Os Pictos são um povo misterioso da Escócia que lutou contra os romanos e criou seu próprio reino no norte da Grã-Bretanha, que durou até cerca de 900 d.C.
A falta de informações escritas e a escassez de restos humanos desse período deixaram muitas dúvidas sobre a cultura e a história dos Pictos.
No entanto, um estudo recente publicado na revista PLOS Genetics trouxe novas descobertas sobre a origem e a organização social desse povo (MOREZ, 2023).
O estudo foi conduzido por uma equipe internacional de pesquisadores que analisaram o DNA antigo de oito esqueletos de dois cemitérios pictos – sete em Lundin Links e um em Balintore, na Escócia moderna.
A equipe conseguiu extrair um genoma quase completo de um esqueleto de cada um dos dois cemitérios.
Segundo os pesquisadores, ambos os genomas, quando comparados com os de outros grupos antigos e modernos das Ilhas Britânicas, revelam uma afinidade genética próxima às populações da Idade do Ferro da Grã-Bretanha.
Isso significa que os Pictos não eram um grupo enigmático que migrou de terras distantes, como se pensava anteriormente.
Pelo contrário, eles tinham raízes locais e eram relacionados a outros povos da Idade do Ferro na Grã-Bretanha.
Essa descoberta sugere que a história dos Pictos pode ser mais complexa do que se imaginava e que a cultura e a identidade desse povo foram influenciadas por outros grupos que viveram na mesma região.
Uma das suposições mais populares sobre os Pictos era a de que eles organizavam sua sociedade em torno da linhagem feminina, pelo lado da mãe.
No entanto, o estudo genético contradiz essa ideia e sugere que os Pictos não tinham uma organização matriarcal.
“Nossos resultados fornecem evidências genéticas diretas contra a hipótese de que a sociedade Picta era organizada em torno da linhagem feminina”, afirmaram os pesquisadores no estudo.
Essa descoberta é importante porque desafia uma das crenças mais arraigadas sobre os Pictos e reforça a ideia de que a história desse povo ainda guarda muitos segredos.
Além disso, ela pode ajudar a entender melhor as relações sociais e políticas dos Pictos com outros grupos da época.
Outra descoberta interessante do estudo foi a de que os Pictos não eram um grupo homogêneo e que provavelmente sofreram influências de outros povos através de migrações e casamentos.
Os pesquisadores identificaram diferenças genéticas entre os dois cemitérios pictos e sugerem que isso pode ser resultado de eventos históricos diferentes que afetaram essas comunidades.
Embora o estudo traga importantes contribuições para o conhecimento sobre os Pictos, ainda há muitas perguntas sem resposta.
Por exemplo, a equipe não conseguiu determinar com precisão a data dos esqueletos e não sabe exatamente quando os indivíduos viveram.
Alguns críticos do estudo argumentam que a amostra de indivíduos (esqueletos) é pequena e pode não representar toda a diversidade genética dos Pictos.
Apesar disso, o estudo representa um avanço significativo na compreensão da história e da cultura desse povo misterioso da Escócia.
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Referências
GREIG, Colvin et al. Excavation of a cairn cemetery at Lundin Links, Fife, in 1965-6. In: Proceedings of the Society of Antiquaries of Scotland. 2002. p. 585-636. Disponível em: <link>. Acesso em: 30 abr 2023.
MOREZ, Adeline et al. Imputed genomes and haplotype-based analyses of the Picts of early medieval Scotland reveal fine-scale relatedness between Iron Age, early medieval and the modern people of the UK. bioRxiv, p. 2022.08. 01.502257, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 30 abr 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. DNA revela origem surpreendente do povo pintado que “parou” os romanos na Escócia. Ciência Mundo, abr 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.