Pular para o conteúdo

Deus de Spinoza

O que é o “Deus de Spinoza” e por que essa filosofia panteísta influenciou cientistas, como Albert Einstein, e pensadores até hoje?

Deus de Spinoza -

Imagem: Baruch Spinoza - Ciência Mundo

O conceito de Deus, ao longo da história, sempre foi alvo de intensos debates e reflexões. 

Uma das definições mais polêmicas foi apresentada por Baruch Spinoza, filósofo holandês do século XVII, em seu livro “Ética“. 

Segundo Spinoza, Deus e a natureza são uma coisa só, uma substância única, infinita e necessária, que abrange tudo o que existe no Universo. 

Ele considera esses dois termos como sinônimos, utilizando a expressão latina Deus sive Natura, que significa “Deus” ou “Natureza”.

Essa ideia de natureza divina – também conhecida como panteísmo – defende que tudo e todos fazem parte de um Deus abrangente, ou seja, o Universo e Deus são considerados como uma identidade única.

Essa abordagem contrasta fortemente com a visão antropomórfica e personalizada de Deus presente em muitas tradições religiosas.

Conatus

O termo conatus faz parte da ética e metafísica de Spinoza e sua compreensão é crucial para entender a relação entre Deus, natureza e os indivíduos.

Na filosofia de Spinoza, o conatus refere-se a força vital que impulsiona algo a agir de maneira a preservar e aumentar sua existência. 

Na Biologia, o conatus é o instinto inerente de vida presente nos organismos vivos.

Pode ser interpretado como o “desejo de viver” que impulsiona a luta pela sobrevivência e o esforço para persistir.

Na Física, este conceito muitas vezes é associado às teorias de preservação de movimento e inércia, mas atualmente é pouco utilizado.

Já em algumas perspectivas panteístas, o conatus é associado à vontade de Deus, que não é boa nem ruim, mas algo que está intrínseco à Natureza, e, dessa forma, acontece naturalmente — por exemplo, um leão que mata um antílope para se alimentar.

Einstein e o Deus de Spinoza

O famoso físico Albert Einstein, expressou em várias ocasiões suas reflexões sobre o conceito de Deus. 

Embora fosse frequentemente associado à imagem de um agnóstico, Einstein demonstrou uma afinidade notável com a visão de Spinoza. 

Em uma famosa carta a um jornalista do New York Times, em 1929, Einstein afirmou: “Eu acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se preocupa com o destino e as ações dos seres humanos”.

Essa perspectiva demonstra que Einstein abominava a manipulação religiosa, mas apreciava a ordem e simplicidade subjacentes ao Universo.

Ele se referia a Deus como uma força cósmica que se manifesta na beleza e na complexidade da natureza.

A influência de Deus nas reflexões de Einstein ficou evidente em sua famosa frase “Deus não joga dados com o Universo” — uma crítica a base da Mecânica Quântica, onde, ao nível atômico, todos os eventos do Universo ocorrem de maneira aleatória.

A conexão entre ambos os pensadores se aprofunda ao considerar a perspectiva de que a compreensão científica do Universo pode levar a uma apreciação mais profunda de sua “divindade”.

O famoso texto “Deus” foi escrito por Spinoza?

O texto “Deus”, frequentemente compartilhado em mensagens de fim de ano por grupos de WhatsApp, é comumente atribuído ao filósofo holandês Baruch Spinoza.

Conduto, de acordo com alguns pesquisadores que estudam o trabalho de Spinoza, esse texto dificilmente teria sido escrito pelo filósofo, pois o mesmo utilizava uma linguagem metafórica, incompatível com o texto mencionado.

Na verdade, a autoria desse texto pertence ao médium mexicano Francisco Javier Ángel Real, conhecido pelo pseudônimo de Anand Dílvar (ANGEL, 2010).

O texto intitulado “Deus” faz parte de seu livro “Conversaciones con mi Guía”, onde relata um suposto diálogo com uma entidade espiritual.

Veja, abaixo, o texto de Anand Dílvar na íntegra.

Para de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Para de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada,
terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Para de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido? Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti.

Comente…


Vídeos

o DEUS de SPINOZA, explicado
o DEUS de SPINOZA, explicado.
Vídeo: Canal “Tinocando TV” em Youtube.

Referências

ANGEL, F. et al. Conversaciones Con Mi Guia: …Mas Alla de el Esclavo. Estados Unidos, El Camino Rojo Ediciones, 2010.. Disponível em: <link>. Acesso em: 10 jan 2024.

GONÇALVES, Me Jonas Rdorigo. Para compreender Deus em Spinoza enquanto Natureza. Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros, v. 10, n. 38, p. 56-66, 2019. Disponível em: <link>. Acesso em: 10 jan 2024.

PONCZEK, Roberto Leon. Deus ou seja a natureza: Spinoza e os novos paradigmas da física. EDUFBA, 2009. Disponível em: <link>. Acesso em: 10 jan 2024.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Deus de Spinoza. Ciência Mundo, jan 2024. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.