Um estudo realizado por geneticistas da Universidade de Genebra, na Suíça, revelou um achado surpreendente relacionado ao desenvolvimento de estruturas da pele em animais.
Os pesquisadores Michel Milinkovitch e Rory Cooper conseguiram alterar geneticamente embriões de galinhas, levando-os a desenvolver penas em vez de escamas em seus pés (COOPER, 2023).
O estudo, publicado na revista científica Nature, mostra que essa transição genética é possível através de uma modificação relativamente simples no gene sonic hedgehog (Shh).
As penas, pelos e escamas, apesar de parecerem distintos, são compostos pelos mesmos elementos básicos.
E, de acordo com a pesquisa, uma pequena alteração genética é suficiente para que um animal desenvolva um tipo de estrutura em vez de outra.
O gene Shh desempenha um papel fundamental no desenvolvimento desses apêndices da pele.
A via de sinalização desse gene está envolvida em diversos processos embrionários, incluindo o desenvolvimento de formas e estruturas corporais, diferenciação e crescimento.
O estudo tinha como objetivo inicial compreender o mecanismo genético responsável pelos pés emplumados de certas raças de galinhas, como Brahmas, Sablepoots e Silkies.
Essas galinhas possuem pés cobertos de penas, mas até então não se sabia qual era o mecanismo genético por trás dessa característica.
Cooper e Milinkovitch escolheram galinhas de corte da linhagem Ross, que possuem pés escamosos e com poucas penas, como alvo do estudo.
Para alcançar a modificação genética desejada, os pesquisadores injetaram em embriões de galinhas, ainda dentro dos ovos, uma substância que promove a ativação da via de sinalização do gene Shh.
O resultado foi surpreendente: ao eclodirem, as galinhas apresentaram pés cobertos por penas juvenis, semelhantes às que cobrem seus corpos.
À medida que as galinhas cresceram, as penas também se desenvolveram, substituindo completamente as escamas.
O mais interessante é que a alteração genética foi permanente.
Uma única modificação genética durante o desenvolvimento embrionário foi suficiente para induzir essa transição de escamas para penas, que se manteve ao longo da vida das galinhas.
Através da análise comparativa do sequenciamento de RNA entre o grupo experimental e o grupo controle, os pesquisadores puderam confirmar que as mudanças provocadas pela ativação da via de sinalização do Shh foram duradouras e permanentes.
Essa descoberta tem implicações significativas na compreensão de como os animais evoluíram e se diversificaram.
As variações naturais na sinalização do gene Shh provavelmente desempenharam um papel importante na diversidade de apêndices da pele, como escamas, pelos e penas.
Além disso, o estudo mostrou que uma mudança transitória na expressão de um único gene pode desencadear uma série de eventos de desenvolvimento que levam à formação de estruturas completamente diferentes.
Essa pesquisa abre caminho para estudos mais aprofundados sobre o papel do gene Shh e de outras vias de sinalização genética na evolução e desenvolvimento de diferentes características em animais.
Compreender esses mecanismos genéticos pode não apenas ampliar nosso conhecimento sobre a diversidade biológica, mas também ter aplicações práticas, como no melhoramento genético de animais de criação.
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Referências
COOPER, Rory L.; MILINKOVITCH, Michel C. Transient agonism of the sonic hedgehog pathway triggers a permanent transition of skin appendage fate in the chicken embryo. Science Advances, v. 9, n. 20, p. eadg9619, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 22 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Escamas se transformam em penas com um simples ajuste genético. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.