O DNA ambiental é o material genético presente no ambiente, em lugares como solo, água, ar e outros substratos naturais, que pode ser coletado a partir de vestígios biológicos deixados por organismos, como saliva, fezes, pele ou cabelo.
A coleta e análise de dados genéticos a partir de amostras de DNA ambiental têm sido uma importante ferramenta para estudar e proteger animais em risco de extinção.
Contudo, pesquisas recentes mostram que essa nova tecnologia também pode ser utilizada para coletar DNA humano presente no ambiente, o que levanta diversas questões éticas e de privacidade.
Pesquisadores da Universidade da Flórida, que estavam estudando tartarugas marinhas em extinção, coletaram amostras de DNA ambiental presente na areia e encontraram não só o DNA das tartarugas, mas também DNA humano de alta qualidade (WHITMORE, 2023).
Foram encontrados diversos registros genéticos humanos que possibilitam identificar mutações associadas a doenças, determinar a ancestralidade genética de populações locais e até mesmo o monitoramento de saúde por meio do DNA encontrado na água.
Os pesquisadores ficaram preocupados, pois a coleta de DNA humano do ambiente pode trazer consequências não intencionais, como violações de privacidade, rastreamento de localização, coleta de dados e vigilância genética de indivíduos ou grupos.
Além disso, pode levantar questões éticas para a aprovação de estudos envolvendo animais em risco de extinção.
Um dos principais desafios éticos é o fato de não haver um consentimento formal, já que não é possível pedir permissão às pessoas cujo DNA foi coletado a partir do ambiente, pois não há como evitar que o DNA seja perdido na pele, cabelos e respiração.
Outra preocupação é a segurança dos dados coletados.
As informações genéticas ambientais podem ser acessadas por pessoas mal-intencionadas e usadas para fins ilegais, como a discriminação com base em características genéticas, ou a identificação de indivíduos em programas de proteção a testemunhas, ou refugiados políticos.
Para Matthias Wienroth, especialista em aspectos éticos e sociais da genética forense da Universidade de Northumbria, é importante desenvolver nas universidades uma mentalidade ética na pesquisa genética e genômica.
Por exemplo, os cientistas envolvidos no atual estudo levaram a sério os aspectos éticos de sua pesquisa e identificaram algumas questões-chave que podem surgir com seus resultados.
Para Wienroth, embora a coleta de DNA humano a partir de amostras ambientais tenha potencial para ser utilizada em diversos campos, como a busca por pessoas desaparecidas e investigações forenses, é preciso cautela na forma como esses dados são coletados, armazenados e compartilhados.
É necessário garantir a privacidade e segurança das informações genéticas coletadas, bem como respeitar os direitos dos indivíduos envolvidos.
Para alcançar um equilíbrio entre avanços científicos e proteção dos direitos individuais, é importante promover um debate político sobre as expectativas de privacidade no espaço público, especialmente no que diz respeito ao DNA.
A conscientização sobre as possíveis implicações éticas e de privacidade é essencial para o desenvolvimento de políticas e regulamentações adequadas que possam orientar a pesquisa científica.
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Referências
WHITMORE, Liam et al. Inadvertent human genomic bycatch and intentional capture raise beneficial applications and ethical concerns with environmental DNA. Nature Ecology & Evolution, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 16 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. DNA humano já pode ser coletado de qualquer lugar, até mesmo do ar, revelam os cientistas. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.