O Irritator challengeri é um dinossauro predador que faz parte da família Spinosauridae, conhecida por seus focinhos longos semelhantes aos de crocodilos.
Um estudo recente realizado por pesquisadores europeus levantou a hipótese de que o Irritator challengeri capturava suas presas estendendo sua mandíbula inferior, de forma semelhante a um pelicano (SCHADE, 2023).
Descrito pela primeira vez em 1996, o Irritator challengeri foi encontrado na Bacia do Araripe, no nordeste do Brasil.
Os fósseis foram posteriormente enviados para o Museu de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, onde estão atualmente em exposição.
No novo estudo, os pesquisadores utilizaram uma reconstrução digital do crânio do espécime para analisar suas características anatômicas.
A principal descoberta do estudo é que a mandíbula inferior do Irritator challengeri tinha a capacidade de se estender para os lados, ampliando a área da faringe, localizada atrás do nariz e da boca.
Essa característica é semelhante à forma como um pelicano abre seu bico inferior para capturar peixes.
Com base nisso, os pesquisadores sugerem que o Irritator challengeri provavelmente se alimentava de maneira semelhante, capturando presas rapidamente.
Além disso, a análise revelou que a posição dos olhos do Irritator challengeri indicava que ele inclinava naturalmente o focinho em um ângulo de 45 graus e possuía mordidas rápidas, porém fracas.
Essas características sugerem que o dinossauro era adaptado para capturar presas em águas rasas.
A controvérsia dos fósseis
Apesar de sua contribuição científica, esse trabalho também gerou polêmica devido à origem dos fósseis estudados, que foram, segundo alguns especialistas, retirados ilegalmente do Brasil.
Os fósseis foram descobertos por escavadores comerciais não científicos e vendidos ao museu alemão antes de restrições às exportações científicas do Brasil serem impostas.
Isso levanta questões sobre a posse legítima dos fósseis e a ética envolvida na pesquisa baseada em tais fósseis.
Enquanto os pesquisadores europeus argumentam que os fósseis pertencem legalmente ao Museu de Stuttgart, paleontólogos brasileiros e defensores dos direitos do patrimônio científico argumentam que eles devem ser devolvidos ao Brasil.
Alegam que esses fósseis são parte do patrimônio brasileiro e que sua exportação ilegal contribui para o colonialismo científico, onde recursos valiosos são explorados por países ricos em detrimento de nações mais pobres.
Essa não é a primeira vez que questões de posse ilegal de fósseis surgem no cenário paleontológico.
Outros casos semelhantes foram registrados, como o do dinossauro Ubirajara jubatus, cujos fósseis foram descobertos no Brasil e posteriormente vendidos para um museu alemão.
Nesse caso específico, o museu decidiu devolver os fósseis ao Brasil.
Nós do Ciência Mundo achamos que é necessário promover um amplo debate sobre o assunto, envolvendo cientistas e governos.
A colaboração internacional entre países ricos e em desenvolvimento, e a adoção de políticas claras e éticas são fundamentais para garantir que as futuras descobertas científicas sejam alcançadas de forma justa e respeitosa.
A paleontologia, como qualquer outro campo científico, deve buscar a equidade e a inclusão, reconhecendo a importância da participação e contribuição de cientistas de diferentes origens e culturas.
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Referências
SCHADE, M. et al The osteology of Irritator: A reapraisal of the cranial and madibular osteology of the spinosaurid Irritator challengeri. Palaeontologia Eletronica, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 26 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Dinossauro brasileiro comia como pelicano, mas descoberta gera discussão política. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.