Em um trabalho coordenado pelo paleontólogo Paul Selden — da Universidade de Kansas em Lawrence — foram descobertos fósseis de uma resina chamada âmbar que registram o cuidado maternal de aranhas fêmeas hà 99 milhões de anos (GUO, 2021) .
O material estudado foi encontrado no norte de Mianmar e consiste de 4 amostras de âmbar, cada uma mostrando momentos diferentes de aranhas primitivas cuidando de seus filhotes. Como as amostras também possuíam pedaços de madeira envolvidos em fios de seda, esses ninhos provavelmente estavam dentro de alguma árvore. Em uma das amostras, a aranha fêmea está incrivelmente preservada, segurando uma bolsa de ovos cheia de embriões de aranha quase prontos para eclodir. As outras três amostras apresentam filhotes de aranha já nascidos próximos às pernas de suas mães. Cada uma das três amostras possui, respectivamente, 24, 26 e 34 bebês aranha. Essas amostras comprovam que esses bebês ficavam por perto e eram vigiados por suas mães. Mesmo com o ninho sendo inundado com resina, a mãe escolheu ficar e continuar protegendo seus filhotes. Esse comportamento altruísta, em que se faz algo perigoso para proteger sua prole, é comum a algumas mães na natureza.
Segundo Selden, os paleontólogos já esperavam esse comportamento em aranhas primitivas. Contudo, esta é a primeira vez que nós observamos uma evidência deste comportamento em um fóssil. Assim, agora que temos evidências físicas reais poderemos criar outras hipóteses de pesquisa. Esta é a evidência mais antiga do cuidado maternal de aranhas registrada até agora.
As aranhas fêmeas e suas proles pertencem a uma família extinta de aranhas conhecida como Lagonomegopidae, que é caracterizada por seus olhos grandes e reflexivos. Essa espécie, provavelmente, caçava em árvores à noite.
Segundo Linda Rayor — entomologista da Universidade Cornell — ainda não está muito claro por quanto tempo esses filhotes permaneciam com suas mães. Embora o estudo mostre que essas aranhas fêmeas estavam protegendo suas bolsas de ovos e os recém-nascidos, pesquisas futuras devem investigar como era a relação das mães dessa espécie com filhotes maiores e mais velhos.
Uma questão que tem preocupado bastante Selden e outros pesquisadores que estudam fósseis em âmbar está relacionada ao processo de extração dessas amostras. Alguns paleontólogos estão pedindo mais prazo para a publicação de suas pesquisas sobre o âmbar de Mianmar extraído após 2017, devido às condições desumanas das minas. Além disso, descobriu-se que a venda do âmbar estaria financiando milícias locais, situação que piorou ainda mais após o golpe militar em 2021. As peças de âmbar usadas neste estudo fazem parte de uma coleção pré-existente na Capital Normal University na China e já tinham sido extraídas há mais de uma década. Os pesquisadores também têm procurado mais evidências de fósseis em museus e coleções particulares.
Este contratempo não deve interferir nas descobertas futuras, afirma Selden, já que, ainda existem milhares de espécimes disponíveis nas universidades. Pode-se dizer que estamos em uma situação, momentaneamente, confortável, pois há mais material do que pessoas disponíveis para estudá-los.
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Referências
GUO, Xiangbo; SELDEN, Paul A.; REN, Dong. Maternal care in Mid-Cretaceous lagonomegopid spiders. Proceedings of the Royal Society B, v. 288, n. 1959, p. 20211279, 2021. Disponível em: <link>. Acesso em: 6 out. 2021.
Notícias
Female Spiders’ Maternal Instincts Captured in 99-Million-Year-Old Amber. Smith Sonian Magazine, 2021. Disponível em: <link>. Acesso em: 6 out. 2021.
This is the oldest fossil evidence of spider moms taking care of their young. Science News, 2021. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 ago. 2021.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Encontrado o fóssil mais antigo de uma aranha tomando conta de seus filhotes. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, set. 2021. Disponível em: . Acesso em: .