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Droga derivada do fungo da lagarta do Himalaia produz ótimos resultados no combate ao câncer

O fungo da lagarta, também conhecido como Yarsagumba (Ophiocordyceps sinensis), é um tipo de fungo que cresce em insetos e costuma parasitar a larva da mariposa fantasma do Himalaia, matando e mumificando a mesma. Ele pode ser encontrado nas pastagens do planalto tibetano (a 3.500 m de altitude) sendo valorizado como poderoso remédio de ervas, muito comum na medicina tradicional da China. Este fungo ficou famoso por ser considerado afrodisíaco e ser utilizado por atletas chineses que buscam melhorar seu desempenho físico, embora as evidências científicas de sua eficácia ainda sejam escassas (SHRESTHA, 2010).

Droga derivada do fungo da lagarta do Himalaia produz ótimos resultados no combate ao câncer -

Imagem: L. Shyamal. Disponível em Wikimedia Comons.

Surgimento do Ophiocordyceps sinensis no solo do Nepal.
Imagem: Phurwa Dhondup em Wikimedia Commons

Em um trabalho científico recente, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Oxford em parceria com a empresa farmacêutica britânica NuCana, foi proposto um novo tratamento de quimioterapia para o câncer baseado na utilização desse fungo. Os resultados iniciais deste trabalho mostram que o fungo pode ser um potente agente anti-câncer e se tornar mais uma opção para pacientes em estágios avançados da doença (SCHWENZER, 2021).

A droga que está sendo desenvolvida foi batizada de NUC-7738 e tem como principal componente a cordicepina, também conhecida como 3-desoxiadenosina, um nucleosídeo natural, encontrada no fungo da lagarta, e conhecido por promover uma gama de efeitos anticâncer, antioxidante e anti-inflamatório. O NUC-7738 está em fase experimental, não estando, ainda, disponível como medicamento anti-câncer, embora os últimos ensaios clínicos tenham apresentado ótimos resultados.

O que motivou a síntese do NUC-7738 foi o fato da cordicepina natural extraída do fungo da lagarta ter algumas desvantagens. Inicialmente, ela é dissolvida muito rapidamente na corrente sanguínea — aproximadamente em 1,6 minutos no plasma — pela enzima adenosina desaminase, o que impede o organismo de absorvê-la corretamente. Além disso, a versão natural não é absorvida de forma eficiente pelas células, o que diminui ainda mais o potencial das moléculas anti-cancerígenas nas células tumorais do corpo.

Para ampliar o potencial da cordicepina como agente anti-câncer, o NUC-7738 faz uso de diversos avanços da engenharia, o que permite a ele entrar nas células independente dos transportadores nucleosídeos, como o transportador nucleosídeo de equilíbrio humano-1 (hENT1).

Diferente da versão natural da cordicepina, o NUC-7738 não depende do hENT1 para acessar as células, pois tem como vantagem já estar pré-ativado, o que dispensa a necessidade da enzima adenosine kinase. Além disso, ele é resistente a dissolução rápida na corrente sanguínea, pois possui proteção contra a adenosina desaminase.

No estudo de coorte realizado neste trabalho, o NUC-7738 mostrou que os seus aprimoramentos tornaram-no até 40 vezes mais eficiente do que a cordicepina natural quando testada contra uma variedade de células cancerosas em humanos.

Os resultados preliminares do primeiro ensaio clínico do NUC-7738 em humanos parecem ser promissores. A fase 1 do ensaio, que se iniciou em 2019 e ainda está em andamento, teve a participação de 28 pacientes voluntários com tumores avançados, resistentes a tratamentos convencionais.

De acordo com os pesquisadores que coordenam esse trabalho, as doses crescentes semanais de NUC-7738 dadas a esse grupo de pacientes voluntários têm sido bem toleradas, apresentando “sinais encorajadores de atividade antitumoral e estabilização prolongada da doença”. Para eles, esses resultados são uma evidência de que o NUC-7738 supera os mecanismos de resistência ao câncer que limitam a atividade da cordicepina natural. Este estudo dá ainda suporte a novos trabalhos futuros de avaliação clínica, que venham a consagrar o NUC-7738 como um novo tratamento contra o câncer.

Apesar dos resultados promissores, ainda vai levar um tempo até que o NUC-7738 esteja disponível para pacientes fora deste ensaio. Segundo a equipe, isso deverá ocorrer assim que a fase 2 do estudo for concluída, onde serão avaliadas todas as questões de segurança desse novo medicamento.

Vídeos

Este suplemento incrível - Cordyceps Sinensis -
O gastrocirurgião Dr. Juliano Tales fala sobre o Ophiocordyceps sinensis.
Vídeo: Canal “Dr. Juliano Talesl” em Youtube.
'Viagra do Himalaia': o fungo parasita 'afrodisíaco' mais caro que ouro
Algumas curiosidades sobre a extração do fundo da lagarta do Himalaia.
Vídeo: Canal “BBC News Brasil” em Youtube.

Referências

SCHWENZER, Hagen et al. The novel nucleoside analogue ProTide NUC-7738 overcomes cancer resistance mechanisms in vitro and in a first-in-human Phase 1 clinical trial. Clinical Cancer Research, 2021. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 out. 2021.

SHRESTHA, Bhushan et al. What is the Chinese caterpillar fungus Ophiocordyceps sinensis (Ophiocordycipitaceae)?. Mycology, v. 1, n. 4, p. 228-236, 2010.. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 out. 2021.

Notícias

Cancer Drug Derived From Himalayan ‘Caterpillar Fungus’ Smashes Early Clinical Trial. Science Alert, 2021. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 out. 2021.

Cite-nos

SANTOS, Gabriel. Droga derivada do fungo da lagarta do Himalaia produz ótimos resultados no combate ao câncer. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, set. 2021. Disponível em: . Acesso em: .


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.