estudo atual sugere que a densidade do Universo pode ser menor do que o previsto.
Apesar do impacto potencial dessas descobertas, os cientistas estão adotando uma abordagem cautelosa.
Michael Strauss, líder da equipe responsável pela descoberta, ressalta que não se está declarando que a cosmologia moderna está completamente equivocada, mas sim que existe uma chance de 1 em 20 de que a discrepância seja simplesmente resultado do acaso.
Para obter respostas mais definitivas, os astrônomos estão se voltando para futuros observatórios espaciais, como o Observatório Vera C. Rubin no Chile e o Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, previstos para operar em 2025 e 2027, respectivamente.
Esses instrumentos mais avançados oferecerão medições mais precisas, permitindo que a comunidade científica avalie e compreenda melhor as complexidades da aglomeração cósmica.
À medida que novas observações e tecnologias se desdobram, a verdadeira natureza desse enigma cósmico emergirá, revelando potencialmente novos insights que transformarão nossa compreensão fundamental do Universo.
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Referências
MIYATAKE, Hironao et al. Hyper Suprime-Cam Year 3 results: Cosmology from galaxy clustering and weak lensing with HSC and SDSS using the emulator based halo model. Physical Review D, v. 108, n. 12, p. 123517, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 28 dez 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Estudo sobre aglomeração contesta atual modelo de expansão do Universo. Ciência Mundo, dez 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.