O achado foi feito na antiga cidade de Athribis, na região central do Egito, onde os pesquisadores catalogaram mais de 18.000 pedaços de cerâmica com inscrições, algumas provavelmente feitas por estudantes.
O trabalho de classificação das peças foi realizado pela equipe do professor Christian Leitz – egiptólogo da Universidade de Tübingen, na Alemanha (LEITZ, 2022).
Esses cacos de cerâmica são conhecidos como óstracos, e eram obtidos de restos provenientes de jarros e vasos quebrados. Por serem mais acessíveis do que o papiro, eram utilizados diariamente para fazer listas de compras, anotações de negócios e ensinar alunos a ler e escrever.
A maior parte dos óstracos encontrados parecem pertencer a uma antiga escola. Segundo Leitz, há anotações de meses, problemas matemáticos, exercícios de gramática e uma espécie de “alfabeto de pássaros” onde cada letra representa a inicial do nome de uma ave.
Centenas de óstracos possuem anotações que parecem exercícios repetitivos de escrita, onde o mesmo símbolo aparece diversas vezes na frente e no verso da cerâmica. Leitz brinca ao dizer que o castigo de escrita repetitiva de “Bart Simpson” parece também ter sido aplicado em crianças desobedientes há dois mil anos.
Grande parte das anotações foi feita em demótico, língua usada em anotações administrativas durante o reinado do pai de Cleópatra, Ptolomeu XII, que governou de 81 a 59 a.C. e mais tarde de 55 a 51 a.C. Neste período, Athribis era a capital de um estado egípcio próximo ao Rio Nilo. Embora o demótico fosse a língua mais usada para escrita na época, uma versão simplificada de hieróglifos ainda era ensinada para as crianças.
Considerando as várias línguas identificadas nos óstracos de Athribis – como hieróglifos, grego, árabe e copta – conclui-se que esta era uma cidade muito frequentada por várias culturas. O copta é uma fusão do egípcio com o grego, que provavelmente chegou à cidade somente após o surgimento do cristianismo.
Com o surgimento da religião cristã, as escrituras sobre os antigos deuses egípcios começaram a cair em desuso. Em uma dessas raras anotações aparece uma ilustração de um babuíno e um íbis (ave semelhante a cegonha), que são animais sagrados de Thoth, o antigo deus egípcio da sabedoria.
A influência romana também pode ser percebida em várias anotações mais recentes, principalmente nas feitas após a queda da dinastia ptolomaica, que governou o Egito de 300 a 30 a.C.. A partir do Século I d.C., muitas anotações começam a referir-se a vários imperadores romanos como Nero, Vespasiano, Tito, Domiciano, indo até Adriano que governou entre 117 e 138 d.C.
O professor Leitz , que ficou empolgado com o achado, afirma que uma quantidade tão grande de óstracos só foi encontrada no início do século XX, quando arqueólogos descobriram vários fragmentos na antiga vila de Deir el-Medina. Contudo, essas eram apenas anotações sobre práticas médicas antigas. Os óstracos encontrados em Athribis, por sua vez, nos mostram um pouco do cotidiano do Egito antigo, e a decadência dessa que foi uma das civilizações mais poderosas do mundo.
Referências
LEITZ, Christian. More than 18,000 pot sherds document life in ancient Egyp. Universitat Tubingen, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 14 fev. 2022.
Notícias
Huge Discovery of 18,000 ‘Notepads’ Documents Daily Life in Ancient Egypt. Science Alert, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 ago. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Descobertos 18.000 “cadernos” que relatam o dia a dia de estudantes no Egito antigo. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, jan. 2022. Disponível em: . Acesso em: .